Octavio Pessoa
Tal como a incontinência urinária, a incontinência
intestinal e outras afins, espalha-se agora outra incontinência tão perniciosa quanto
as suas semelhantes, a Incontinência Digital.
O portador da Incontinência
Digital não resiste à coceira incontrolável na ponta dos dedos e, junto com
as numerosas mensagens de autoajuda, replica as notas bombásticas que invadem
as mídias eletrônicas, especialmente quando o conteúdo da nota “bate” com o
ponto de vista que ele sustenta, a maioria das vezes absorvido por osmose de
falsos formadores de opinião.
O
Incontinente Digital é um assíduo
frequentador dos grupos do wathsapp. Ele não percebe que a maior guerra dos
dias atuais é a provocada e estimulada pelos fabricantes de opiniões a serviço
deste ou daquele interesse, que encontram nos Incontinentes Digitais os seus maiores aliados no processo de
viralização das fake News. Parece que o Incontinente
Digital sente verdadeiro orgasmo ao ingenuamente prestar valorosa
colaboração no espalhamento das falsas notícias. O relacionamento do produtor
de falsas informações e o Incontinente
Digital é como o da tampa e do penico.
A
Incontinência Digital tem cura? Há
controvérsias. Há sim paliativos como, por exemplo, contar até mil antes de dar
vazão à incontrolável urticária dos dedos diante das notícias e informações
extravagantes, especialmente quando elas contêm opiniões com a qual o
portador dessa Incontinência se
identifique.
Os
Incontinentes Digitais parecem sofrer
de outros males como aversão às leituras substanciosas e à reflexão consciente
sobre o que leem e veem.
Riobaldo,
personagem do clássico “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa, escrito
em meados de século passado, parece referir-se aos Incontinentes Digitais com essa tirada filosófica: “O senhor deve
de ficar prevenido: esse povo diverte por demais com a baboseira, do traque de
um jumento formam tufão de ventania. Por gosto de rebuliço. Querem porque
querem inventar maravilhas glorionhas, depois eles mesmo acabam crendo e
temendo. Parece que todo mundo carece disso”.
Antes de dar vazão à
sua Incontinência Digital lembre-se
das palavras do personagem de Guimarães Rosa. E não faça “Do traque dum jumento um tufão de ventania”.
Como diz a música "inteligência ficou cega de tanta informação". O importante é refletir com serenidade sobre a veracidade das mensagens e evitar o repasse de notícias alarmantes e falsas! Parabéns pela escrita sempre excelente, com referência ao melhor da Literatura, caso da obra de Rosa!
ResponderExcluirObrigado querida Ana Celeste.
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