sábado, janeiro 29

 

                                        BUEN CAMINO - Relatos de uma viagem.

 

(Resenha do livro solicitada pela autora Josette Lassance. Publicado originariamente na minha página do Facebook, em 7 de julho de 2021)

 

“O caminho é um aprendizado e uma grande loucura que só sente quem o faz. Bebo vinho para sonhar ao que vim e para o que sinto de verdade. Ninguém pode afirmar ao certo o que você possa sentir — o sentimento está tão dentro, tão fundo — e minha conquista é o percurso, não apenas a beleza do lugar, é mais pelo pulsar verdadeiro do que está vivo” diz a escritora paraense Josette Lassance em seu livro BUEN CAMINO – Relatos de Viagem, Editora Paka-Tatu, 2019.

 

A autora logrou certamente alcançar o propósito místico e ancestral do Caminho de Santiago.

 

Caminhar é também uma forma de sonhar por um pensamento que nos satisfaça e também um percurso através da vida. Uma forma de aprender, antes de morrer, a abandonar o que nos torna nocivos e a nos entregar às nossas vontades mais verdadeiras, diz Josette que é professora de História e Artes Visuais e pós-graduada em Artes, autora de diversos livros e com participação em diversas antologias.

 

Muitas são as explicações para o culto a Santiago e a razão para se percorrer os caminhos que levam a Santiago de Compostela, cidade da província de Corunha, capital da unidade autônoma da Galiza, no nordeste espanhol. A mais aceita é a de que, vindo da Terra Santa no ano 34 d.C., o apóstolo Santiago pregou pela primeira vez em Iria Flávia, cidade próxima de Compostela. Sua ação evangelizadora muito incomodava, razão por que foi perseguido e morto por decapitação na Judéia. Muito querido por seus discípulos, dois deles, Teodoro e Atanásio, levaram de barco o corpo e a cabeça de Santiago até Padron que então, era o porto de Iria Flávia. Eles teriam enterrado os restos mortais de Santiago no monte Libredón, onde hoje se ergue a catedral de Santiago. Na virada do século oitavo para o nono, o rei Afonso II das Astúrias, o Casto, teria sido o primeiro a peregrinar até Santiago. Ele mandou construir uma igreja no local onde, reza a lenda, estão os restos mortais de Santiago. Ali se estabeleceu uma comunidade religiosa permanente que com o passar dos anos tornou-se um dos principais centros de peregrinação da cristandade. As rotas se estenderam por toda a Europa cristã, aumentando a cada ano o afluxo de peregrinos. Muitos desses ao longo do seu Caminho de Santiago refletem sobre sua vida e não raramente voltam pessoas muito melhores.

 

No final da obra, Josette relaciona as cidades da rota francesa, dá sugestões do que levar durante o caminho e fala também da credencial do peregrino — documento semelhante a um passaporte que identifica o peregrino, que deve apresentá-lo nos lugares em que chega. Hoje essa credencial simboliza que o detentor é alguém que fez a peregrinação com sentido cristão, mesmo que seja uma atitude de busca. O livro é portanto uma leitura recomendada para se conhecer a temática e especialmente para quem sonha um dia realizar o seu Caminho de Santiago.

 

BUEN CAMINO, prefaciado pelo poeta e professor de Poéticas e Cultura Amazônica, da UFPA, João de Jesus Paes Loureiro, que no final ressalta não ter Josette queimado os objetos usados no seu Caminho de Santiago, em Finisterra – cidade que por muito tempo foi considerada o fim do mundo por situar-se no extremo sul de uma península. Essa queima dos objetos em Finisterra é uma práxis tradicional para os que fazem o Caminho de Santiago. Ela optou por escrever seus desejos e colocá-los sob a pedra das promessas. Daí conclui Jesus “Só a palavra poética resiste ao fogo, às cinzas, ao fim da terra, às chamas ardentes do tempo”.


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