O
“culpado” por essa crônica é o meu colega jornalista Elias Ribeiro Pinto, que
me introduziu na literatura de Haroldo Maranhão. Sim, eu conhecia Haroldo por saber
de sua obra, mas nunca havia lido uma delas.
No
embalo da leitura da coluna literária do Elias, fui na abertura da Feira
Pan-Amazônica do Livro e Multivozes e me dirigi diretamente ao estande da Imprensa
Oficial do Estado do Pará, onde comprei o livro Flauta de Bambu, do Haroldo
Maranhão, reeditado pela IOEPA e prefaciado por Elias, um lutador pela preservação
da literatura amazônica e O Último dos Moicanos da crítica literária no
jornalismo brasileiro.
Leitor
voraz, ali mesmo na Feira comecei a me deliciar com a obra haroldiana. Dentre
tantas primorosas chamaram-me atenção especialmente duas crônicas que se
completam aliás um estilo do autor, inaugurar um assunto numa crônica e dar-lhe
continuidade na subsequente.
Pois
bem, nessas duas crônicas o autor narra o sumiço de um livro que ele tanto
prezava. Até por conter autógrafo do autor, um poeta de renome
nacional e internacional que Haroldo admirava a ponto de visitá-lo sempre que
ia ao Rio de Janeiro.
Foi
esquecimento, furto de uso, má fé, apropriação indébita ou tudo isso junto? O
leitor decidirá quando saborear o Flauta de Bambu. Só que depois de anos Haroldo,
usando inteligente estratégia, conseguiu tê-lo de volta. A estratégia? você saberá ao ler o livro.
Esse fato narrado por Haroldo Maranhão acendeu em mim uma terna
saudade. Fez-me lembrar situação semelhante que eu vivi e ainda vivo.
Foi
nos anos 80. Vivia-se no Brasil o processo e abertura política e o prenúncio do
fim da ditadura de 64. Então, os jornalistas Raymundo Pereira e Mino Carta
lançaram uma série de fascículos a que deram o título de Retrato do Brasil. Nesses
fascículos, a História do Brasil foi narrada à luz do materialismo histórico desde
o Império até aquele precioso momento da redemocratização do país que eu ainda
jovem como tantos outros, vivi e participei. (Pena que as conquistas alcançadas
correm sério risco de irem para a lixeira da História, na presente quadra da
vida nacional).
Mas sim, desde a leitura do projeto do Retrato do Brasil eu
compreendi o quanto ele ia ser interessante especialmente como fonte de
pesquisa nos tempos futuros. Por isso, toda semana eu ia até a banca de revista
próxima ao meu local de trabalho, adquiria o meu fascículo, lia avidamente e
guardava com todo carinho. Suprema glória pra mim foi quando concluídos os
capítulos, eu recebi as capas duras para os textos, para as entrevistas com
quase todas as figuras da política e economia brasileiras que concorreram para o
processo de abertura do regime. Esse volume das entrevistas era de menor tamanho.
E além disso havia o box para guardar os gráficos de demonstrações estatísticas
dos assuntos tratados.
Retrato
do Brasil era a obra de maior valor histórico e afetivo de minha biblioteca pessoal.
Só que a minha boa vontade de ajudar levou-me a emprestar ora para um ora para
outro, às vezes um volume, outras vezes a coleção toda. Lembro-me muito bem de
uma aluna da UFPA, salvo engano do curso de Ciência Política, que ao
devolver-me os volumes, emocionada me disse que a nota máxima que alcançara devia-se
muito à leitura daquela obra. Outras vezes emprestei o meu tesouro e devo
dizer que, a essa época, era um verdadeiro entra e sai de pessoas no meu escritório.
O fato é que um belo dia me deparei com a ausência da minha amada coleção.
Ainda cheguei a perguntar a algumas pessoas mas todas me responderam não estar
com elas. Com muita pena me resignei a não mais ver aquela que foi a obra mais cara.
Pois é. A leitura das crônicas História do Meu Mafuá e a seguinte O “Mafuá do Malungo”, de Haroldo Maranhão, no gostosíssimo livro
Flauta de Bambu me trouxeram à mente esse fato triste da minha vida de
eterno aprendiz. Aí eu fico pensando será que terei a mesma sorte que teve
Haroldo com sua estratégia, usando os recursos da época? Bom, os tempos são
outros, os recursos de comunicação incomparavelmente mais eficientes e eficazes.
O
resto é com você que tomou emprestado minha coleção e esqueceu de devolver. Devolva-me
mesmo com esse não pequeno atraso e faça um seminovo
rsrsrs feliz.