quarta-feira, novembro 26

MIL VEZES BOA NOITE, C QUE SABE!



          Após assistirmos a um “filmaço”, no Caixa Belas Artes (Consolação próximo à Paulista), aleatoriamente escolhi um restaurante das redondezas e acertei “na mosca”. Experiência inesquecível para um casal paraense numa segunda-feira à noite na capital paulista.

          O filme foi “Mil Vezes Boa Noite” de Erike Poppe, com Juliette Binoche, uma destemida repórter fotográfica de guerra que por conta da arriscadíssima profissão recebe um ultimato do marido e de uma das filhas. Drama humano que confronta os valores de família com a realização profissional de quem “já sabe quem é”, como diz a personagem Rebecca, de Juliette, à filha. O filme evidencia nossa visão parcial acerca do mundo árabe e seus homens, mulheres e crianças bomba, evidencia a miséria absoluta dos países africanos explorados pelas potências econômicas e escancara a manipulação das informações jornalísticas pelos “donos do poder”. O bom é que, como a reforma do antigo Cine Belas Artes foi subsidiada com recursos públicos, além de só passar filmes de qualidade naquele espaço cultural, o ingresso é baratíssimo, se comparado com os cinemas comerciais. Vale a pena conferir o filme e , se possível, o espaço.

          Mas o melhor estava por vir. O GPS me guiou para a Cantina “C...Q Sabe!”, um espaço que concilia a alta qualidade da comida com a descontração do ambiente, além da simpatia dos garçons, dos cantores e principalmente do Chef Proprietário, Bruno Stippe. Fica no perímetro do bairro da Bela Vista conhecido como Bixiga, em frente ao Teatro Sérgio Cardoso e próximo ao Teatro Zaccaro.

          Mesmo numa segunda-feira a casa estava movimentada. Nos fins de semana “sai gente pelo ladrão”, pelo que eu soube, mas a espera não é tanta dada a expressiva quantidade de mesas distribuída nos diversos ambientes que tem uma decoração própria, tornando o ambiente mais acolhedor. Quando for lá, não se assuste com o ruído da queda de uma bandeja, você vai ouvir tantas outras vezes. Isso faz parte da animação de uma casa típica, com toda festividade das famílias italianas.

          Aliás, a história da “C...Q Sabe!” vem de longe. De outras casas tipicamente italianas que o avô de Bruno e a esposa dele foram abrindo em São Paulo, desde que chegaram ao Brasil, em 1931 e com elas foram ganhando prêmios e a simpatia de todos que desejavam uma boa comida italiana.

           Em 82 surgiu a “C...Q Sabe!”, já com a segunda geração dos Stippe, o velho Roberto Gordo, pai de Bruno, que foi bi-campeão dos festivais de espaguete em São Paulo. Hoje é Bruno, os filhos e outros familiares que comandam essa alegre cantina italiana, conhecida como a Casa da Tarantella.

          Além de Chef Proprietário da “C...Q Sabe!”, Bruno é sócio do Ristorante Acchiappafantasmi, no Centro Histórico de Roma, presidente  da Federação Italiana de Chefs/FIC do Brasil e América Latina, Chef Cavaliere da Casa Real do Príncipe Cernetic da Albânia e Montenegro, Chef Instrutor de Cozinha Internacional em Pós Graduação e MBA na Universidade Paulista/UNIP, Chefe Professor de Cozinha Italiana, no Centro Europeu (Curitiba/PR), além de apresentador do programa semanal de TV, “Pilotando o Fogão”.

Com toda essa bagagem, Bruno se considera simplesmente um cozinheiro. “Pra que mais?” diz ele. Num bom italiano “Semplecemnte um cuoco...niente piu!”. E vai de mesa em mesa, falando com os freqüentadores de sua casa, distribuindo a simpatia que Deus lhe deu. Celeste e eu tivemos a felicidade e a honra de encerrarmos a noite e o expediente da cantina, com Bruno em nossa mesa, “jogando conversa fora” conosco, após a degustação do melhor nhoque que já comemos, regado a um bom Cabernet Sauvignon.


Foi um “questionamento de afins”, como dizia Artur da Távola, porque Bruno se revelou grande admirador da culinária paraense e amazônica, dizendo que uma de suas maiores oportunidades de enriquecimento enquanto profissional da cozinha foram os seis meses que passou no Pará, quando “se internou” no Marajó e em Santarém, tudo isso para conhecer os temperos e a forma de fazer da comida brasileira autenticamente nativa, a amazônica, na avaliação de Bruno. Identificamos amizades em comum, como o Chef Fábio Sicília, do Restaurante Família Sicília, um dos melhors de Belém, dentre outros profissionais que também são do relacionamento pessoal de Bruno, conversamos também sobre pessoas da minha família identificadas com o ramo de alimentos e ainda, sobre imigração italiana na Amazônia. Bruno está intimado a estar conosco no Círio de Nazaré de 2015.

Serviço:
Cantina "C...Q Sabe", a Casa da Tarantella
Rua Rui Barbosa, 192, Bixiga – Bela Vista – São Paulo/SP
www.cantinacqsabe.com.br

quarta-feira, outubro 8

ACORDA É CÍRIO

Há dias vinha pesando em inserir neste blog um poema temático do Círio de Nazaré, nesta época que antecede a festa maior dos paraenses, católicos ou não. Afinal a cidade pára e queiramos ou não, tudo gira em torno do Círio de Nazaré em Belém do Pará. Além do que, há muito o Círio ultrapassou a dimensão de manifestação religiosa. Atualmente é uma festa de contágios, de gente, tanto que foi agora reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade.

Mas eu queria algo diferente. Um poema que descrevesse o Círio com simplicidade e de preferência em “paraensês”. Algo com que o leitor ou o ouvinte visualizasse a procissão do Círio, ao ler o poema ou ao ouvir sua declamação. Acho que o inconsciente coletivo e a lei da sincronicidade universal tramaram a favor.

Foi na retomada dos saraus da Sociedade dos Poetas Vivos. Uma iniciativa do poeta, escritor, pesquisador e arte-educador Antonio Juraci Siqueira, o Boto, no início dos anos 90, uma metáfora para o sucesso de bilheteria estrelado pelo recém-falecido Robin Wiliams “Sociedade dos Poetas Mortos”, em que estudantes se reuniam numa caverna para declamar poesias de poetas mortos. À época, Juraci propôs “Se no filme os estudantes reuniam-se numa caverna, por que não nos reunirmos em praça pública para declamarmos poesias de poetas vivos?”. A adesão foi maciça. Muitos saraus da Sociedade dos Poetas Vivos aconteceram.

Há anos os poetas vivos não se encontravam. Na sexta-feira, dia 3 de outubro, foi realizado o primeiro sarau deles deste milênio. Foi no anfiteatro da Praça da República, numa noite de lua cheia, com muita poesia regada a vinho.

Paulo Guedes
Pois bem, dentre os tantos poetas presentes no evento estava Paulo Guedes. Chamou muito minha atenção um poema de autoria dele declamado por ele. Era exatamente o que eu estava procurando. Conversamos bastante e demos uma “esticada” pela noite. Saldo da noitada, a autorização de Guedes pra a inserção de seu poema neste blog. É com esse poema que eu brindo o amigo leitor, desejando-lhe Feliz Círio e muita harmonia em sua confraternização ciriana, sob as bênçãos de Nossa Senhora de Nazaré: 


ACORDA É CÍRIO

Domingo, o segundo de outubro,
o galo acorda a madrugada
acorda todo mundo e descubro
que até a corda já está acordada!

O galo acorda e o povo canta
o canto acorda o badalo
o badalo acorda o sino
o sino, a corda, a Santa,
a Santa acorda o peregrino,
o romeiro, a corda, o regalo.

A Sé acorda a fé
a fé acorda Belém
Belém acorda a pé
a família devota vem.

A corda acorda a mão
a fé é a mão na corda
a pé, na corda, é devoção,
a corda com mãos engorda.

A corda não é pra qualquer um
qualquer um pega corda
ninguém vai à corda em jejum
a corda não é para açorda.

A corda acorda todo mundo
acorda rico, acorda pobre,
acorda nobre, acorda anônimo,
arrasta sono, arrasta ânimo,
arrasta sobre, arrasta e encobre,
arrasta um milhão em um segundo!

A corda arrasta o romeiro
“o pagador de promessas”
arrasta quem se sente sozinho
arrasta até os ateus nas pressas
arrasta tudo o que tem no caminho
pororoca de gente, tsunami brasileiro.

gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente
acordacordacordacordacordacordacordacordacordacordacordacorda
gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente

égua do imã de gente
vem gente, vem muita gente
de ver gente, vem divergente
do continente, vem contingente
vem indiano, vem indigente
vem hindu, vem indulgente
vem punk com pingente, vem pungente                                            
vem até o cético, sempre intransigente
égua do imã, Círio de gente
nunca vi (tanta) gente, vigente
das águas, vem o emergente
do convés, vem o convergente
que infringe, vem o infringente
que exige, vem o exigente
que interliga, vem o inteligente
que rege, vem o regente
que dirige, vem o dirigente
que reage, vem o reagente
se for polícia, vem o agente
se fede e pode deter, vem detergente
mesmo que não seja urgente
mesmo que seja adstringente,
rogo que seja abrangente,
porque nunca vi tanta gente,
isso, sim, é tangente,
Ó imagem imanente
égua do imã de gente
vem gente, vem muita gente!

A gente tem mãos
as mãos que tiram a corda do rolo
a corda que puxa o andor da Santa na berlinda
a berlinda que conduz a Virgem com o menino no colo
o menino Jesus despido com o globo terrestre em suas mãos...

Ah, essas mãos!
une a mão na mão
gruda a mão n’outra mão
cola a mão na palma da mão
é um aperto de mão
tem mão na contra mão
tem muita mão na corda
é uma corda de mão
é um carro de mão
é corrente de mão
é correnteza de mão
é corrimão
é quilômetro de mão
um século de mão
uma procissão de mão
toda a fé na mão
toda corda na mão
a mão que sangra, irmão
imploro de antemão
a mão tem que ir, irmão
a carne viva na mão
por favor, puxem o freio de mão!
Égua, é muita mão!                                                                        

gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente
mãonamão  naoutramão  apertodemão muitamão cordademão carrodemão        
corda corda corda corda corda corda corda corda corda corda corda corda
mãocordademão carrodemão correntedemão correntezademão corrimão
gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente

a gente sente calor
a gente sente sede
a gente sente dor
a gente sente fome
a gente sente gente
atrás da gente, rente
ao lado e na frente
pisando a gente sente
chorando no asfalto quente
égua, é muita gente
égua, queremos água
água para beber
água para molhar
água para viver
água para pisar
água, a gente quer
água, muita água
água mineral
água bem gelada
água natural
água batizada
água de poço
água torneiral
água de coco
égua, cadê a água?


Santa, o povo mira em ti
haja brinquedo de miriti
brinquedo leve que encanta
cata-vento, girândola, tem aqui,
só não vi nenhum de anta
eu queria um bem-te-vi
cobra pequena num adianta
bacana é cobra grande, sucuri,
tem até barco de miriti
criança não cabe em si
égua, nunca vi tanto miriti!

Tem muitas imagens em cera:
na verdade, feitas em parafina,
cabeça ou perna é grossa,
já a vela do círio é fina.                                                                      

A procissão agora existe
e pé no asfalto é gestação
e a bolha d’água no dedo insiste
e assim começa a peregrinação!

Barcas são veículos,
carros são andores,
guardas são vínculos,
anjos são pecadores,
políticos são pávulos,
Fogos? São estivadores!

Aí começa a chover papel
junto aos fogos de artifícios
parece uma festa santa no céu
que encanta os caboclos beócios
aí começa o delírio, abençoado escarcéu,
aí começa o Círio para os convertidos ímpios!

A berlinda em cedro vermelho
estilo barroco, coberta de flores
no Sol, a Santa brilha mais que espelho
sob o manto bordado e cravejado de cores

Aos pés da Virgem Santa
a cabeça alada de um anjo
expressa o símbolo iconográfico
da incomensurável Glória Celestial
brilham raios num esplendor que acalanta
advindos do Altar Mor no seu divino arranjo
e resplandece no presbitério o nicho ideográfico
Ó Mãe com seu manto canônico sob a redoma de cristal!

Ah, o seu alvo manto canônico
ornado com fios e enfeites de ouro
triângulo símbolo e sinal mnemônico
Ó manto santo, vestes um divino tesouro!

promessapromessapromessapromessapromessapromessapromessa
miritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiriti
gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente
mãonamão  naoutramão  apertodemão  muitamão  cordademão  carrodemão
corda cordacordacordacorda SANTA cordacordacordacordacorda
mão  cordademão  carrodemão  correntedemão  correntezademão  corrimão
gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente
miritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiriti
promessapromessapromessapromessapromessapromessapromessa

Chegou à Praça Santuário!


Viva Nossa Senhora de Nazaré!




Claro que eu vou declamar “ACORDA É CÍRIO” para os amigos e familiares na confraternização  ciriana de minha casa. Tomara que eu consiga me aproximar da interpretação do autor.

P.S: O e-mail do Paulo Guedes é prcguedes@yahoo.com.br Ele está no Facebook com o nome Paulo R. C. Guedes

domingo, setembro 21

AINDA SOBRE CITAÇÕES ERRADAS NA INTERNET




            Volto ao tema porque recentemente vi no face o poema “Recomeçar” ou “Faxina da Alma” mais uma vez postado como obra de Carlos Drumond de Andrade.            O texto equivocado é postado assim:

RECOMEÇAR

Não importa onde você parou,
em que momento da vida você cansou,
o que importa é que sempre é possível
e necessário "Recomeçar".

Recomeçar é dar uma nova
chance a si mesmo.
É renovar as esperanças na vida
e o mais importante:
acreditar em você de novo.

Sofreu muito nesse período?
Foi aprendizado.

Chorou muito?
Foi limpeza da alma.

Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdoá-las um dia.

Sentiu-se só por diversas vezes?
É por que fechaste a porta até para os outros.

Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora.

Pois é!
Agora é hora de iniciar,
de pensar na luz,
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.

Que tal um novo emprego?
Uma nova profissão?
Um corte de cabelo arrojado, diferente?
Um novo curso,
ou aquele velho desejo de aprender a pintar,
desenhar,
dominar o computador,
ou qualquer outra coisa?

Olha quanto desafio.
Quanta coisa nova nesse mundão
de meu Deus te esperando.

Tá se sentindo sozinho?
Besteira!
Tem tanta gente que você afastou
com o seu "período de isolamento",
tem tanta gente esperando apenas um
sorriso teu para "chegar" perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza nem
nós mesmos nos suportamos.
Ficamos horríveis.
O mau humor vai comendo nosso fígado,
até a boca ficar amarga.

Recomeçar!
Hoje é um bom dia para começar
novos desafios.

Onde você quer chegar?
Ir alto.
Sonhe alto,
queira o melhor do melhor,
queira coisas boas para a vida.
pensamentos assim trazem para nós
aquilo que desejamos.

Se pensarmos pequeno,
coisas pequenas teremos.

Já se desejarmos fortemente o melhor
e principalmente lutarmos pelo melhor,
o melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da Faxina Mental.

Joga fora tudo que te prende ao passado,
ao mundinho de coisas tristes,
fotos,
peças de roupa,
papel de bala,
ingressos de cinema,
bilhetes de viagens,
e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados.
Jogue tudo fora.
Mas, principalmente,
esvazie seu coração.
Fique pronto para a vida,
para um novo amor.

Lembre-se somos apaixonáveis,
somos sempre capazes de amar
muitas e muitas vezes.
Afinal de contas,
nós somos o "Amor".

Porque sou do tamanho daquilo que vejo,
e não do tamanho da minha altura.

Carlos Drummond de Andrade

            Esse texto contém três equívocos. Primeiro, o poema original “Recomeçar” ou “Faxina da Alma” termina em  “nós somos o Amor”. Segundo, ele não é de Carlos Drummond de Andrade. Terceiro, “Porque sou do tamanho daquilo que vejo/ e não do tamanho da minha altura” é parte de um poema de Fernando Pessoa, acrescido indevidamente por mais um desavisado (ou não) internauta que fez o “favor” de assinar o poema acrescido como obra de Drummond.

            O falso poema de Drummond volta e meia ressurge na rede colocado por mais um incauto, empolgado com o conteúdo dele. Há mais de 5 anos, mais precisamente em 13 de fevereiro de 2009, o jornalista Maurício Stycer, repórter especial do IG, em extensa pesquisa “matou a pau” esse verdadeiro Festival de Besteira Que Assola O País, como diria o saudoso Stanislaw Ponte Preta.

            O verdadeiro autor de Faxina da Alma é Paulo Roberto Gaeke, programador que o publicou no site dele “Meu Anjo”, que bem humorado, esclarece que “Drummond deve revirar na tumba ao ver o meu texto com o nome dele”. Gaeke é autor de dois livros de poemas, publicados por conta própria no site que mantém desde abril de 2000. Até 2002,  Gaeke assinava  suas mensagens apenas com um bordão – “eu acredito em você” – e o seu primeiro nome, Paulo. “Daí virou uma festa”, ele conta. “Cada um repassava acrescentando um ponto e diversas mensagens minhas (mais de 2 mil) estão por ai sem a devida paternidade… como ‘Revolução da Alma’, que atribuem a Aristóteles (sic), ‘Paciência’, atribuída ao Jabor, e a clássica ‘Recomeçar’ (que também é conhecida por ‘Faxina na Alma’)”.

Acrescenta que em algum momento no ano de 2003, alguém acrescentou ao texto dele os versos “Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura” e assinou “Carlos Drummond de Andrade”. Tal citação foi entendida como se o texto inteiro fosse de Drummond, e se espalhou como praga pela Internet. Mas, lembra o verdadeiro autor do texto, esses versos não são do poeta mineiro, mas de Fernando Pessoa e estão em “O Guardador de Rebanhos”. “Quando eu pesquisei no Google a primeira vez, tomei um susto”, diz Gaefke, “esse texto estava em mais de 50 mil sites com autoria de Drummond. E para provar que era meu foi uma briga…”.

Realmente. Em pesquisa na Internet verificam-se diversas mensagens de Gaefke, em blogs e sites que publicaram o texto dele como de Drummond, chamando atenção para o equívoco quanto à autoria do Faxina da Alma.

            Segue adiante o poema completo de Fernando Pessoa, por meio de um de seus  heterônimos, Alberto Caeiro, que foi parcialmente acrescido ao texto de Gaefke e assinado como de Carlos Drummond de Andrade, com a parte acrescida em destaque.
“VII – Da Minha Aldeia
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura…

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe 
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos 
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”


segunda-feira, setembro 15

NÃO FAÇA DA INTERNET UMA “ARMA”. A VÍTIMA PODE SER VOCÊ.




          O alerta pra não se levar a sério tudo o que está na rede mundial não surpreende quem já “sacou” que a Internet é uma fonte secundária de informações, ou seja, alguém postou “nas nuvens” este ou aquele dado pretensamente verdadeiro, mas que nem sempre corresponde à realidade. A comodidade proporcionada pelo Dr. Google induz a erros que se agravam com a repercussão que fazemos da informação inverídica. É sempre aconselhável checarmos a veracidade do que vemos ou lemos na rede. Dá trabalho? É claro que dá.

          Nem me refiro à Wikipedia, que por sua natureza interativa, em que o usuário pode lançar ou acrescentar informações àquela enciclopédia virtual, é a fonte menos confiável da Internet.

          Cuidado redobrado com as citações é necessário. Estas são as campeãs de atribuição de autoria equivocada. Também ocorre com frequência publicação de textos que existem de verdade com atribuição de autoria diferente da verdadeira e ainda, textos de qualidade discutível escritos por pessoas que maliciosamente os atribuem a autores consagrados. Luiz Fernando Veríssimo e Arnaldo Jabour são exemplos de figuras públicas que já foram vítima desses “equívocos”. O efeito viral das postagens em rede potencializa o erro. Até o pretenso autor comprovar não ser dele o texto, o estrago já está feito.

          Certa feita a Lei de Murph, “se algo de errado pode acontecer, prepare-se porque vai acontecer” funcionou ironicamente a meu favor. Uma pessoa bem informada e “lida” me passou aquela citação “De tudo na vida ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...Portanto, devemos: Fazer da interrupção um caminho novo. Da queda um paço de dança... Do medo uma escada... Do sonho uma ponte...”, como se fosse de Fernando Pessoa. Gostei do conteúdo e guardei o texto.

          Mais adiante, vislumbrei a oportunidade de utilizar a citação. Inseri-a no fecho de um discurso que eu faria num evento em que a citação “cairia como uma luva”. Só que na última hora fui informado pelo cerimonial de que apenas a autoridade maior usaria da palavra. A essa altura, eu já tinha pesquisado na Internet, onde a frase veio sob forma de poema, com foto estilizada do Fernando pessoa, com óculos, guardachuva e tudo mais. Ante a informação do cerimonial, senti-me vítima da Lei de Murph. Havia pesquisado, preparado o discurso, mas por desconhecimento de regras, meu investimento de tempo foi pra lixeira. 
     
          Depois disso, participei de um treinamento que se encerrou com aquela frase, mencionando-se como autor Fernando Sabino. Fiquei “encucado” e discretamente questionei uma das consultoras quanto à “verdadeira” autoria. Ela me afirmou categoricamente ser de Fernando Sabino, mineiro que nem ela, na obra “Encontro Marcado”. Dada a convicção dela, mudei minha opinião sobre a autoria da sentença e passei a ficar com “um pé atrás” com as informações do Dr. Google, que na realidade é um sujeito passivo. Ele aceita passivamente a “aplicação" de qualquer um.

          Só que eu continuei perseguido por aquela frase. Eu já estava tranquilo com a certeza da autoria do Fernando Sabino, quando passados alguns meses ouvi de conhecida autoridade paraense, em seu discurso de despedida do cargo que ocupava, aquela frase com a sonoridade que lhe é peculiar e, “catapimba!”, lá o “indigitado”, visivelmente emocionado, atribuiu a autoria da citação a Fernando Pessoa. Aí minha cabeça “deu um nó”. Afinal de contas, o homem é culto. Acendeu-se então em mim o espírito de auditor, cargo que eu ocupava à época, em relação àquela citação. Pensei, agora só sossego quando tiver a comprovação da veracidade. O pior, não lembrava o título do livro que a consultora mencionara. Assim, passei a questionar as pessoas que eu considerava autorizadas a dirimir minha dúvida. Foram professores de literatura, mestres, doutores, até um reitor. Mas ninguém me respondia com segurança. A mim não interessava somente que alguém “matasse a cobra e mostrasse o pau”. Eu queria ver a cobra morta e segura pelo rabo.

Quem me tirou da aflição foi a professora, doutora em Fernando Pessoa, Amarilis Tupiassu. Colocada a par da minha questão, poucas horas depois me ligou informando que realmente a frase não é do Fernando Pessoa, mas do Fernando Sabino, na obra “Encontro Marcado”. Comentou comigo o momento em que a frase é escrita no romance, as circunstâncias em que os personagens se encontravam e por último, mencionou o número da página do livro.

Mais uma vez obrigado, professora Amarilis. Eu que nunca fui seu aluno, mas sei de sua competência, me tornei mais ainda seu admirador incondicional. Tanto assim que depois, submeti à sua apreciação as crônicas que então eu vinha escrevendo e foram inseridas no livro “Causos Amazônicos”, que na primeira edição foi chancelado com a sua opinião, juntamente com as do professor Oswaldo Coimbra e “in memoriam” do professor Meirevaldo Paiva.

Definitivamente esclarecida a dúvida quanto à autoria da citação, agradeci penhoradamente a Deus por eu ter sido poupado de falar naquele evento. Eu também, ia ler com toda ênfase a bela e profunda frase e atribuir a autoria a Fernando Pessoa, como eu julgava ser à época. Com a certificação do Dr. Google.


          

terça-feira, setembro 2

ADIADO O 100 MIL POETAS & MÚSICOS POR MUDANÇAS. EVENTO DA AMAZÔNIA/2014


       


      O evento da Amazônia do “100 Mil Poetas & Músicos Por Mudanças/2014” programado para o dia 27 deste mês de setembro, no Anfiteatro São Pedro Nolasco, da Estação das Docas, foi adiado. Por ser um evento que se realiza em todo o mundo no último sábado de setembro de cada ano, toda a programação deverá se realizar no dia 26 de setembro de 2015, com a mesma semântica “Belém, porto-poema da Amazônia”, os mesmos objetivos- oportunizar espaço aos músicos e poetas sem acesso às pautas dos poucos espaços culturais de Belém,  proporcionar ao grande público oportunidade de assistir apresentações de obras de interesse social e concorrer para que Belém seja reconhecida como Capital Amazônica da Poesia. Fica mantida para 2015, a homenagem ao violonista e pesquisador Salomão Habib por sua pesquisa acerca da obra de Tó Teixeira, sendo  o conteúdo do evento gravado em DVD e editado em livro, para distribuição às videotecas, bibliotecas, escolas, universidades e a receita das vendas ao público destinada à entidades de interesse social como o Paravida, a AVAO, dentre outras.

A necessidade de espaço fechado e com acústica para a homenagem a Habib, inclusive com a apresentação do pianista Edu Toledo, que compôs especialmente para essa homenagem a música “Belém, porto-poema da Amazônia, terra de Tó e Habib” foi decisiva para o adiamento. Até porque a chuva que cai todos os anos durante o evento poderia prejudicar de forma irreversível a programação. Buscamos por espaço com as características adequadas, mas todas as alternativas estão comprometidas no dia 27.

Ante essa realidade e por já estar a programação toda estruturada, afastou-se a ideia de fazer-se um evento “meia boca” apenas para cumprir tabela. E sendo o 100 Mil Poetas uma ação voluntária de cidadania, não institucional, nada impede o adiamento da realização para o próximo ano. Nesse meio tempo vamos inserir o evento nas Leis de Incentivo Fiscal a fim de participar dos Editais de patrocínio, captar recursos e realizar um evento de qualidade, em espaço adequado.

Registramos aqui nossos agradecimentos aos nossos apoiadores dos anos anteriores, Fundação Pará 2000, Sol Informática, Bureau de Mídia e TV RBA, e também, aos que apóiam por acreditarem na iniciativa e pedem discrição quanto à divulgação de seu nome. Também agradecemos à Cromaki Comunicação Total e à Poligraph Soluções de Impressão, na pessoa de seu diretor, o publicitário/empresário Nailson Guimarães, pelo incentivo e apoio que nos emprestou este ano. Todos com certeza, estarão conosco nos próximos anos.

Agradecemos também à equipe técnica que nos assessora e nos incentiva com suas opiniões e seu trabalho, Paulo Assunção, produtor musical, Hudson Andrade, produtor teatral, Rosenaldo Sanches, empresário/sonorização de eventos. Agradecemos também à poeta Ducarmo Souza que já fez a poesia com a semântica “Belém, porto-poema da Amazônia”, que permanecerá inédita até o próximo ano.  

Comissão Organizadora:
Rita Melém
Benny Franklin
Daniel da Rocha Leite
Octavio Pessoa 

sexta-feira, agosto 22

Alunos de Engenharia de Alimentos da UFPA conquistam 1º. lugar em evento mundial no Canadá.



           
O Team Cookitos


Os alunos da graduação da Faculdade de Engenharia de Alimentos, da Universidade Federal do Pará/UFPA, Ana Clara Vasconcelos, Ed Junior, Lívia Martins e Thais Andrade conquistaram o primeiro lugar no principal evento internacional da área de Engenharia de Alimentos, o IUFOST (International Union of Food Science Technology) Students Fighting Hunger, em Montreal, Canadá. Os estudantes desenvolveram o Projeto Cookitos que obteve um biscoito nutritivo para crianças em idade escolar, a partir de matérias primas da Amazônia dentre elas a mandioca.

O Projeto Cookitos faz parte da Mani que é a Rede de Pesquisa para o Desenvolvimento Tecnológico da Cadeia Produtiva da Mandioca, vinculado ao PPGCTA- Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, do CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e da FAPESPA- Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa, que na Universidade Federal do Pará é filiado ao ITEC, Instituto de Tecnologia da UFPA.

Sobre a conquista, a estudante Thais Andrade diz no Facebook que depois de tanta emoção, alegria, satisfação e queda da ficha, sim demorou a cair, diz ela, manifesta seu “agradecimento à nossa professora Dra. Luciana Ferreira Centeno, que tanto nos incentivou, apoiou para que esse trabalho fosse perfeito”.  Estende também seus agradecimentos à família e a seu amado que “aguentou todos os meus choros, desesperos, segurou na minha mão e sempre falava que no final tudo daria certo. E não é que deu mesmo?”

Ana Clara Vasconcelos também no Face, agradece “à nossa Orientadora prof. Dra. Luciana Ferreira por todo incentivo, toda atenção e por nos ajudar sempre em todos os momentos, principalmente nos mais difíceis, Nosso muito Obrigado! Estamos muito felizes de conquistar este prêmio e que nossa conquista sirva de incentivo à todos os alunos da FEA-UFPA, para que cada vez mais possamos mostrar todo potencial que o nosso curso de Engenharia de Alimentos da UFPA possui! Particularmente, quero agradecer aos meus pais, Cláudia Vasconcelos e José Mário Mário que fizeram de tudo pra que eu pudesse estar aqui hoje vivendo esse dia tão especial! Aos meus familiares que torceram por mim, obrigada gente! E por fim mas não menos importante a Meu Deus nosso senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora que tenho certeza de que sem eles NADA disso seria possível! MUITO OBRIGADA!!!

Thais e Ana Clara são unânimes em agradecer também às professoras Alessandra Lopes e Vanessa Botelho por terem acreditado no grupo e também, à Prefeitura Municipal de Belém, que apoiou a presença dos estudantes no Canadá.

       Acrescenta Ana Clara “Pra quem acompanhou de perto toda a nossa luta sabe o quanto foi difícil chegar até aqui! Os obstáculos foram muitos, as noites sem dormir e o choros também! Mas tudo valeu à pena! Superamos TUDO e estamos muito felizes em conquistar um prêmio tão importante como esse e sabemos o quanto isso irá contribuir para a nossa vida profissional. Ganhamos! Levamos o nome da nossa instituição para o mundo! Hoje mostramos que o curso de Engenharia de Alimentos da UFPA tem potencial para competir de igual para igual com as melhores universidades do mundo!”

         A professora Luciana Ferreira Centeno, PHD em Food Science and Technology pela Cornell University, que ingressou como bolsista de pós doutorado e hoje é professora substituta da UFPA parabeniza o “team Cookitos”, dizendo “a Vitoria de vocês era certa! Agradecimentos a professora Alessandra Lopes pelo apoio do Projeto Mani do PPGCTA (CNPQ e FAPESPA) e aos diretores da Faculdade de Engenharia de Alimentos, Vanessa Botelho e do Instituto de Tecnologia/ ITEC, pelo empenho junto à Prefeitura de Belem, que juntos possibilitaram que TODA a equipe pudesse representar a UFPA no principal evento internacional da nossa área e trazer a Vitoria para o nosso programa! Team Cookitos UFPA: 1st Place IUFOST Students Fighting Hunger - Montreal, Canada! Alunos, sonhem, trabalhem, lutem e não desistam nunca como fez a equipe Cookitos! Vocês irão longe!”

       Parabenizo minha filha Luciana pelo reconhecimento do Team Cookitos, aos alunos da equipe pela conquista de tão importante premiação e cumprimento os professores e dirigentes da FEA e ITEC/UFPA que com sua lucidez apoiaram a equipe. Atitudes dessa natureza são cruciais para o fortalecimento e afirmação da Faculdade de Engenharia de Alimentos e da Universidade Federal do Pará como Instituições de ponta.

Que incentivos desse quilate sejam a tônica hoje, amanhã e sempre, prestigiando docentes e discentes que, como os que foram vitoriosos no IUFOST Students Fighting Hunger, projetam o nome da Faculdade de Engenharia de Alimentos, da Universidade Federal do Pará e do Brasil em escala mundial.