(Matéria publicada na edição de 24/25 de dezembro de 2016 do Diário do Pará, Caderno “Você”, página 10 – Coluna do jornalista Elias Ribeiro Pinto).
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Ana Celeste e eu no Folio/2016 |
“...há entre os utopianos uma quantidade de
coisas que eu aspiro ver estabelecidas em nossas cidades.
Aspiro mais do que espero”.
Thomas More
O
FOLIO- Festival Literário Internacional de Óbidos, na sua segunda edição, de 22
de setembro e 2 de outubro deste ano, afirmou-se como uma realidade do mundo literário mundial, tendo a utopia como tema. Ainda em junho, na inauguração
da exposição de Júlio Pomar sobre Dom Quixote, no Museu Municipal de Óbidos, a
vereadora cultural Celeste Afonso considerou aquele momento como a arrancada do
FOLIO e afirmou “Na sua segunda edição, o Fólio afirma-se como a
concretização de um sonho maior, transnacional, tornado realidade: a cultura
como um bem essencial acessível a todos”.
O
maior Festival Literário de Portugal tem um glamour especial porque
se realiza numa cidade dentro de um castelo medieval, com suas ruas estreitas e
irregulares, cheias de gente de todo lugar ávida por Cultura nas suas mais
diversas manifestações como a literatura, a música, as artes plásticas e a gastronomia.
E pelo FOLIO Digital o visitante pôde acompanhar todos os eventos da
programação e gerir sua agenda com os escolhidos.
No FOLIO 2016 foi introduzido o Comboio Literário, trens populares
que transitavam entre a estação do Rossio em Lisboa e Óbidos para levar e
trazer participantes que, ao longo do trajeto, iam “se aquecendo” com os livros
disponibilizados e assistindo à leitura de poemas e performances e mais, tinham
50% de desconto nas mesas de autores e nos concertos, com a apresentação do
bilhete do trem. Novidade também o “The Cooked Book”, uma experiência visual
para honrar todos os Chefs do mundo que diariamente escrevem com comestíveis
palavras a história da Gastronomia. Nesse programa “cada prato é uma história,
cada Chef um escritor, cada livro cozinhado é uma peça de cultura cr-EAT-ive”,
comida criativa.
Autores de renome mundial fizeram-se presentes no FOLIO/2016, dentre
eles V.S. Naipaul, Prêmio Nobel de Literatura e Salman Rushdie, autor de “Os
Filhos da Meia-Noite” e vencedor do Booker Prize.
A Amazônia se fez presente pelo cantor/compositor amapaense,
militante da preservação ecológica Osmar Junior, no bate-papo “O Amazonismo na
música e Literariedade de Osmar Júnior”, pela historiadora Anete Costa Ferreira
com a palestra sobre “O Amapá para quem não conhece” e por Josiane Ferreira e Carlos Lima na Contação
de Histórias “Lendas e Mitos do Amapá/Amazônia”.
Como programado, a Utopia correu solta na Vila Literária de Óbidos
desde as exposições permanentes “Utopia Coletiva”, com cartazes feitos pela
comunidade online e “Utopia, hoje”, com
dez artistas interpretando de forma
livre e autoral as obras “Mensagem” de Fernando Pessoa e “A Jangada de Pedra”
de Saramago. E em outros eventos como a conversa do escritor e gestor cultural
português Mega Ferreira sobre Miguel de Cervantes e seu “Dom Quixote de La
Mancha”, o personagem utopista mais famoso da Literatura ocidental e a de Andrea
del Fuego e Afonso Cruz sobre o lugar do
fantástico na literatura lusófona atual e a criação de universos imaginários e
ainda José Gil falando sobre a Utopia em Fernando Pessoa e Carlos Reis sobre a
Utopia em Saramago.
Nos debates “UTOPIA- Matemática e Literatura” discutiram-se temas
como literatura e visualização com ferramentas matemáticas, fragmentos
matemáticos na literatura tradicional, matemática e literatura do renascimento.
No evento paralelo II Seminário Internacional Educação, Leitura e Literatura,
ocorreram dentre outros wokshops, “TEATRUPIA: utopia (in) cena
(com) texto”, “Utopias digitais: da não ilha fiz ilha”, “A incrível máquina de
entrelaçar utopias” e “Utopia e Literacia, de Thomas More ao Próximo Futuro”.
Também foram tratados no FOLIO “Consciência e utopia nas literaturas
africanas de língua portuguesa” e
Jornalismo e Utopia em relação à Política, à Sociedade, à Economia, ao Rádio,
ao Desporto e à Cultura.
Com essa postagem homenageio o amigo Elias Ribeiro Pinto, um dos "Últimos Moicanos" do Jornalismo Literário brasileiro, com sua página que para o ano (2017) completará maioridade de inserção dominical no Diário do Pará. Sim serão 21 anos de publicação ininterrupta no Diário. Somando-se a esse tempo o período em que Elias publicou sua página na extinta Província do Para, lá se vão quase 3 décadas.
A propósito disto, um dos debates que eu assisti durante o Folio foi sobre "A Crise do Jornalismo e da Crítica Literária no Brasil e Portugal", entre dois jornalistas portugueses e um brasileiro. Eles atestaram a falência dessa modalidade de jornalismo dentre outras razões pela crítica realizada nas redes sociais quase que simultaneamente aos lançamentos de livros e outras obras. E principalmente, em face da pouca importância atribuída ao Jornalismo Literário pelos editores dos grandes jornais. A distorção da finalidade do Jornalismo provocada pela visão do lucro imediato determina o corte dos assuntos culturais. Os jornalistas culturais são "cassados" de seus postos, sendo levados a se utilizarem cada vez de seus blogs e sites especializados e as redes sociais para exercitar o jornalismo e a crítica literária, retroalimentando o sistema.
Por tudo isto, o jornalista paraense Elias Ribeiro Pinto merece reconhecimento e homenagem do público leitor pela longevidade de sua página inserida no Caderno "Você" do Diário, sempre com temas da maior relevância literária e cultural. Parabenizando também os dirigentes do Diário pela manutenção da página dominical do Elias, um dos últimos bastiões do jornalismo cultural nos grandes jornais do país.
Saiba mais sobre o Folio, sobre Óbidos
e assuntos afins acessando:
http://blogdooctaviopessoa8.blogspot.com.br/2015/12/boas-perspectivas-para-intercambio.html