Copa do Mundo. Encontro de povos, de
gente de diversas culturas. Rara oportunidade de convivência entre diferentes e
de se exercitar a visão não etnocêntrica, essa tendência humana de se considerar
as normas e valores da própria sociedade ou cultura como critério de avaliação
das demais. E de se compreender que não existe cultura boa ou ruim, mas que há
culturas com costumes e valores diferentes. Um momento pra se refletir sobre o nosso jeito de ser.
Foi o que se deu depois do jogo de
estreia da seleção japonesa. Os nipônicos limpando todo o estádio ao final do
jogo, não foi nenhuma lição de “caso pensado”, sim o exercício de uma prática
natural entre pessoas daquele povo que habita uma ilha onde um terço apenas do
território é arável, portanto habitável e que é frequentemente sacudida por terremotos,
tsunamis e outros abalos sísmicos e ainda, sofreu os efeitos de duas bombas
atômicas na II Guerra Mundial e teve sua economia fortemente abalada nas
últimas décadas do século passado. Situações adversas que levaram o povo a relevar
o bem-estar coletivo em detrimento do individual. Especialmente após a segunda
grande guerra, quando precisaram reconstruir o país, sendo esses valores
transmitidos de geração à geração, o que leva cada japonês a guardar no bolso o
lixo eventualmente produzido fora de casa e a colocá-lo no recipiente próprio
quando chega em sua residência.
O
exemplo nos coloca de encontro à nossa triste realidade. Vivemos num país de
dimensões continentais, potencialmente rico, pouco atingido por intempéries de
grandes proporções, o que talvez explique nosso “estar à vontade” nosso individualismo,
nossa deseducação em que, por exemplo, cidadãos ditos “de bem”, madames,
“patricinhas” e “mauricinhos” levam sem nenhum constrangimento seus cachorros
para fazer cocô na via pública, pra ficar apenas num exemplo comum e sintomático.
De
repente me alonguei no que pretendia ser apenas um parágrafo introdutório. O
que quero compartilhar com você, caro leitor, é um encontro singular de
pessoas, de gente, todavia tendo o mesmo mote da introdução: Copa do Mundo e
encontro de gente. O fato se deu na fila do caixa de um supermercado, quando
providenciava minha colaboração para os “comes e bebes” durante o jogo de
estreia da seleção brasileira na casa de um amigo.
Encontrava-me
no “rabo” de uma das filas de caixa, quando chegou um senhor de idade e
pediu-me para “guardar o seu lugar”, informando a quem chegasse depois, enquanto
ele estivesse ausente. Falou-me ainda que a esposa dele estava fazendo as compras,
por sinal também pra levar pra casa de um amigo, onde iriam assistir ao jogo.
Acrescentou que ele estava “cuíra” pra tomar um café e por isso iria ausentar-se
por alguns instantes. Perguntou-me se eu também gostaria de tomar um cafezinho.
Agradeci a gentileza e assumi o compromisso de guardar o lugar dele.
Na
sua volta, quando a fila já crescera exponencialmente, prosseguimos aquele
gostoso diálogo. Logo percebemos sermos meio xarás. Ele Luiz Octavio e eu Octavio
José. A partir dessa identificação, o “papo” fluiu como dois velhos conhecidos.
Tanto quanto eu, ele é aposentado, no caso dele, da UFPA, onde foi professor do
Departamento de Engenharia Mecânica. Mas o que mais me chamou atenção foi a
afirmação dele de que nunca ao longo de sua vida profissional fez tantas coisas
como faz agora e se sente tão útil. Isso acentuou nossa identificação, porque é
assim que eu me sinto, depois de 35 anos de serviço público.
A
conversa fluía tão intensamente que parecia não estarmos ali no meio daquele
tumulto. Daí a pouco chegou a esposa dele com uma quantidade significativa de
produtos nas duas mãos. Não usava um carrinho. Não tive dúvida de sugerir o compartilhamento
do carrinho que eu ocupava, pra que ela também acomodasse suas compras. Notei a
forma como ele me olhou diante do meu gesto espontâneo. Havia um misto de
surpresa, agradecimento e emoção.
Conversamos
até o momento de eu passar minhas compras. Pra mim e com certeza pra ele foi
como se o tempo não houvesse passado. Na verdade foi curto para tanto aprendizado
recíproco. Ao nos despedirmos ele disse algo que me deixou com a alma mais
leve. Falou que por tudo o que ele ouvira, certamente muita coisa importante eu
já fiz na vida, mas que de todos os títulos que eu possa ter, há um que talvez
nunca ninguém me tenha outorgado, mas que é o mais importante de todos. Você é
GENTE, sentenciou ele.
Pra
mim foi um encontro de GENTE. Um encontro de afins, segundo Artur da Távola na
crônica “Afinidade o sentimento que resiste ao tempo e ao depois”. Não trocamos
cartões nem telefones, mas tenho certeza de que o dia que nos reencontrarmos, o
“papo” vai prosseguir normalmente como se nenhuma interrupção tivesse ocorrido
e como se o tempo não houvesse passado.
Ah
meu meio xará! Quem dera se as pessoas se olhassem mais com o espírito
desarmado e sem qualquer preconceito se acolhessem mutuamente, mesmo nas
condições adversas, se houvesse mais cooperação e menos competitividade. Certamente
todos viveriam mais felizes e o mundo seria muito melhor.
Amor!
ResponderExcluirVc é PÊSSOA desde sempre. Como sou grata pela partilha diária de suas grandes e pequenas realizações. E vamos em frente com a bola a correr que aí vem gente para ajudar, até mesmo quando pretende eliminar, a gente. Bjs♡
Celeste, você é suspeita pra falar de mim, mas eu agradeço todos dias a Deus pela tua companhia e teu acolhimento. Beijos.
Excluir"Quem sabe isso quer dizer amor, estrada de fazer o sonho acontecer" ♡
ExcluirVocê é gente do Pêssoa. Pêssoa da gente. E não fosse um encontro de gente, nao existiria o 100 MIL. Abraços de um da gente.
ResponderExcluirBenny, estamos juntos nessa luta.
ExcluirUm abraço, amigo.
Amigo-irmão, Octavio. És isso mesmo: essa PESSOA linda, gente de luz, mundo feito de ternura e fortaleza em todos os verbos da vida. Agradeço a Deus (com)partilharmos a estrada. Um fraterno abraço. Daniel Leite
ResponderExcluirDaniel, sou feliz por compartilhar contigo essa trajetória. Um grande abraço.
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