sábado, abril 28

Todo Mundo. Sempre.


      Tive a grata satisfação de receber ontem, do meu amigo Roberto Carvalho de Faro, imortal da Academia Paraense de Letras e revisor de texto do meu livro "Causos Amazônicos", o e-mail que segue adiante, por meio de que ele me brinda com uma poesia feita quando vivia uma situação semelhante à em que eu estou agora. Valeu demais para mim. Obrigado, Roberto. Compartilho  agora, com você, leitor:


Meu caro Octavio,
Lendo o seu blog, no qual você se refere à parada forçada que teve que fazer, por conta do acidente doméstico, que o imobilizou temporariamente, lembrei-me de que anos atrás passei também por uma parada forçada, em razão de doença, precisando interromper minhas atividades profissionais e ficar em casa por vários dias.
Esses dias "parados", convalescendo, serviram-me para refletir sobre a vida. E foi assim que saiu o texto poético que vai em anexo.
Espero que lhe sirva de consolo.
Cuide-se e recupere-se logo.
abraços
Roberto.



Todo Mundo. Sempre


Sempre, não.
Exagero, parece.
Nada é tão sempre.
Mania essa de envolver todos, tudo.
“Todo mundo está de acordo”.
“É sempre assim”.
É muita gente para concordar, acho.
Eternamente? Sempre? Impossível.
Já uma discordância: não me incluo.
E tantas vezes agi diferente.
Fujo do sempre.
Então agora falo:
Observei gestos, atitudes.
Incongruentes muitos, muitas.
Plural mesmo a criatura.
Um, não se repete.
É vário cada vez.
Mas a água do rio é a mesma?
Mudando, mudando.
Só parece que é.
Então?
O antigo já viu isso, lá na Grécia.
Hoje parei, pensei.
Um pouco de doença,
 de só mal estar, atou-me em casa.
Vi o que não via.
As ruas, os compromissos, o relógio, cegaram-me.
E hoje vi.
Bastante um descanso no pátio.
Cacaueiro, cuieira, aceroleira.
Bambu, também.
Dois dias de descuido, e mudaram.
Folhas novas que não tinham.
Velhas que caíram.
O cacau mais de vez.
A cuia, casca mais dura.
Acerolas, só as verdes.
Vermelhas, no chão, caídas.
O bambu, duas hastes mais baixas, arriadas.
A natureza, no silêncio, mudando.
Onde estava que não vi?
Certo que lidando no sobreviver.
E precisava? me pergunto.
Tudo não está na ordem natural?
O passarinho planta, ajunta em celeiro?
O lírio.
Quem veste o lírio do campo?
Por que então eu, plantando, colhendo,
tecendo vestes?
E ocupado, o descuido em derredor.
Meu próprio quintal
 sem meu olho, mudando.
E eu, nem.
O que era de ver, não vi.
E dentro, debaixo da pele que não vejo?
Milhões de células desapareceram.
Máquina em desgaste.
O corpo não encorpa, fenece, dia pós dia.
Doença já não cura toda. Fica resto.
Nem que pouquinho, fica.
Remédio é lenitivo.
Efeito diminui, já não cura.
No pátio, cadeira de balanço.
Balanço do viver.
Que fiz, que não fiz?
Que devia, que não devia?
Saldo: positivo, negativo?
Quem julga?
Há juiz?
Entra a crença.
Cada um com sua fé ou sem ela.
Houve existência, bagagem de coisas.
Quem aproveita, se o dono vai?
Tudo em vão, perda de tempo?
A questão é essa.
Respostas somem.
Perguntas sobram.
Inquietação de monte.

Viver,
 invenção de quem?

Doença serve.
É exercício de questionar.
Periódicos balancetes para balanço final.
Saúde não condiz com avaliações sérias,
com inventários profundos.

Agora, sim.
Concordo.
“Todo mundo” passará por esta porta.
E “sempre”.



quinta-feira, abril 26

O VALOR DO INESPERADO

         
         Uma data que seria importante para você por um determinado fato que acabou não se realizando, pode tornar-se ainda mais especial para você?  Pode sim. Tudo depende de como encaramos o inesperado e do que fazemos com as paradas “forçadas” a que somos submetidos.

         Por exemplo, o dia de hoje, 26 de abril de 2012, quinta-feira, seria especial para mim, pois nele ocorreria o lançamento do meu primeiro livro de crônicas. Desde que ele ficou pronto, de comum acordo com o meu editor, Armando Alves Filho, “batemos o martelo” quanto à oportunidade dessa data, para o “Causos Amazônicos” vir a público. Interessante. Antes, eu havia cogitado de lançá-lo no dia 12 de abril. Particularidades do processo de edição me levaram a sugerir o dia 26. 

       Haveria mais tempo para fazer o marketing e adotar os procedimentos para o lançamento. Quem já passou pela experiência de escrever e editar um livro sabe o quanto é gratificante ver-se o fruto de sua inspiração e transpiração realizar-se. Na sexta-feira, dia 13 de abril, vi pela primeira vez o meu livro pronto e acabado. A emoção só é comparável ao nascimento de um filho. Pra mim, o “Causos Amazônicos” é o meu terceiro filho. Ali mesmo na Editora Paka-Tatu, fiz um pré-lançamento, ofertando ao meu editor e à sua esposa, Sandra, o primeiro exemplar do livro que foi retirado da caixa. 

         O fim de semana que se seguiu foi de muito contentamento. Oferta de exemplares às pessoas mais próximas, a começar pela minha esposa e também para as pessoas que nos auxiliam em nossa casa. Presenteei também, com um exemplar do livro, meu revisor de textos, o caboclo que nem eu, Roberto Carvalho de Faro (de Faro é uma homenagem à sua terra natal, Faro, no Oeste do Pará) e imortal da Academia Paraense de Letras. 

         Na segunda-feira, dia 16 de abril, eu estava “elétrico”. Começaria então, o “corpo a corpo”, a ação de marketing mais incisiva, visando o lançamento do livro. Com alguns exemplares dele e com alguns brindes remanescentes do meu aniversário de 60 anos que ocorreu no dia 8 de abril, meu plano era visitar emissoras de TV, a começar pela TV Cultura, onde já estava pautada minha participação no programa “Sem Censura Pará”, para um dos dias subsequentes. Visitaria também, os jornais diários e algumas emissoras de rádio. Atividade prazerosa para mim, que já fui locutor de rádio. 

         Eu descia, com livros e brindes numa caixa, a escada de acesso ao meu escritório doméstico, que eu subo e desço não sei quantas vezes por dia. Chegando ao final, “o chão me faltou”. Tudo indica que “baipassei” o último degrau. Fui violentamente ao chão, com estrago enorme sobre meus pés: torção no tornozelo esquerdo e fratura no direito. Resultado: até hoje e, pelo menos até a próxima segunda-feira, estou com o pé direito imobilizado, deslocando-me, somente para ir ao banheiro, com o auxílio de muletas. Segundo o médico, passada essa etapa da imobilização, virá a fase da bota ortopédica e de fisioterapia por não sei quanto tempo. 

        Passada a fase de providências médicas, vem a “queda da ficha”. Inevitável certa revolta, nos primeiros momentos – por que agora? Não haveria outra hora para isso acontecer? Logo agora, quando estou diante da realização de um sonho acalentado por tanto tempo? E os outros projetos que me exigem plenas condições de saúde para realizá-los? – Tudo isso machuca. É uma dor emocional. Depois vem a reflexão. Meu Deus! Tudo poderia ser pior. E se o impacto tivesse repercutido sobre a minha coluna? E se eu tivesse batido minha cabeça no degrau da escada? Não. Eu não posso me revoltar. Eu só tenho a agradecer pelo não ocorrido. E como já risquei de meu dicionário, há algum tempo a palavra coincidência, como yunguiano assumido, creio no inconsciente coletivo e na sincronicidade universal, convenço-me de que foi melhor que as coisas acontecessem como elas aconteceram. 

      Essas paradas forçadas servem também, para valorizarmos mais ainda, o que temos à nossa volta. Feliz é quem tem pessoas ao seu lado. Especialmente quando, qual uma criança, você depende da ajuda de alguém, para as necessidades mais simples da vida. E os amigos que te visitam? Um verdadeiro presente de Deus. É tão gratificante você receber pessoas nessas horas. E aí você reflete sobre a importância da sua presença junto aos seus, não só nos momentos difíceis, mas também e principalmente nos momentos de celebração de Vida. E também, dedicar algum tempo de sua vida a quem não tem ninguém, os que mais precisam. Começarei por uma pessoa que, por motivos diversos, optou por não mais sair de casa e vive praticamente só. Antes, minha intenção era mandar-lhe um exemplar do meu livro. Agora, decidi. Assim que puder, vou visitá-lo e entregar-lhe pessoalmente. Tenho certeza. Ele se sentirá muito bem. E eu muito melhor. 

      Realmente. Hoje seria um dia muito importante para mim, em razão do lançamento de meu livro, que não vai acontecer. Mas esse dia está sendo e ficará marcado para mim, porque nele, eu tive uma vontade irrefreável de escrever, coisa que eu tanto gosto de fazer, mas que estava temporariamente adormecida. E se assim é, nada melhor do que compartilhar com todos a minha experiência nesses dias de “parada forçada” e de profunda reflexão. O lançamento do livro? Fica pra mais adiante. Tenho certeza: será muito melhor. 

                                                                                     Octavio Pessoa

sábado, abril 14

CRÔNICA DOS SESSENTA



     Tudo pode render uma crônica. Como os momentos em que você, eu e minha família celebramos a VIDA, nesta noite.
    Comemoramos minha chegada aos 60 e a Celeste aos ... anos. Foi inevitável o contágio com a nossa felicidade e a de nossos filhos, Rodrigo Octavio e Luciana, que também compartilhou sua alegria pelo noivado com o Alex, que para nós já é da família.
     Constato, aos 60 anos, que os personagens desta crônica - os parentes e amigos – são o meu maior patrimônio. Um presente de DEUS.
     E este momento é de virada de página, literalmente. Mais uma década se tenta. Novos desafios. Quero todos ao meu lado.
    A primeira realização já se aproxima: o lançamento do meu livro “Causos Amazônicos”. Na quinta-feira, dia 26 de abril, a partir das 19 h, na Fox Vídeo, da Dr. Moraes. Espero por você!
                                                                         Octavio Pessoa.
                                                                         Belém/PA, 7/8 de abril de 2012


     
(Os presentes na comemoração dos meus 60 anos e os ... anos da Celeste, receberam de brinde uma miniatura de um carimbozeiro ou curimbozeiro, figura típica da cultura paraense. É o tocador de atabaque, um instrumento de percussão, nas rodadas de carimbó, dança típica paraense. O brinde foi confeccionado pelo artesão Jeferson.

Idealisticamente, o curimbozeiro chegou num regatão, barco que faz comércio de porto em porto, na Amazônia. A miniatura de regatão foi um presente do meu amigo Leonel Chaves, arteeducador).