Foi numa
Live da Loja de Estudos George Washington 87, da Grande Loja Maçônica do Estado
do Pará/Glepa, que eu o conheci. Era eu o palestrante do dia e abordava a
temática A Família Maçônica e as Fakenews. Os irmãos de Loja e eu tivemos a grata
satisfação de contar com a presença de um irmão de outro Oriente, naquele
encontro virtual.
A interação
foi muito boa e, acabada a sessão, ele e eu passamos a “trocar figurinhas”. Afinidades
se evidenciaram e passamos a interagir por meio eletrônico.
Ele também é escritor e poeta (vez ou outra eu também “cometo” poesias rsrsrs) mas a “minha” é realmente a prosa, em artigos, crônicas, contos, romances e afins. Vibrei quando recebi três obras de autoria do meu novo amigo. Também lhe enviei um exemplar das minhas obras.
tecido filigranado de sentimento. A natureza está sempre presente. Casa a simplicidade do estilo com a boa escolha do assunto, revestido de uma graça no dizer de que não falta repórter aqui e ele, uma flor do sertão, revela sua destreza e domínio da escrita que precisa dizer tudo de forma clara e direta”
Nessa
crônica que dá título ao livro, o autor registra que “Se as pessoas calam, as pedras
falam” e ressalta que o recado das pedras sacode as pilastras que sustentam a
estrutura social pois quase sempre são atos e fatos praticados, por ação ou
omissão, por quem detém o poder legitimado pelo povo. E registra que sem uma ação humanizadora e
eficaz “as pedras continuarão a cantar”.
Alguns dos petardos: O rastro da barbárie, Quem nos garante o futuro?, Assim caminha a humanidade!, Ambição e ódio, Este ano tem espetáculo? Tem sim senhor!, Ao vencedor as batatas, O avesso do avesso, Será que vai cair água?
As atitudes denunciadas pelo autor ocorrem, infelizmente, em quase todos os lugares do nosso país e merecem ser denunciadas. E combatidas. Que suas pedras cantem e continuem cantando, meu prezado amigo e irmão.
Noutro
livro, Filhos do Asfalto, o sentimento e o estilo do autor também são presentes.
São 45 crônicas em que ele denuncia episódios do cotidiano de sua terra e sua
gente. É o trânsito engarrafado, o desespero de passageiros nas paradas e o
inferno dentro dos ônibus, o consumismo estimulado e absorvido pelas massas, as
questões de saúde do povo mal resolvidas e as propinas pagas para receber um
atendimento mais digno a quem é pago para cuidar da saúde do povo. E outras
mais.
O fato do
autor denunciar injustiças não faz dele um ser amargo ou desprovido de
sentimentos. Pelo contrário. Em seu livro de poemas Minha vida em sua boca, ele
ressalta a delicadeza da alma humana, em poemas eróticos onde a lascívia está
presente sem resvalar na pornografia ou no grotesco.
Já no
prefácio, a mestra em Teoria da Literatura pela PUC/RS e professora de Teoria
Literária, Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa e Literatura Ocidental,
Joselita Izabel de Jesus, realiza um verdadeiro ensaio sobre as formas de
proibição do desejo humano na família, nas religiões, na escola, na Ciência e
especialmente no mundo do trabalho. É aquilo que Georges Bataille, em seu
ensaio sobre o erotismo chamou de interditos.
Diz
Joselita que a literatura erótica se impõe como eficaz instrumento de
transgressão. E acrescenta que nesse contexto se insere Minha vida em sua Boca,
que pode soar agressiva “aos leitores mais comportados”, a quem ela sugere a
leitura de Sonetos luxuriosos, de Pietro Arentino, Os 120 dias de Sodoma ou A
escola da libertinagem, do Marquês de Sade. Bem como Diário de um fascenino, de
Rubem Fonseca, Prêmio Camões de Literatura, 2003. Diante dessas obras e da
tetralogia de Hilda Hist (Cartas de um sedutor; A obscena senhora D; Contos
d’escárnio: textos grotescos; e o Caderno de Rosa de Lori Lamby), diz Joselita,
“o recatado leitor vai considerar os poemas de Minha vida em sua boca, bem
amenos, quase sacros”. Para a prefaciadora, os poemas de Minha vida em sua boca
são genuínos exemplos de textos eróticos. Raciocínio que eu acompanho e assino
em baixo.
Mas afinal, quem é esse autor que concilia o justo arroubo contra as injustiças em suas crônicas e a sensualidade e o erotismo em seus poemas?
É Francisco de Assis Sousa. Nascido em São Julião, no sul do Piauí, é graduado em Letras/Português pela Universidade Estadual do Piauí, com especialização em Linguística pela Universidade Federal do Piauí, em Literatura Brasileira e Planejamento e Política Educacional pela URCA. Dedicado à Educação e às Letras, ele ensina a juventude estimulando o hábito da leitura. Mais que professor ele é um verdadeiro Mestre, na minha avaliação.
Francisco,
que é autor também de A margem esquerda do rio (Poesia, 2007), Sorria, enquanto
é tempo! (Crônicas/2011) e O visionário (Ensaio biográfico), é membro da
Academia de Letras da Região de Picos ─ ALERP, tendo recentemente assumido
a presidência daquela Academia.
Bônus ao
leitor:
Alguns
poemas extraídos de Minha vida em sua boca:
DESNUDA:
O meu olhar de cachorro vadio
desertifica o seu corpo em
fragmentos nus
Ao tempo em que as peças vão caindo
a minha mão
por dentro atiça desejos
Por fim
o último véu se esvai
as cortinas se abrem
e a música não quer mais parar.
A BUNDA
A bunda que passa
sorridente na avenida
não sabe que seu ritmo
me alucina.
Num sobe e desce,
desce e sobe,
direita, esquerda
esquerda, direita
ela vai sumindo,
sumindo, sumindo
até se que se perde do núcleo
óptico
das minhas retinas.
CHAMA
Debaixo do lençol
minha flor descansa
escancara a chama
e chama.
Um convite à leitura, em destaque as obras do amigo irmão nordestino Francisco Assis Sousa! O nome nos remete ao despojamento e engajamento social. Parabéns Francisco pelas letras que (en)cantam! Valeu a dica Octavio Pessoa!
ResponderExcluirUma obra delicada que encanta e afoguea a alma. Obrigada, Octávio Pessoa☺️
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