sábado, fevereiro 1

DES/ENCONTRO NO ELEVADOR. Uma crônica inconclusa.




-                                    -  Vítor…

A “gatinha” falou com voz meiga, ao entrar no hospital. O “coroa” permaneceu firme, segurando a porta pra outras pessoas também entrarem.

Todos entraram no elevador, inclusive os dois. De novo a “gatinha” olhou meio sem graça na direção do “coroa” e, - Vítor... Vítor, disse com voz suave e um pouco encabulada, ante a presença das outras pessoas. O “coroa”, encostado numa das paredes do elevador, permaneceu impávido, com o olhar perdido, numa concentração budista. Ela então, disfarçou o constrangimento,  conferindo aparentemente mensagens no celular. Desceu num dos pavimentos. Ele prosseguiu a viagem ascendente do elevador.

Ora, não é comum um homem resistir aos encantos de uma jovem e linda mulher. Mais ainda, quando ela o chama com docilidade pelo nome. Eu, tanto  quanto outros espectadores com certeza, fiquei “encucado” com a cena patética. O espírito de cronista foi provocado.

A mocinha estava enganada? Estaria ela falando com um estranho, julgando ser o seu conhecido? Mas a meiguice de sua voz e a ternura do seu  olhar, chegavam a ser desconcertantes.

Na esteira do teste ergométrico, comecei a constuir hipóteses para o que terminara de presenciar.

Primeira, o “coroa” usa um discreto aparelho auricular no dia a dia, pra reduzir  sua surdez. Justo naquele dia, ele esqueceu o equipamento e  por isso não  ouviu a “provocação”.

Segunda, ela estava enganada de pessoa mesmo, e o cara é gay. Assim, diante da investida, ele fez aquele ar de paisagem amazônica, pensando:- ainda mais essa. Sai pra lá, espinha de bacalhau.

Terceira, eles se conhecem mesmo. E se conheceram num rápido e fugaz encontro profissional, em que afinidades “explodiram”. “Rolou” um clima recíproco de desejo de aprofundamento do vínculo, que é  prejudicado pelos compromissos afetivos de cada um e agravado pela diferença abissal de idade entre eles. E pro azar, no dia do acidental des/encontro, ele estava sob o impacto do diagnóstico médico para seu estado de saúde e só tinha pensamento para o resultado os exames que fora fazer. E assim, nem percebeu que no meio daquelas pessoas, estava aquela jovem mulher que mexeu com a cabeça e o coração dele.


Amigo leitor, esta crônica está inconclusa. O quadro, sem tirar nem por, foi esse que descrevi. Se você tiver outra explicação para o triste des/encontro, aceitam-se sugestões. Ou, se preferir, você pode concluí-la, dando um desfecho para o episódio.

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