O outono da vida permite mais isenção para se avaliar o que foi bom ter sido feito, se gostou de fazer e, se fosse
possível, se faria novamente, talvez até melhor. E também, o que não foi
legal e, com certeza, não se faria de novo. Sensação que se acentua às proximidades
do Natal e da virada do ano. O que aconteceu neste ano de tão bom que adoraríamos
se acontecesse de novo? O que faríamos melhor? O que não foi legal e desejamos que não ocorra no próximo ano? Enfim, como gostaríamos que fossem os novos 365 dias
que nos batem à porta? Aí vem a pergunta crucial: o que estamos fazendo ou
nos comprometendo a fazer, para que os desejos se tornem realidade?
Encontros, desencontros e
reencontros são matéria muito frequente nessas reflexões, que alguns chamam de
“balanços existenciais”.
Um reencontro foi
extremamente gratificante pra mim, nos últimos meses deste ano. E o mais
interessante, não foi um reencontro presencial, mas um reencontro
virtual, desses proporcionados pelo avanço tecnológico dos dias em que vivemos
e que nos deixam felizes quando acontecem. Felicidade maior só quando a gente se reencontra
pra valer, pessoalmente, “ao vivo e a cores”.
Mário Paulain |
Assim foi meu reencontro
virtual com o meu primo Mário. Mário
José das Chagas Paulain. Esse é o nome completo dele. Filho do tio Militão
Paulain, irmão de minha mãe, Yolanda Paulain Ferreira. Esse sobrenome, Paulain,
decorre de nossa ascendência francesa, em função de nosso bisavô materno, Milliton
Paulain. Não o carrego porque meu pai, Octacílio José, achou por bem colocar
nos seus filhos homens, seus dois
sobrenomes: Pessoa Ferreira. Pra complicar mais, adotei o nome político e depois, literário Octavio Pessoa.
Mário e eu fomos colegas de
Primário, no Grupo Escolar Araújo Filho e de Ginásio, no Colégio Nossa Senhora
do Carmo, da então Prelazia de Parintins/AM. Brincamos juntos e juntos curtimos
nossa adolescência e início da juventude, numa bucólica cidade da margem
direita do rio Amazonas, conhecida mundialmente por seu Festival Folclórico,
realizado no último fim de semana de junho, quando se enfrentam os bois bumbás
Caprichoso e Garantido.
Tempos felizes aqueles em que, com outros colegas
como o Gláucio Vieira da Silva, o Zé Sérgio e o Neneca vivenciamos intensamente
as experiências que a vida interiorana proporciona.
Uma “parada” inesquecível foi quando resolvemos apreciar
do ponto mais alto da cidade, a torre da Igreja
do Sagrado Coração de Jesus, a passagem das volumosas águas do rio
Amazonas. Pelo menos, esse foi o pretexto que usamos em nossa defesa. Chegamos
ao coro da Igreja, escalamos a “casa dos sinos” e alcançamos a cúpula, nossa
meta. Quando festejávamos a vitória, eis que surge na praça da Igreja, em sua
potente moto, o padre Sílvio Miotto. Enfurecido,
retira a escada singela que dava acesso à “casa dos sinos” e nos deixa presos
na torre da Igreja. Nossa descida só foi permitida, após chegarem todos os pais
ou responsáveis e após aquela “mijada” do pároco, com seu sotaque calabrês. O
circo já estava armado. Foi uma comoção nos arredores da Igreja, com muita
gente reunida pra apreciar a curuminzada receber a punição. Soubemos depois que
uma “barata de sacristia” foi responsável pela deduração.
Capela do Sagrado Coração de Jesus e Colégio do Carmo |
Coisas da juventude. A necessidade de se desafiar
para se afirmar. É opinião generalizada dos que passaram por aquele Colégio, que
a formação que ali tivemos foi
definitiva para sermos quem hoje somos. Ali absorvemos os valores que até hoje cultivamos,
graças às orientações que recebemos numa instituição religiosa de ensino em que prevalecia o estudo de Humanidades.
Findo o curso ginasial, Mário
e eu seguimos rumos diferentes. Ele foi pra Manaus e eu vim pra Belém. Ele fez
carreira na então Empresa Brasileira de Telecomunicações/Embratel. Idealista,
uma característica que nos é comum, ele também foi militante político. O Mário chegou a candidatar-se
e foi eleito prefeito do município amazonense
de Nhamundá, situado à margem do rio de mesmo nome, que separa o estado do
Amazonas, do estado do Pará. Região belíssima que tem do lado paraense as
cidades de Faro e Terra Santa, com suas belas praias e natureza exuberante,
origem dos nossos pais.
Hoje, afastado da política, Mário também já é “dono do próprio tempo” e vive em
Manaus.
Por todo o período que tocávamos cada um a sua
vida, tivemos rápidos encontros. Uma vez aqui em Belém, numa vinda do Mário à
capital paraense. Outra vez, em Manaus, em reunião com primos, primas e amigos,
quando degustamos os mais diversos tipos de peixe, inclusive tambaqui assado na
brasa, no Parintina, restaurante então explorado pela prima Eliete, irmã do
Mário.
Um dia desses, tive a grata
satisfação de aceitar o pedido de amizade do Mário no Facebook e, desde então, a
gente vem cultivando nossa amizade virtual. Numa das vezes, estimulei o Mário a
também escrever “causos”, que ele deve ter aos montes. Compartilhei com ele um
edital do Ministério da Cultura, voltado para pessoas de cidades com menos de
100 mil habitantes escreverem suas histórias e estórias. Ele está no páreo.
Ontem, tive a grata
satisfação de conhecer também o lado poético do Mário. Vejam a poesia que ele
fez sobre o Natal:
Então é Natal!!
Mário Paulain
Que as tuas vozes nos vertam águas bentas
Para a fecundação precoce do nosso imprescindível amor ao próximo.
Que teus olhares possam penetrar em todos os espíritos
E nos façam um mar de ternura, de bondade e de generosidade.
Que teus gestos semeiem em nós a fé e a esperança,
Mercê da grandeza cristã de todos que te festejam.
Que tuas luzes possam impregnar-nos de perseverança e de sabedoria
Para avançarmos firmes em nossas vicissitudes.
E que a grandiosidade da tua paz nos faça pessoas dóceis, amigas e leais, as quais desprezem veementemente o ódio, a inveja e o rancor!
Que teu conjunto festivo de tua celebração
marque indelevelmente o amor em nosso coração e em nossa alma.
E que este dia 25, que simboliza o nascimento de Jesus Cristo,
seja todos os dias do ano vindouro
Para cultivarmos sempre
a fraternidade e para celebrarmos obstinadamente o amor e a paz
Para a sublime consecução de nossa vida.
Viva o amor! Viva a paz! Viva a vida!
Feliz Natal !
De coração !!!!!!
Para a fecundação precoce do nosso imprescindível amor ao próximo.
Que teus olhares possam penetrar em todos os espíritos
E nos façam um mar de ternura, de bondade e de generosidade.
Que teus gestos semeiem em nós a fé e a esperança,
Mercê da grandeza cristã de todos que te festejam.
Que tuas luzes possam impregnar-nos de perseverança e de sabedoria
Para avançarmos firmes em nossas vicissitudes.
E que a grandiosidade da tua paz nos faça pessoas dóceis, amigas e leais, as quais desprezem veementemente o ódio, a inveja e o rancor!
Que teu conjunto festivo de tua celebração
marque indelevelmente o amor em nosso coração e em nossa alma.
E que este dia 25, que simboliza o nascimento de Jesus Cristo,
seja todos os dias do ano vindouro
Para cultivarmos sempre
a fraternidade e para celebrarmos obstinadamente o amor e a paz
Para a sublime consecução de nossa vida.
Viva o amor! Viva a paz! Viva a vida!
Feliz Natal !
De coração !!!!!!
Mário, tá decidido, para o ano a gente se encontra em Manaus, Parintins e arredores, pra matarmos a saudade, curtirmos a delícias do Baixo Amazonas e assistirmos novamente ao mais lindo por do sol do mundo.
Por do sol de Parintins-AM. |
Lindo, lindo, Octavio. Memória-mundo. Ternura sempre. Abraços. Daniel Leite
ResponderExcluirObrigado, irmão Daniel. Suas palavras são sempre um incentivo. Feliz Natal e Bom Ano Novo!
ExcluirComo sempre superando as expectativas. O teor e o texto escrito à seu modo peculiar, são de prima qualidade. Para reflexão. BOAS FESTAS, Octavio!
ResponderExcluirBenny, amigo e companheiro, obrigado por estarmos sempre juntos. Feliz Natal e Bom Ano Novo!
ExcluirOtávio, os reencontros são tão gratificantes, imagine com primos que viveram a nossa história de perto. Como eu dizia em outros tempos[É SUPER LEGAL!!! ]. Espero que a gente tenha sempre em meta os belos argumentos de tua mensagem de final de ano e que nossos encontros ultrapassassem de forma significativa também o campo virtual com poesias e noites enluaradas, pelo menos nos próximos 100 anos ! Um Bom Natal pra você e sua família. Abraços, Rosa e Watrin.
ResponderExcluirAmiga Rosa Watrin, obrigado pelo incentivo e vamos sim nos encontrar ao vivo e a cores, em saraus e onde a poesia e a literatura forem prestigiadas. Felicidade no Natal, no Ano Novo e sempre!
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