BUEN CAMINO - Relatos de uma viagem.
(Resenha do livro solicitada pela
autora Josette Lassance. Publicado originariamente na minha página do Facebook,
em 7 de julho de 2021)
“O caminho é um aprendizado e uma grande loucura
que só sente quem o faz. Bebo vinho para sonhar ao que vim e para o que sinto
de verdade. Ninguém pode afirmar ao certo o que você possa sentir — o
sentimento está tão dentro, tão fundo — e minha conquista é o percurso, não
apenas a beleza do lugar, é mais pelo pulsar verdadeiro do que está vivo” diz a
escritora paraense Josette Lassance em seu livro BUEN CAMINO – Relatos de
Viagem, Editora Paka-Tatu, 2019.
A autora logrou certamente alcançar o propósito místico
e ancestral do Caminho de Santiago.
Caminhar é também uma forma de sonhar por um
pensamento que nos satisfaça e também um percurso através da vida. Uma forma de
aprender, antes de morrer, a abandonar o que nos torna nocivos e a nos entregar
às nossas vontades mais verdadeiras, diz Josette que é professora de História e
Artes Visuais e pós-graduada em Artes, autora de diversos livros e com
participação em diversas antologias.
Muitas são as explicações para o culto a Santiago e
a razão para se percorrer os caminhos que levam a Santiago de Compostela,
cidade da província de Corunha, capital da unidade autônoma da Galiza, no
nordeste espanhol. A mais aceita é a de que, vindo da Terra Santa no ano 34
d.C., o apóstolo Santiago pregou pela primeira vez em Iria Flávia, cidade
próxima de Compostela. Sua ação evangelizadora muito incomodava, razão por que
foi perseguido e morto por decapitação na Judéia. Muito querido por seus
discípulos, dois deles, Teodoro e Atanásio, levaram de barco o corpo e a cabeça
de Santiago até Padron que então, era o porto de Iria Flávia. Eles teriam
enterrado os restos mortais de Santiago no monte Libredón, onde hoje se ergue a
catedral de Santiago. Na virada do século oitavo para o nono, o rei Afonso II
das Astúrias, o Casto, teria sido o primeiro a peregrinar até Santiago. Ele
mandou construir uma igreja no local onde, reza a lenda, estão os restos
mortais de Santiago. Ali se estabeleceu uma comunidade religiosa permanente que
com o passar dos anos tornou-se um dos principais centros de peregrinação da
cristandade. As rotas se estenderam por toda a Europa cristã, aumentando a cada
ano o afluxo de peregrinos. Muitos desses ao longo do seu Caminho de Santiago
refletem sobre sua vida e não raramente voltam pessoas muito melhores.
No final da obra, Josette relaciona as cidades da
rota francesa, dá sugestões do que levar durante o caminho e fala também da
credencial do peregrino — documento semelhante a um passaporte que identifica o
peregrino, que deve apresentá-lo nos lugares em que chega. Hoje essa credencial
simboliza que o detentor é alguém que fez a peregrinação com sentido cristão,
mesmo que seja uma atitude de busca. O livro é portanto uma leitura recomendada
para se conhecer a temática e especialmente para quem sonha um dia realizar o
seu Caminho de Santiago.
BUEN CAMINO, prefaciado pelo poeta e professor de
Poéticas e Cultura Amazônica, da UFPA, João de Jesus Paes Loureiro, que no
final ressalta não ter Josette queimado os objetos usados no seu Caminho de
Santiago, em Finisterra – cidade que por muito tempo foi considerada o fim do
mundo por situar-se no extremo sul de uma península. Essa queima dos objetos em
Finisterra é uma práxis tradicional para os que fazem o Caminho de Santiago.
Ela optou por escrever seus desejos e colocá-los sob a pedra das promessas. Daí
conclui Jesus “Só a palavra poética resiste ao fogo, às cinzas, ao fim da
terra, às chamas ardentes do tempo”.
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