Com o livro texto da peça, ao lado de Ana Cecília Mamede, Celeste e Mônica Montone, da esquerda para a direita |
Na minha recente estada no Rio de
Janeiro, fui a algumas a peças de teatro. Uma delas, “Sexo, Champanhe e Tchau”,
de Mônica Montone, despertou minha atenção, particularmente pela forma
inovadora e inteligente de se tratar um assunto recorrente em peças teatrais, as
crises das mulheres em busca da emancipação pessoal e profissional.
Sem cair no questionamento piegas dos
relacionamentos afetivos, Mônica, que é psicóloga, desenvolve seu texto numa
linguagem poética e bem humorada. Na singeleza do cenário, utilizando-se
competentemente da comunicação verbal e gestual, são evidenciadas as obsessões causadas
pelos vínculos que não se resolvem, as dificuldades subjetivas da mulher em
busca da afirmação, a luta pela adaptação às responsabilidades da vida adulta,
o medo do fracasso ante os desafios impostos pela sociedade.
É sutil o nome da personagem encarnada
por Mônica na peça, Ela, que contracena com Jezebel, uma escritora emocionalmente
imatura, que dá conselhos ao público no programa de que participa e nunca consegue
concluir o livro que pretende escrever. A personagem Jezebel é desenvolvida com
muita propriedade por Ana Cecília Mamede. A personagem Ela seria, na verdade, o
inconsciente de Jezebel? O fato é que Jezebel é provocada, por Ela, a “cair na
real”. E, no final da peça, uma virada interessantíssima na personagem Ela. Ela
seria ela mesma?
“Sexo, Champanhe e Tchau” é uma
produção de poucos recursos cênicos. No palco, apenas bolotas de papel
espalhadas pelo chão e duas cadeiras que assumem diversas funções, ao longo da peça.
A trilha sonora é precisa e magistral a direção de Juliana Betti.
Assim, “Sexo, Champanhe e Tchau” não é
uma história de amor, como enfatiza Mônica Montone, dizendo que, se fosse, “não
teria virado peça e os personagens estariam juntos... ou não”.
Mônica
é a autora do texto “Ser ou não ser de ninguém, eis a
questão da geração tribalista”, em que criticou o hábito de sua geração de
beijar qualquer pessoa, em baladas, e que circulou na Internet, como se fosse do Arnaldo Jabor.
Nascida em Campinas/SP, mas radicada
no Rio de Janeiro, Mônica participou e ainda frequenta diversos recitais de
poesia na capital carioca. No seu poema “Tenho Pena”, afirmou “ter pena das
mulheres que não gozam” e chocou algumas pessoas ao declarar não querer ter
filho, na sua crônica “Filho É Para
Quem Pode”, publicada na Revista do Globo, o que a levou a falar sobre o
tema, nos programas Sem Censura, Fantástico e Happy Hour.
“Mulher de Minutos”, Ibis Libris, 2003, primeiro livro de Mônica, foi elogiado por Ivan Junqueira, então presidente
da Academia Brasileira de Letras, por Affonso Romano de Sant’Anna e Marco
Luchesi, dentre outros. Seus poemas fazem parte de diversas antologias poéticas e seu blog, Fina Flor, dedicado exclusivamente à literatura, é um dos mais visitados
da Internet.
Com “Sexo, Champanhe e Tchau”, Mônica
estréia como dramaturga. Antes mesmo da montagem, o texto da peça já participava
de ciclos de leituras dramatizadas, como os realizados nas unidades do SESC do Rio
e do Festival Satyrianas de São Paulo. A obra sempre gerou entusiasmo das plateias,
formada em grande parte por jovens, levando a Editora Oito e Meio a publicar livro
com o texto da peça. No fim de março passado, encerrou-se a temporada vitoriosa,
no SESC Casa da Gávea, do Rio. Por ora, o elenco “dá um tempo”, merecido
diga-se, ante o sucesso de público e de crítica, preparando-se para percorrer
outros palcos, pelo Brasil a fora.
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