É sui generis a realidade
que vivemos. Duas guerras se desenvolvem simultaneamente. Guerras contraditórias
e complementares.
De um lado a guerra do
mundo da ciência contra um inimigo invisível, o Covid-19, o vírus que provocou
a maior alteração no nosso modo de viver e de interagir com a realidade, que
agora se acentua e se diversifica ante as mutações do vírus original.
Com o surgimento do inimigo, num curto espaço de
tempo vacinas foram desenvolvidas e testadas nos países mais avançados. Com a
validação das vacinas pelas instituições acreditadas, elas passaram a ser
aplicadas de forma racional e inteligente na maioria dos países especialmente
os do primeiro mundo. E os que tinham condições de fazer e não o fizeram em
tempo por motivos inconfessáveis, como é o caso os Estados Unidos, depois tiveram
que correr atrás do prejuízo. No Brasil as vacinas foram adotadas depois de
muita relutância dos poderes decisórios, sob pressão dos cientistas e da
imprensa. Ainda assim, a adoção se deu de forma lenta e relutante, após muita
negação da validade do uso da vacina. Isto nos levou à realidade que ora
vivemos.
Nesse contexto de pandemia, médicos e paramédicos
dedicaram-se e dedicam-se a socorrer as vítimas do terrível vírus, honrando o
compromisso de consagrar a vida a serviço da humanidade, à saúde e ao bem-estar
dos pacientes.
A luta é inglória. Esses profissionais são também
seres humanos. Sofrem os efeitos das longas jornadas, da estrutura deficiente
da maioria dos hospitais brasileiros e do natural cansaço decorrente das
condições em que trabalham. Levantamento do Conselho Nacional de Medicina, de
outubro do ano passado, revela que até então 58 profissionais haviam morrido em
São Paulo. O Estado do Pará vinha em segundo lugar com a perda de 51 discípulos
de Hipócrates e o Rio de Janeiro com 50. É certo que a esta altura, março de
2021, esses números estão defasados.
Ainda assim, médicos e paramédicos continuam na
sua messe, deixando a família em segundo plano, muitas vezes com filhos
pequenos e pais idosos. Quase não tem mais vida social. Enfim, é uma luta sem
equilíbrio entre as partes contendoras.
Na contramão disso, desenvolve-se uma guerra
paralela com o sinal trocado, estimulada por quem deveria defender a população.
Em primeiro lugar pelo negacionismo leviano e renitente
que prevaleceu por largo tempo. A virose seria apenas uma gripezinha. Mediante o
afastamento do staff governamental de auxiliares sintonizados com a ciência.
Com a negação da importância do uso de máscaras em locais públicos e pelo mau
exemplo, estímulo velado ou ostensivo às turbas enfurecidas que apregoam a
desestabilização dos poderes da República. Pelo esvaziamento dos setores
sociais como Educação e Saúde, com a designação de ministros que nada entendem
dos assuntos da respectiva pasta. E altos investimentos na indústria de guerra
e facilitação da venda de armas à população, viabilizando o incremento das
milícias que já dominam extensos territórios nas capitais e grandes cidades
brasileiras. Além da formação de grupos paramilitares acionáveis num estalar de
dedos.
Esta guerra é tão perniciosa quanto a dizimação causada
pelo Coronavirus, que infelizmente vai continuar matando a população. Com uma
particularidade, agora o andar de cima da pirâmide social também está sendo
atingida, ao contrário da fase inicial em que as vítimas eram muito mais os brasileiros
das classes menos favorecidas.
Octávio Pessôa é Bacharel em Direito e Jornalismo pela UFPA.
Foi locutor de rádio e escreve em jornais impressos, sites e no http://blogdooctaviopessoa8.blogspot.com/ Em 2015 editou o livro de crônicas Causos Amazônicos, reeditado em 2018. Em
2020 publicou o romance/documentário Asas
de um rio- A saga dos Catalinas na Amazônia. Poeta bissexto, Octávio é
imortal da Academia Maçônica de Letras do Estado do Pará e da Academia Paraense
de Jornalismo.
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