“A Jardineira”,
marchinha tão tocada e cantada nos bailes de momo, pode ser considerada o
primeiro hino da Força Aérea Brasileira.
É verdade. Os
membros do 1º. Grupo de Aviação e Caça, embrião da então nascente FAB, após
passarem por treinamentos em Orlando e no Panamá, foram receber na base aérea de Suffolk, estado de New York,
os treinamentos finais nos lendários aviões Republic P-47D Thunderbolds, para atuarem
no teatro da 2ª. Guerra Mundial.
Eles chegaram a New
York em 1943, no Dia da Independência norte-americana, 4 de julho, e se
depararam com um desafio que a capacidade de improviso do brasileiro “tirou de
letra” . Na cerimônia de formatura e desfile de boas-vindas, a tropa americana
cantou o hino de sua Força Aérea. Momentos antes do desfile brasileiro, como
ainda não havia um hino da embrionária FAB, o chefe do destacamento, capitão
Marcílio Gibson, ordenou que a tropa cantasse “A Jardineira”, conhecida por
todos na voz de Orlando Silva. Assim, a velha marchinha carnavalesca, composta por
Benedito Lacerda e Humberto Porto, sucesso no carnaval de 1938, foi entoada com toda força, pelos
aviadores e serviu como hino informal daquele batalhão. Ao fim da cerimônia os bravos soldados brasileiros foram
cumprimentados pela excelência de seu hino.
Fico imaginando um
pelotão militar cantando, num "dó de peito", em uníssono:
Oh jardineira, por que estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?
Mas o que foi que te aconteceu?
Foi a camélia que caiu do galho, deu dois
suspiros e depois morreu
Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e
depois morreu
Vem jardineira, vem, meu amor!
Não fique triste que este mundo é todo seu.
Você é muito mais bonita que a camélia que morreu
Não fique triste que este mundo é todo seu.
Você é muito mais bonita que a camélia que morreu
Esse fato pitoresco
é registrado pelo músico e escritor João Barone, em seu excelente livro, “1942
– O Brasil e Sua Guerra Quase Desconhecida”. Nele registra não só aspectos pitorescos que nem
esse, mas resgata com competência e profundidade a histórica participação da
Força Expedicionária Brasileira, os Pracinhas brasileiros, convocados para a 2ª.
Guerra Mundial. Contextualiza muito bem o período histórico mundial e brasileiro,
as circunstâncias em que se deu a adesão do Brasil às forças aliadas, a
vacilação de Vargas ante as forças germanófilas presentes nas forças armadas e
no quadro político e econômico
brasileiro e a identificação do presidente
com as ditaduras nazifascistas.
Barone, filho de Pracinha que esteve no cenário de guerra, descreve como eles foram arregimentados, as condições adversas em que lutaram, seus atos heroicos, e a frustração de quem foi à guerra lutar pela
liberdade e pela democracia, e no retorno é recebido por um regime que permanecia ditatorial, cujo primeiro ato oficial em relação à tropa, foi decretar a extinção da Força Expedicionária Brasileira, quando ela ainda se encontrava em solo
europeu.
A obra é
rica em detalhes, como os equipamentos utilizados pelos Pracinhas na guerra, os combates, os nomes brasileiros que atuaram em campos opostos, assim como as cenas de
afundamento de navios mercantes brasileiros, que foi o estopim para a entrada do
Brasil na guerra, chegando ao requinte de relacionar todos os navios afundados, sua tripulação e outros
dados interessantíssimos.
Ao final, uma
advertência para nossa histórica ignorância acerca da nossa História. Ressalta que em matéria de
lembrar e valorizar a Força Expedicionária Brasileira, os italianos dão uma verdadeira lição em nós brasileiros que mal
sabemos o que aconteceu durante o conflito, de como os verdadeiros heróis deveriam ser cultuados. Quase setenta anos depois do final
da guerra, em discursos de autoridades italianas, ouvidos por Barone e um grupo de
interessados pela da História da 2a. Guerra Mundial, a expressão mais usada foi “non dimenticare”, que significa “não esquecer”.
Vale a pena ler essa
obra de João Barone editada pela Nova Fronteira no ano passado, pra
entendermos o descaso com que os heróis expedicionários foram tratados pelas autoridades brasileiras e serve
de ponto de reflexão para entendermos outros fatos da nossa História, inclusive os que ocorrem nos dias atuais. O livro é também encontrado em e-book, na Amazon.com.
Vem, Octavio Pessoa, vem, meu amor!
ResponderExcluirNão fique triste que este espaço é todo seu.
Você é muito criativo e a história aconteceu.
Prezado companheiro,
ResponderExcluirEsse relato em muito contribuiu para desvendar minhas motivações para ser piloto da FAB.
Nascido em novembro de 1940, passei a minha infância ouvindo minha mãe cantar esta modinha momesca. Somente agora fiquei sabendo seu recôndito desejo de que eu me tornasse Oficial Aviador da FAB!