- - Vítor…
A “gatinha” falou com voz meiga, ao entrar no hospital. O “coroa”
permaneceu firme, segurando a porta pra outras pessoas também entrarem.
Todos entraram no elevador, inclusive os dois. De novo a “gatinha” olhou
meio sem graça na direção do “coroa” e, - Vítor... Vítor, disse com voz suave e
um pouco encabulada, ante a presença das outras pessoas. O “coroa”, encostado
numa das paredes do elevador, permaneceu impávido, com o olhar perdido, numa concentração
budista. Ela então, disfarçou o constrangimento, conferindo aparentemente mensagens no celular.
Desceu num dos pavimentos. Ele prosseguiu a viagem ascendente do elevador.
Ora, não é comum um homem resistir aos encantos de uma jovem e linda mulher.
Mais ainda, quando ela o chama com docilidade pelo nome. Eu, tanto quanto outros espectadores com certeza, fiquei
“encucado” com a cena patética. O espírito de cronista foi provocado.
A mocinha estava enganada? Estaria ela falando com um estranho, julgando
ser o seu conhecido? Mas a meiguice de sua voz e a ternura do seu olhar, chegavam a ser desconcertantes.
Na esteira do teste ergométrico, comecei a constuir hipóteses para o que
terminara de presenciar.
Primeira, o “coroa” usa um discreto aparelho auricular no dia a dia, pra
reduzir sua surdez. Justo naquele dia,
ele esqueceu o equipamento e por isso
não ouviu a “provocação”.
Segunda, ela estava enganada de pessoa mesmo, e o cara é gay. Assim, diante da investida, ele fez
aquele ar de paisagem amazônica, pensando:- ainda mais essa. Sai pra lá,
espinha de bacalhau.
Terceira, eles se conhecem mesmo. E se conheceram num rápido e fugaz encontro
profissional, em que afinidades “explodiram”. “Rolou” um clima recíproco de
desejo de aprofundamento do vínculo, que é prejudicado pelos compromissos afetivos de cada
um e agravado pela diferença abissal de idade entre eles. E pro azar, no dia do
acidental des/encontro, ele estava sob o impacto do diagnóstico médico para seu
estado de saúde e só tinha pensamento para o resultado os exames que fora
fazer. E assim, nem percebeu que no meio daquelas pessoas, estava aquela jovem mulher
que mexeu com a cabeça e o coração dele.
Amigo leitor, esta crônica está inconclusa. O quadro, sem tirar nem por,
foi esse que descrevi. Se você tiver outra explicação para o triste
des/encontro, aceitam-se sugestões. Ou, se preferir, você pode concluí-la, dando
um desfecho para o episódio.
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