domingo, setembro 21

AINDA SOBRE CITAÇÕES ERRADAS NA INTERNET




            Volto ao tema porque recentemente vi no face o poema “Recomeçar” ou “Faxina da Alma” mais uma vez postado como obra de Carlos Drumond de Andrade.            O texto equivocado é postado assim:

RECOMEÇAR

Não importa onde você parou,
em que momento da vida você cansou,
o que importa é que sempre é possível
e necessário "Recomeçar".

Recomeçar é dar uma nova
chance a si mesmo.
É renovar as esperanças na vida
e o mais importante:
acreditar em você de novo.

Sofreu muito nesse período?
Foi aprendizado.

Chorou muito?
Foi limpeza da alma.

Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdoá-las um dia.

Sentiu-se só por diversas vezes?
É por que fechaste a porta até para os outros.

Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora.

Pois é!
Agora é hora de iniciar,
de pensar na luz,
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.

Que tal um novo emprego?
Uma nova profissão?
Um corte de cabelo arrojado, diferente?
Um novo curso,
ou aquele velho desejo de aprender a pintar,
desenhar,
dominar o computador,
ou qualquer outra coisa?

Olha quanto desafio.
Quanta coisa nova nesse mundão
de meu Deus te esperando.

Tá se sentindo sozinho?
Besteira!
Tem tanta gente que você afastou
com o seu "período de isolamento",
tem tanta gente esperando apenas um
sorriso teu para "chegar" perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza nem
nós mesmos nos suportamos.
Ficamos horríveis.
O mau humor vai comendo nosso fígado,
até a boca ficar amarga.

Recomeçar!
Hoje é um bom dia para começar
novos desafios.

Onde você quer chegar?
Ir alto.
Sonhe alto,
queira o melhor do melhor,
queira coisas boas para a vida.
pensamentos assim trazem para nós
aquilo que desejamos.

Se pensarmos pequeno,
coisas pequenas teremos.

Já se desejarmos fortemente o melhor
e principalmente lutarmos pelo melhor,
o melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da Faxina Mental.

Joga fora tudo que te prende ao passado,
ao mundinho de coisas tristes,
fotos,
peças de roupa,
papel de bala,
ingressos de cinema,
bilhetes de viagens,
e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados.
Jogue tudo fora.
Mas, principalmente,
esvazie seu coração.
Fique pronto para a vida,
para um novo amor.

Lembre-se somos apaixonáveis,
somos sempre capazes de amar
muitas e muitas vezes.
Afinal de contas,
nós somos o "Amor".

Porque sou do tamanho daquilo que vejo,
e não do tamanho da minha altura.

Carlos Drummond de Andrade

            Esse texto contém três equívocos. Primeiro, o poema original “Recomeçar” ou “Faxina da Alma” termina em  “nós somos o Amor”. Segundo, ele não é de Carlos Drummond de Andrade. Terceiro, “Porque sou do tamanho daquilo que vejo/ e não do tamanho da minha altura” é parte de um poema de Fernando Pessoa, acrescido indevidamente por mais um desavisado (ou não) internauta que fez o “favor” de assinar o poema acrescido como obra de Drummond.

            O falso poema de Drummond volta e meia ressurge na rede colocado por mais um incauto, empolgado com o conteúdo dele. Há mais de 5 anos, mais precisamente em 13 de fevereiro de 2009, o jornalista Maurício Stycer, repórter especial do IG, em extensa pesquisa “matou a pau” esse verdadeiro Festival de Besteira Que Assola O País, como diria o saudoso Stanislaw Ponte Preta.

            O verdadeiro autor de Faxina da Alma é Paulo Roberto Gaeke, programador que o publicou no site dele “Meu Anjo”, que bem humorado, esclarece que “Drummond deve revirar na tumba ao ver o meu texto com o nome dele”. Gaeke é autor de dois livros de poemas, publicados por conta própria no site que mantém desde abril de 2000. Até 2002,  Gaeke assinava  suas mensagens apenas com um bordão – “eu acredito em você” – e o seu primeiro nome, Paulo. “Daí virou uma festa”, ele conta. “Cada um repassava acrescentando um ponto e diversas mensagens minhas (mais de 2 mil) estão por ai sem a devida paternidade… como ‘Revolução da Alma’, que atribuem a Aristóteles (sic), ‘Paciência’, atribuída ao Jabor, e a clássica ‘Recomeçar’ (que também é conhecida por ‘Faxina na Alma’)”.

Acrescenta que em algum momento no ano de 2003, alguém acrescentou ao texto dele os versos “Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura” e assinou “Carlos Drummond de Andrade”. Tal citação foi entendida como se o texto inteiro fosse de Drummond, e se espalhou como praga pela Internet. Mas, lembra o verdadeiro autor do texto, esses versos não são do poeta mineiro, mas de Fernando Pessoa e estão em “O Guardador de Rebanhos”. “Quando eu pesquisei no Google a primeira vez, tomei um susto”, diz Gaefke, “esse texto estava em mais de 50 mil sites com autoria de Drummond. E para provar que era meu foi uma briga…”.

Realmente. Em pesquisa na Internet verificam-se diversas mensagens de Gaefke, em blogs e sites que publicaram o texto dele como de Drummond, chamando atenção para o equívoco quanto à autoria do Faxina da Alma.

            Segue adiante o poema completo de Fernando Pessoa, por meio de um de seus  heterônimos, Alberto Caeiro, que foi parcialmente acrescido ao texto de Gaefke e assinado como de Carlos Drummond de Andrade, com a parte acrescida em destaque.
“VII – Da Minha Aldeia
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura…

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe 
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos 
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”


segunda-feira, setembro 15

NÃO FAÇA DA INTERNET UMA “ARMA”. A VÍTIMA PODE SER VOCÊ.




          O alerta pra não se levar a sério tudo o que está na rede mundial não surpreende quem já “sacou” que a Internet é uma fonte secundária de informações, ou seja, alguém postou “nas nuvens” este ou aquele dado pretensamente verdadeiro, mas que nem sempre corresponde à realidade. A comodidade proporcionada pelo Dr. Google induz a erros que se agravam com a repercussão que fazemos da informação inverídica. É sempre aconselhável checarmos a veracidade do que vemos ou lemos na rede. Dá trabalho? É claro que dá.

          Nem me refiro à Wikipedia, que por sua natureza interativa, em que o usuário pode lançar ou acrescentar informações àquela enciclopédia virtual, é a fonte menos confiável da Internet.

          Cuidado redobrado com as citações é necessário. Estas são as campeãs de atribuição de autoria equivocada. Também ocorre com frequência publicação de textos que existem de verdade com atribuição de autoria diferente da verdadeira e ainda, textos de qualidade discutível escritos por pessoas que maliciosamente os atribuem a autores consagrados. Luiz Fernando Veríssimo e Arnaldo Jabour são exemplos de figuras públicas que já foram vítima desses “equívocos”. O efeito viral das postagens em rede potencializa o erro. Até o pretenso autor comprovar não ser dele o texto, o estrago já está feito.

          Certa feita a Lei de Murph, “se algo de errado pode acontecer, prepare-se porque vai acontecer” funcionou ironicamente a meu favor. Uma pessoa bem informada e “lida” me passou aquela citação “De tudo na vida ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...Portanto, devemos: Fazer da interrupção um caminho novo. Da queda um paço de dança... Do medo uma escada... Do sonho uma ponte...”, como se fosse de Fernando Pessoa. Gostei do conteúdo e guardei o texto.

          Mais adiante, vislumbrei a oportunidade de utilizar a citação. Inseri-a no fecho de um discurso que eu faria num evento em que a citação “cairia como uma luva”. Só que na última hora fui informado pelo cerimonial de que apenas a autoridade maior usaria da palavra. A essa altura, eu já tinha pesquisado na Internet, onde a frase veio sob forma de poema, com foto estilizada do Fernando pessoa, com óculos, guardachuva e tudo mais. Ante a informação do cerimonial, senti-me vítima da Lei de Murph. Havia pesquisado, preparado o discurso, mas por desconhecimento de regras, meu investimento de tempo foi pra lixeira. 
     
          Depois disso, participei de um treinamento que se encerrou com aquela frase, mencionando-se como autor Fernando Sabino. Fiquei “encucado” e discretamente questionei uma das consultoras quanto à “verdadeira” autoria. Ela me afirmou categoricamente ser de Fernando Sabino, mineiro que nem ela, na obra “Encontro Marcado”. Dada a convicção dela, mudei minha opinião sobre a autoria da sentença e passei a ficar com “um pé atrás” com as informações do Dr. Google, que na realidade é um sujeito passivo. Ele aceita passivamente a “aplicação" de qualquer um.

          Só que eu continuei perseguido por aquela frase. Eu já estava tranquilo com a certeza da autoria do Fernando Sabino, quando passados alguns meses ouvi de conhecida autoridade paraense, em seu discurso de despedida do cargo que ocupava, aquela frase com a sonoridade que lhe é peculiar e, “catapimba!”, lá o “indigitado”, visivelmente emocionado, atribuiu a autoria da citação a Fernando Pessoa. Aí minha cabeça “deu um nó”. Afinal de contas, o homem é culto. Acendeu-se então em mim o espírito de auditor, cargo que eu ocupava à época, em relação àquela citação. Pensei, agora só sossego quando tiver a comprovação da veracidade. O pior, não lembrava o título do livro que a consultora mencionara. Assim, passei a questionar as pessoas que eu considerava autorizadas a dirimir minha dúvida. Foram professores de literatura, mestres, doutores, até um reitor. Mas ninguém me respondia com segurança. A mim não interessava somente que alguém “matasse a cobra e mostrasse o pau”. Eu queria ver a cobra morta e segura pelo rabo.

Quem me tirou da aflição foi a professora, doutora em Fernando Pessoa, Amarilis Tupiassu. Colocada a par da minha questão, poucas horas depois me ligou informando que realmente a frase não é do Fernando Pessoa, mas do Fernando Sabino, na obra “Encontro Marcado”. Comentou comigo o momento em que a frase é escrita no romance, as circunstâncias em que os personagens se encontravam e por último, mencionou o número da página do livro.

Mais uma vez obrigado, professora Amarilis. Eu que nunca fui seu aluno, mas sei de sua competência, me tornei mais ainda seu admirador incondicional. Tanto assim que depois, submeti à sua apreciação as crônicas que então eu vinha escrevendo e foram inseridas no livro “Causos Amazônicos”, que na primeira edição foi chancelado com a sua opinião, juntamente com as do professor Oswaldo Coimbra e “in memoriam” do professor Meirevaldo Paiva.

Definitivamente esclarecida a dúvida quanto à autoria da citação, agradeci penhoradamente a Deus por eu ter sido poupado de falar naquele evento. Eu também, ia ler com toda ênfase a bela e profunda frase e atribuir a autoria a Fernando Pessoa, como eu julgava ser à época. Com a certificação do Dr. Google.


          

terça-feira, setembro 2

ADIADO O 100 MIL POETAS & MÚSICOS POR MUDANÇAS. EVENTO DA AMAZÔNIA/2014


       


      O evento da Amazônia do “100 Mil Poetas & Músicos Por Mudanças/2014” programado para o dia 27 deste mês de setembro, no Anfiteatro São Pedro Nolasco, da Estação das Docas, foi adiado. Por ser um evento que se realiza em todo o mundo no último sábado de setembro de cada ano, toda a programação deverá se realizar no dia 26 de setembro de 2015, com a mesma semântica “Belém, porto-poema da Amazônia”, os mesmos objetivos- oportunizar espaço aos músicos e poetas sem acesso às pautas dos poucos espaços culturais de Belém,  proporcionar ao grande público oportunidade de assistir apresentações de obras de interesse social e concorrer para que Belém seja reconhecida como Capital Amazônica da Poesia. Fica mantida para 2015, a homenagem ao violonista e pesquisador Salomão Habib por sua pesquisa acerca da obra de Tó Teixeira, sendo  o conteúdo do evento gravado em DVD e editado em livro, para distribuição às videotecas, bibliotecas, escolas, universidades e a receita das vendas ao público destinada à entidades de interesse social como o Paravida, a AVAO, dentre outras.

A necessidade de espaço fechado e com acústica para a homenagem a Habib, inclusive com a apresentação do pianista Edu Toledo, que compôs especialmente para essa homenagem a música “Belém, porto-poema da Amazônia, terra de Tó e Habib” foi decisiva para o adiamento. Até porque a chuva que cai todos os anos durante o evento poderia prejudicar de forma irreversível a programação. Buscamos por espaço com as características adequadas, mas todas as alternativas estão comprometidas no dia 27.

Ante essa realidade e por já estar a programação toda estruturada, afastou-se a ideia de fazer-se um evento “meia boca” apenas para cumprir tabela. E sendo o 100 Mil Poetas uma ação voluntária de cidadania, não institucional, nada impede o adiamento da realização para o próximo ano. Nesse meio tempo vamos inserir o evento nas Leis de Incentivo Fiscal a fim de participar dos Editais de patrocínio, captar recursos e realizar um evento de qualidade, em espaço adequado.

Registramos aqui nossos agradecimentos aos nossos apoiadores dos anos anteriores, Fundação Pará 2000, Sol Informática, Bureau de Mídia e TV RBA, e também, aos que apóiam por acreditarem na iniciativa e pedem discrição quanto à divulgação de seu nome. Também agradecemos à Cromaki Comunicação Total e à Poligraph Soluções de Impressão, na pessoa de seu diretor, o publicitário/empresário Nailson Guimarães, pelo incentivo e apoio que nos emprestou este ano. Todos com certeza, estarão conosco nos próximos anos.

Agradecemos também à equipe técnica que nos assessora e nos incentiva com suas opiniões e seu trabalho, Paulo Assunção, produtor musical, Hudson Andrade, produtor teatral, Rosenaldo Sanches, empresário/sonorização de eventos. Agradecemos também à poeta Ducarmo Souza que já fez a poesia com a semântica “Belém, porto-poema da Amazônia”, que permanecerá inédita até o próximo ano.  

Comissão Organizadora:
Rita Melém
Benny Franklin
Daniel da Rocha Leite
Octavio Pessoa