terça-feira, novembro 27

"Sementes do Sol" será lançado na Assembléia Paraense






          Imperdível o lançamento do “Sementes do Sol”, do cronista/contista obidense, Ademar Ayres do Amaral, no dia 5 de dezembro, a partir das 19:00h, na Sede Social da Assembléia Paraense, da Presidente Vargas.

             Li o "Catalinas e Casarões", em que Ademar descreve a formação histórica e econômica da região do baixo amazonas influenciada pelos municípios de Santarém e Óbidos, com o apogeu e o declínio das grandes fazendas, abordando também a importância que os aviões catalina da Panair do Brasil tiveram para aquela região e toda a Amazônia. Ao mesmo tempo em que resgata as origens e o papel histórico que tiveram as famílias Amaral e Ayres, sem cair no lugar comum das biografias pela biografia.

               Transcrevo a seguir, o comentário do também obidense Célio Simões, na Folha de Óbidos, sobre a nova obra de Ademar:

"Nem bem concluí a leitura do livro do Alberto Rogério, outro me cai nas mãos.  Ademar Amaral reuniu seu talento de cronista, à sua farta, criativa e inesgotável imaginação e trouxe a público seu primeiro romance – SEMENTES DO SOL – onde discorre com grande acuidade sobre um dos mais expressivos ciclos econômicos dentre os que já ocorrerem na Amazônia – o da juta.

A narrativa faz justiça a um punhado de pioneiros japoneses que superando as adversidades da floresta densa e por vezes impenetrável, dedicaram-se de corpo e alma a um projeto de vida onde não havia lugar para o meio termo. Ou seriam bem sucedidos, ou a saga do plantio, colheita, lavagem, secagem e venda da fibra para as usinas de beneficiamento, a preços aviltados, eternizariam no nascedouro suas aspirações de prosperidade.
 

Os leitores que superaram cinco ou seis décadas de vida lembram bem do fausto representado pela Usina Paulista de Aniagem. Um enclave do baronato do café dos Álvares Penteado plantado na estratégica margem do Laguinho, surfando na mais vistosa das embarcações das redondezas, o SIALPE, com seu administrador confortavelmente instalado em uma residência de fazer inveja a muito abastado do lugar.
 

Se por um lado a juta dinamizou a economia do Baixo Amazonas, resgatando-o de um período de quase estagnação, personagens inescrupulosos, sem eira nem beira como “o Turco”, encheram as burras de dinheiro praticando uma das mais abjetas formas de comércio conhecidas no mundo moderno - o aviamento - hoje ainda existente nas lavouras de cana e nos garimpos dos confins da Amazônia.

O universo em que se desenvolve a trama é amplo, porém o pano de fundo é o mesmo: o drama da sobrevivência dos plantadores de juta e a luta tenaz dos japoneses para tornar realidade um sonho no qual a maioria teria desistido no início, tamanhas as dificuldades que encontraram.

Ademar cria personagens que se envolvem em curiosas tramas. Dá vida a outros que lembram figuras conhecidas do dia a dia daqueles bons tempos. Nem todos falam, alguns são até mudos, mas o autor fala por elas. O enredo é envolvente e não permite retorno aos capítulos anteriores, pois a narrativa obedece a uma lógica excepcional, possibilitando o entendimento. Às vezes, a irreverência surge de entremeio ao caótico, claro entrechoques de interesses inconfessáveis (ou não) dos seus principais atores. Poderia ser romance policial, mas não é. No estilo, quando muito.

Os leitores do Ademar (a meu ver, o mais fértil escritor obidense), já vinham merecendo uma obra desse tipo, onde ele, cronista e contista, ascende ao patamar maior do romance. As narrativas nos transportam aos igapós, lagos, igarapés e paranás de uma região fascinante. Os procedimentos das famílias japonesas refletem o melhor da convivência humana, mesmo quando seus atritos mais primitivos se desenrolam ao contato com a natureza mais rebelde. São heróis e vilões, ao sabor de conveniências políticas que eles não controlam nem dominam. Perdidos numa selva sem fim deram azo a um dos mais prósperos períodos da Amazônia, a partir de um único pé de juta do heróico Ryota Oyama.

Quando fala do “Sem Fim”, Ademar me faz lembrar Samuel Benchimol. A Pan-Amazônia constitui a vigésima parte da superfície terrestre, com uma densidade de apenas 1,5 habitantes por quilômetro quadrado, sendo o restante um enorme vazio, desafiando a capacidade humana para conhecê-la e conquistá-la. Basta contemplar no mapa o vasto trecho que serviu de cenário aos dramas que deram ritmo e sabor a
 SEMENTES DO SOL. 

Epopéia de conquistas e sofrimentos de tamanha envergadura nota-se um profundo respeito do escritor pelos Koutakuseis e colonos do Andirá, a ponto de relacioná-los nominalmente ao final do livro. Faço coro a essa reverência, pois os japoneses (que influenciam nossa nacionalidade), outra coisa não foram do que exemplos de pessoas sérias e trabalhadoras. Melhor do que eu, deles nos fala o advogado do Banco do Brasil Paulo Dias de Carvalho, que em 07 de novembro de 1977, ao defender judicialmente Hiroshi Saito (japonês, casado, agricultor) da sanha desonesta e usurária de um cartorário inescrupuloso de Monte Alegre, assim resumiu o que todos sentimos:“Excelência: Estive em Monte Alegre e dediquei meu tempo ao estudo deste problema que reputo extravagante. Mantive contacto com os agricultores japoneses que afinal de contas com sua técnica agrícola conhecida em todo mundo, aqui estão contribuindo para a prosperidade desta Amazônia, revolvendo terras, trabalhando de sol a sol. Homens de pouca instrução mas homens honestos e acima de tudo amantes do trabalho. Pediram-me que intercedesse por eles e agradeceram-me. Informei-os de que nada tinham que agradecer e que nós, brasileiros, é que estávamos agradecidos pelo que de muito haviam feito e pelo que por certo pretendiam fazer também em nosso benefício e até, Excelência, desculpei-me perante aqueles homens uma vez que um nacional nosso por motivos solertes estava-lhes entravando a própria sobrevivência”.

Nunca privei da amizade do Paulo. Sequer o conheci. Suas colocações sobre os japoneses são escorreitas. Comungo de seu conceito sobre essa gente de fibra, que sem nenhuma pretensão mudou os rumos da economia do vale amazônico por um bom tempo. Tempo esse o suficiente para que Ademar dele fizesse o cenário completo de sua vibrante e extraordinária narrativa.

O lançamento de Sementes do Sol será no próximo dia 05 de dezembro, às 19 horas, no Terrace da Sede Social da Assembléia Paraense, na Presidente Vargas. É leitura imperdível."
 

Célio Simões

            Recomendo a todos e estarei presente no lançamento do “Sementes do Sol”. Vamos prestigiar a literatura paraense contemporânea.



Nenhum comentário:

Postar um comentário