quinta-feira, dezembro 30

SOMOS COMO UM MONTÃO DE ANOS VELHOS POR ISSO TEMEMOS O NOVO

Virada de ano. Tempo de reflexão e projeção. Vejo o Ano Novo como o via o mestre Artur da Távola: "Como a esperança da renovação, que tem um nome: criatividade. Criar é manter a vida viva. Criar é ganhar da morte. Morte é tudo o que deixou de ser criado. Criatividade é, pois, um conceito imbricado no de vida. Não há como separar os dois conceitos. Vida é criação e criação é vida. Só a criatividade nos dará uma possibilidade de solução para cada desafio do novo. As soluções jamais se repetem. Nós é que nos repetimos por medo, comodismo ou burrice. Adoramos repetir, tememos renovar, por isso tanto sofremos."

Assim, compartilho com você esta crônica do Paulo Alberto de Barros Monteiro, o verdadeiro nome do mestre Artur, que fez de muitos, cavaleiros de sua Távola:

O que estou fazendo com as minhas partes que ficaram paradas? O que está você fazendo com as suas?O que estou fazendo para renovar o que há de antigo em mim, tão arraigado que até já o suponho convicção? O que você está fazendo com o que há de antigo em você, e que talvez se exteriorize com a aparência de ser o mais moderno?

Somos como o ano velho. Como um montão de anos velhos, acumulados. Vivemos a repetir o que já sabemos, o que já experimentamos. Repetimos, também, sentimentos, opiniões, idéias, convicções. Somos uma interminável repetição, com raras aberturas reais e verdadeiras para o novo do qual cada instante está prenhe.
Somos muito mais memória do que aventura.
Somos muito mais eco do que descoberta.
Somos muito mais resíduo do que suspensão.

Somos indissolúveis, pétreos, papel carbono, xerox existencial, copiadores automáticos de experiências já vividas, fotografias em série das mesmas poses vivenciais. Somos um filme parado com a ilusão de movimento. Só acreditamos no que conhecemos. Supomos que conhecer é saber.

O ser humano é feito de tal maneira inseguro que a sua tendência é sempre a de reter as experiências e fazer da vida uma penosa e longa repetição do já vivido. O ser humano adora repetir. Ele precisa repetir, porque não está preparado para o novo de cada momento, para o fluir do Todo na direção da Transformação Permanente. Ele é uma unidade estática e acumuladora, num cosmos mutante e em permanente transformação.

Aceitar a mudança e a transformação é ameaçar tudo o que o homem adquiriu e guarda com avareza, para tentar explicar a realidade e a vida. Mas cada vez que o ser humano usa o instrumental guardado com tanta avareza para explicar o real, este já se transformou e o que antes era eficaz, novo, “descoberta importante”, logo se transformou numa informação parcial, num mero dado da realidade. Esta é sempre mais rica. Está sempre grávida de transcendência.


Aí está o grande dilema: para explicar o real só temos a nossa experiência anterior, mas esta só é válida no momento da sua revelação. Um segundo depois já ficou parcial, relativa, incompleta. Não temos, então, instrumental de aceitação do novo e o que temos fica mais velho e superado a cada aplicação.

Por isso é mais cômodo, fácil e simples para o ser humano cair na repetição do que já é, do que já sabe, do que já viveu. Ele chega a chamar a isso de “conhe­cimento”, quando é, apenas, cristalização de um saber anterior.

Por isso o ser humano tende tanto ao conservadorismo: atingida uma conclusão, montado um sistema de interpretação da realidade, logo o ser humano se aferra a ele (sistema) e, numa extensão, aplica-o a todo o real. Se o sistema é lógico, então, a mente racional se satisfaz e com isso o homem se supõe portador de uma verdade. Aferra-se então a ela, passando a ser um de seus defensores. Cria, a partir da verdade na qual crê e passa a repetir escolas de pensamento, doutrinas, religiões, ideologias, esquemas de interpretação da realidade, correntes, seitas, crenças, opiniões, convicções e até fanatismos. Cria uma espécie de dependência das próprias verdades. Passa de senhor a escravo. E quanto mais escravidão mental, mais sensação de liberdade.

Sim, somos viciados nas próprias crenças, dependentes das próprias verdades, toxicômanos das próprias convicções. E, como ocorre em todas as dependências, precisa­mos repetir as nossas verdades para que não caiamos no pânico da dúvida, na ameaça da mutação. Inventamos uma pacificação ilusória e grandiloqüente. Seu nome: coerência.

Coerência passa a ser grande virtude. “Fulano, conheço-o há trinta anos. Sempre na mesma posição. Tipo coerente está ali!” E assim saudamos a alguém que parou no tempo, que tão logo ganhou uma convicção fechou-se a todas as demais.

Assim nas crenças, assim nas idéias e assim, também, nos sentimentos, nas vontades e nos hábitos. Uma pessoa diz, com orgulho, que há quarenta anos torce pelo mesmo time. Fico a pensar no que ela perdeu de vida, alegria e descoberta nesse tempo todo, de oportunidade de apreciar a qualidade dos demais, a beleza da camisa dos outros, as virtudes dos antagonistas, o estilo dos adversários. No afã de querer a vitória das suas cores, quantas outras vitórias de outros ela deixou de fazer também suas, quantas alegrias perdeu.

A rigor não sabemos o que estamos fazendo para renovar o que há de antigo em nós. Em geral, nada. Não me refiro ao que há de permanente, pois o ser humano é feito de permanências e provisoriedades. As permanências (ligadas às essências) devem ficar. Mas as provisoriedades que se tornaram antigas, paradas e repetitivas e que ali estão remanescentes por nossa preguiça de examiná-las ou por nossa incapacidade (ou medo) de removê-las, estas precisam ser revistas, checadas, postas em discussão, em debate e arejamento.
Assim vejo o Ano Novo. Como a esperança dessa renovação, que tem um nome: criatividade. Criar é manter a vida viva. Criar é ganhar da morte. Morte é tudo o que deixou de ser criado. Criatividade é, pois, um conceito imbricado no de vida. Não há como separar os dois conceitos. Vida é criação e criação é vida. Só a criatividade nos dará uma possibilidade de solução para cada desafio do novo. As soluções jamais se repetem. Nós é que nos repetimos por medo, comodismo ou burrice. Adoramos repetir, tememos renovar, por isso tanto sofremos.

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OCTAVIO PESSOA
"O maior dom é o da aprendizagem, que só se completa se transmitido a outras pessoas"

domingo, dezembro 26

À MESTRA COM CARINHO

Comecei esta crônica há alguns meses atrás. Naquela altura, acabara de conhecer o cantor, compositor e instrumentista, Filó Machado. Por diversos motivos, não pude terminar o texto. Outras crônicas foram escritas. Depois disso, o Filó já esteve outra vez, em Belém. Desta feita, para acompanhar e dirigir show da nossa Lucinha Bastos. Espetáculo maravilhoso.
O Filó é um profiissional completo. Como instumentista e arranjador, ele já acompanhou diversos cantores internacionais, nos quatro cantos do planeta. Sua voz lembra a de Milton Nascimento e, cantando jazz, é impressionante o que ele faz com aquela voz. A cantora Elza Soares conta que, certa feita, o imortal Ray Charles disse-lhe que a voz dela, em si, é um instrumento. Para mim, mesmo eu não sendo uma autoridade no assunto para emitir opinião, a voz de Filó é uma orquestra completa.
Pois bem, como todo bom artista, Filó intercala os números musicais com causos ocorridos em sua vida profissional e pessoal. Entre essas histórias, uma me prendeu especialmente. Não só pela singeleza do tema, mas também porque me fez lembrar uma situação semelhante que se deu na minha adolescência. Um tema recorrente, aliás, na literatura e na música.
O Filó conta que havia uma professora de Francês, do colégio primário onde ele estudou que, toda vez que ela passava, deixava um caminho de perfume inebriante. Ele não conseguia ficar parado e seguia aquele rastro e, quando ela entrava na casa dela, ele se deitava no jardim e ficava ouvindo as músicas que ela colocava na vitrola. Eram clássicos, música francesa e outras de qualidade indiscutível. E ele, ali, ficava embevecido, chegando a dormir e a sonhar. Tanto é assim, que Filó atribui o artista que hoje ele é, a esse amor platônico pela professora paixão, que ele viveu na sua adolescência..
O que me lembrou de minha professora de Português, do curso ginasial. Ela era uma linda mulher, além de competente e muito charmosa, Conciliava em seu nome o nome da mãe e do próprio salvador do mundo. Logo, logo, ela se tornou uma paixão coletiva. Todos nós, adolescentes conversávamos sobre a beleza de seu rosto e os contornos daquele corpo, Não perdíamos um só de seus movimentos. Sua candura e a habilidade para ensinar não permitiam que nos dispersássemos nas lições e nos exercícios. Acredito que, como eu, muitos daqueles adolescentes sonharam pelo menos uma vez com a nossa professora favorita, que era de, pelo menos, uma geração antes da nossa.
Certa vez, ao externar minha dificuldade para escrever determinada palavra, ela se colocou ao meu lado e pousou aquela mão aveludada sobre a minha e me ajudou a escrever. Foi uma sensação indescritível. Acredito que eu ruborizei. Minha cabeça foi “a mil” e o resto do meu corpo muito mais. Passei um dia sem lavar as mãos, só prá lembrar a cena e o perfume inebriante que ela usava. A historinha do Filó trouxe essa vivência à minha mente, com toda intensidade.
Mas noutro dia, lá estava ela impávida e imperturbavelmente compenetrada. O que, na minha imaginação juvenil fora um jogo de sedução, revelou-se ter sido uma forma carinhosa de ajuda a um aluno em dificuldade. Bem que eu desejei que não fosse assim. E a minha reação foi a de cada vez mais me aplicar nas leituras, nos exercícios, nas redações e nas interpretações de texto.
Tal como Filó atribui sua expertise em música àquela professora de Francês com quem ele sonhava dormindo ou acordado, prá mim, se eu me tornei um “escultor com as palavras”, como me definiu certa leitora, atribuo créditos àquela mestra de Português, dos tempos em que o exercício do magistério era um sacerdócio e uma arte, a quem eu dedico esta crônica com todo meu carinho.
*Jornalista , advogado e auditor federal de controle externo.
E-mail: octavio.pessoa.ferreira@gmail.com; http://twitter.com/OCTAVIOPESSOAF
http://blogdooctaviopessoaf.blogspot.com/

quinta-feira, dezembro 23

O QUE É O NATAL?

Faço minhas as palavras do autor deste texto e dedico a meus leitores e leitoras, desejando que o Natal seja tudo isto e muito mais:


“O que é o Natal?”

Se tens amigos, busca-os! O Natal é encontro.
Se tens inimigos reconcilia-te! O Natal é paz.
Se tens pobres ao teu lado, ajuda-os! O Natal é dom.
Se tens soberba, sepulta-a! O Natal é humildade.
Se tens dívidas, paga-as! O Natal é justiça.
Se tens errado, converte-te! O Natal é graça.
Se tens trevas, acende o teu farol! O Natal é luz.
Se tens tristeza, reativa a tua alegria! O Natal é gozo.
Se tens ódio, esquece-o! O Natal é AMOR.”

sexta-feira, dezembro 10

VAMOS AJUDAR UMA FAMÍLIA A SE REENCONTRAR

O Filipe Rodrigues (Balrog), Tenente Rodrigues, formado na turma MEC-07 do ITA, está a procura de parentes dele- avó e tia, que, se ainda vivas, provavelmente moram aqui no estado do Pará. Vamos ajudá-lo.

A história é emocinante. O pai do Filipe, Sr. Antonio Rodrigues Moreira, nunca conheceu ou tem apenas lembrança desses parentes. Ele nasceu no Pará, em 1945 e foi registrado no Cartório de Nova Timboteua.

A família que o criou diz que Antonio foi deixado pela mãe, dentro da casa de moradia daquela família e desapareceu. Contam que a irmã do Seu Antonio (tia do Filipe) foi doada para uma família influente da cidade de Nova Timboteua, a família Falcão, à época dos fatos, 1946/47. Quem o criou não gosta de comentar nem de dar maiores informações sobre as origens de Antonio.

Particularmente, o Filipe não acredita que a avó dele tenha abandonado os filhos e desaparecido. E tudo o que Seu Antônio quer é ter informações sobre suas orígens e, se possível, abraçar sua mãe e sua irmã.

O Filipe diz que Seu Antonio, hoje com 65 anos, sofre bastante, especialmente em épocas como a que agora se aproximam, Natal e Ano Novo. Como na Páscoa e principalmente no Dia das Mães. E com o avançar da idade, Seu Antonio fala muito sobre a necessidade de ficar em paz com suas origens, chora várias vezes, imaginando a possibilidade de morrer sem conhecer a mãe e a irmã, que ele acredita, ainda estão vivas.

O maior sonho do Seu Antonio, é encontrá-las. Poder abraçá-las, dizer o quanto as ama; e reconstituir o vínculo que foi quebrado em tenra infância, em consequência do que, ele tanto sofre.

O Filipe já tentou encontrar suas avó e tia, através de telefonema para o Cartório de Nova Timboteua. Em vão. Quem o atendeu se limitou a dizer que não encontrara nenhum registro com os nomes informados.

Bem. São os seguintes os nomes dos parentes do Filipe:

Avô: MANUEL RODRIGUES MOREIRA- falecido por volta de 1947.

Avó: RITA MARIA DA CONCEIÇÃO. Filipe estima que, se ela estiver viva (se Deus quiser, está), deve ter 84 anos.

Tia (irmã do seu Antonio): JUSCIREMA RODRIGUES MOREIRA, a que foi doada para a família Falcão. Filipe supõe que o nome dela tenha sido mudado, pela família que a adotou. Se viva estiver, ela está agora, com 63 anos.


Eu tomei conhecimento desse drama familiar, pela minha irmã, Augusta que, por sua vez é mãe de meu sobrinho Márcio Felipe, também formado pelo ITA.

Já adotei ou estou adotando as seguintes medidas:

*Acionei a equipe do Jornal Liberal 1ª Edição (TV Liberal, afiliada da Rede Globo) que semanalmente dedica um programa à localização de pessoas desaparecidas. Fiz isso através do meu conterrâneo, colega jornalista e irmão de Maçonaria, Salomão Mendes, apresentador do Bom Dia Pará.

* Vou conversar sobre o assunto com o meu amigo Padre Paulo Falcão. De repente, pode a família Falcão a que ele pertence ser aquela para a qual a irmã do seu Antonio foi doada. O detalhe é que o Padre Falcão tem origens interioranas.

* Vou conversar com uma secretária daqui de casa, que tem parentes em Nova Timboteua.

* Estou colocando este assunto no meu blog e lincarei no twitter. Além de acionar minha rede de relacionamento.

Você que está lendo este texto, faça o que você puder fazer, na medida que você tenha informações sobre essas pessoas e/ou família.

Você pode informar para este Blog ou para meu e-mail
octavio.pessoa.ferreira@gmail.com;

para o Filipe (filipersmoreira@yahoo.com.br);

ou diretamente para o Seu Antônio: (22) 2630 9331 (22) 2630 9331; (21) 86773788 (21) 86773788

Vamos ajudar Seu Antonio a ter efetivamente, um FELIZ NATAL e um ANO realmente NOVO com a família reunida.

OCTAVIO PESSOA

quinta-feira, dezembro 9

ÉS BOM EM PORTUGUÊS?

A resposta correta é:

"Maria toma banho porque sua. Mãe, disse ela, pegue a toalha".


para a frase " MARIA TOMA BANHO PORQUE SUA MÃE DISSE ELA PEGUE A TOALHA ", que coloquei no Twitter e por e-mail à minha rede de relacionamento.

Trata-se na verdade, de de um teste realizado em um curso na American Airlines. Na frase proposta, cabe à pessoa colocar 1 ponto e 2 vírgulas para que a frase faça sentido.


A 'pegadinha' está no fato do uso do verbo suar, confundindo com o pronome possessivo (sua).. A Língua Portuguesa é fogo, mesmo.


OCTAVIO PESSOA
"O maior dom é o da aprendizagem, que só se completa se transmitido a outras pessoas"

quarta-feira, dezembro 8

ATIROU NA CABA, ACERTOU NA MULHER

Promessa é dívida. Aqui estou prá resgatar o compromisso de contar o causo do candidato nas últimas eleições, que desconfiado da fidelidade de suas “cabas” eleitorais, acabou acertando na mulher dele. Recebi muitos e-mails de curiosos querendo saber quem foi o político. Conto o milagre, mas não digo o nome do santo.

Ele botou na cabeça que era hora de iniciar, prá valer, uma carreira política. Filhos criados, empreendimentos se desenvolvendo, a ele só interessava ser deputado federal, procurando esquecer da tentativa que fizera, tempos atrás de tornar-se vereador, quando, como nessa nova investida, não obteve sucesso.

Foi buscar na Grécia antiga um método infalível que, na avaliação dele, lhe permitiria conseguir os mais de cem mil votos necessários. Acercou-se de sábios, que embalavam suas idéias e o estimulavam a investir maciçamente campanha dele. Segundo ele próprio, o investimento não foi pequeno. Mas teria sido apenas uma ínfima parcela de um grande negócio que fizera. Por isso, tudo o que empregasse na campanha seria pouco, uma vez que ele estava predestinado a redimir o povo paraense de seu estado de miséria, mesmo vivendo em um estado rico. Ele dizia isso, convictamente em todas suas prosas. E o pior, acreditava no que estava dizendo.

Conhecido intelectual paraense, ao saber por sua empregada doméstica do discurso do candidato, comentou que o Dr. Simão Bacamarte, da obra O Alienista, de Machado de Assis, albergaria o candidato, na Casa Verde, da Rua Nova da cidade imaginária de Itaguay, junto a João de Deus, aquele que passou a se sentir deus João e prometia o reino dos céus a quem o adorasse e as penas do inferno aos demais; e daquele que narrava às paredes sua árvore genealógica: “Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada engendrou Davi, Davi engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque engendrou o marquês, o marquês engendrou o conde, que sou eu”.

Não tenho elementos nem formação prá concordar ou não com essa tese. O que consta é que o preço da aventura, aliás, da campanha, não foi pequeno. O candidato teria sido visto lá pras bandas de Castanhal, distribuindo pacotes de mil reais a pretensas “lideranças” comunitárias, que estouravam a grana em cachaça e muita curtição. Até encontrar outro bobo, prá repetir a façanha.

Mas ele se orgulhava de haver adestrado muita gente, prá convencer os eleitores da veracidade de sua promessa redentorista. Além da remuneração em espécie, o candidato fornecia também a alimentação prá sua gente. Alimentação essa feita em sua própria casa, pela abnegada esposa, senhora muito prendada e primorosa nas artes da cozinha. Ele gastava uma grana no atacado e fazia economia de palito.

Talvez por ter recebido alguns “toques", ele passou a desconfiar da fidelidade de suas “cabas” e resolveu apurar a fidelidade das meninas. Como apurar essa fidelidade, era a sua angústia. Ele não podia compartilhar sua agonia nem com a mulher, nem com os sábios que o cercavam. Os sábios, nessa altura, eram todos suspeitos. Depois de muito matutar, uma idéia luminosa acendeu em sua mente iluminada. Passou o resto do dia providenciando os apetrechos e selecionando os locais onde se daria o flagra.

De manhãzinha, sem fazer nenhum barulho, para não acordar a esposa que tinha um dia de trabalho pela frente, saiu de mansinho. Na sala, vestiu o disfarce. Barba e bigode postiços, óculos escuros e chapéu de aba grande, calça, camisa, sapatos, tudo totalmente diferente do que costuma usar. Saiu da garagem com a velocidade que pode. Estacionou o carro a dois quarteirões do local onde se daria o flagra e dirigiu-se ao ponto em que se encontravam três “cabas” eleitorais, que batiam gostoso papo.

O candidato caminhou em direção a elas e à medida que se aproximava, diminuía o passo, estimulando uma abordagem. Queria ouvir o discurso para o qual elas foram adestradas. E nada. Percebeu apenas um olhar de quem diz: quem será esse doido? Seu humor foi se alterando. Passou uma segunda vez e uma delas ainda lhe pediu um cigarro. Com um brusco grunhido, respondeu que não tinha cigarro. Não queria que reconhecessem sua voz. O sangue lhe subiu à cabeça quando, olhou para trás e viu seus santinhos irem parar na sarjeta. Dirigiu-se a outros pontos de ação eleitoral, repetiu a estratégia e não sentiu nenhuma diferença. Lá pras bandas do Guamá, uma das “cabas” ainda se insinuou prá cima do “desconhecido”, mas doutrinação de redenção do povo paraense ou entrega de santinhos, necas de catibiribaçu, como diria o comendador Mário Sobral.
No final da manhã, retorna para casa com a veia pastora quase prá espocar, de tanta raiva. Da boca uma baba grossa escorria, sujando o bigode que ameaçava cair. Entrou em casa com mais de mil. A esposa, de costas, com a bandeja cheia de quentinhas, o almoço das meninas, virou-se e caiu desmaiada, tudo indo ao chão, quando ouviu aquele grito estentóreo:
- PAAAAAAAAAAAAAAAARA. Não tem mais comida prá (o resto da frase é impublicável).
Só que ex-quase redentor do povo paraense esquecera de tirar o disfarce.
Dizem as más línguas que a menstruação da mulher dele “subiu” e só deve voltar daqui a quatro anos, quando ele tentar novamente se eleger deputado federal.

*Jornalista, advogado e auditor federal de controle externo.
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