domingo, abril 20

A SEGUNDA VINDA William Butler Yeats / Tradução de Pedro Calouste


Catedral do Rio de Janeiro
GIRANDO e girando na espiral que se amplia
O falcão não consegue ouvir o falcoeiro;
As coisas dissolvem-se; o centro não segura;
A mera anarquia é dissipada para o mundo,
A maré escura de sangue é perdida, e em qualquer lugar
A cerimónia da inocência se afunda;
Aos melhores lhes falta toda a convicção, enquanto os piores
Estão plenos de intensidade apaixonada.

Certamente alguma revelação estará à mão;
Certamente A Segunda Vinda estará à mão.
A Segunda Vinda! Mal saem estas palavras
e uma larga imagem vinda do Spiritus Mundi

Perturba a minha visão: algures nas areias do deserto
Uma forma com corpo leonino e cabeça de homem,
Um olhar fixo em branco e impiedoso como o sol,
Faz mover-lhe as coxas lentas, enquanto sobre ela
Oscilam sombras de pássaros indignados do deserto.
A escuridão cai de novo; mas agora sei
Que vinte séculos de um sono pedregroso
Se precipitaram no pesadelo por um berço que embala.
E qual besta em fúria, a sua hora vem por fim,
Arrastar-se-á até Belém para nascer?


Nem sempre concordo com o que o Arnaldo Jabour fala na coluna dele no Jornal da Globo. Mas na última sexta-feira chamou-me atenção o poema acima, que ele declamou após a matéria acerca das medidas adotadas pela Arquidiocese do Rio de Janeiro no sentido de cancelar, por medida de segurança dos fiéis, todas as cerimônias religiosas da Semana Santa que se realizariam na Catedral do Rio de Janeio, que está sitiada por manifestantes, depois de terem sido retirados da Câmara dos Vereadores do Rio.

Fiquei tão intrigado que pesquisei imediatamente na internet e o encontrei no excelente site da poeta lusitana Sylvia Beirute. Após agradecer ao tradutor para o português, a poeta comenta que “A Segunda Vinda (The Second Coming) é um dos mais importantes poemas da poesia moderna, usando de um vocabulário cristão que remete para o Apocalipse, sendo que esta segunda vinda é uma alegoria para descrever a atmosfera do pós-guerra europeu. Por aquilo que se vive actualmente, com incidência na economia mundial e prementemente na irlandesa, creio que a leitura deste poema faz hoje todo o sentido.”.

Ratifico as palavras de Sylvia Beirute, constatando a adequação do poema aos tristes dias que vivemos hoje em nosso país. 

Compartilho com vocês agora, o poema em sua língua de origem:

THE SECOND COMING

TURNING and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.

Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi

Troubles my sight: somewhere in sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again; but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?

quinta-feira, abril 17

100 MIL POETAS E MÚSICOS HOMENAGEIAM SALOMÃO HABIB


Salomão Habib (e), o grande homenageado.


O violonista paraense de renome internacional Salomão Habib será o grande homenageado na versão deste ano do  “100 Mil Poetas & Músicos Por Mudanças”,  evento da Amazônia que será realizado mais uma vez no Anfiteatro São Pedro Nolasco, da Estação das Docas, no sábado dia 27 de setembro, de 18 às 22 horas.  

É o reconhecimento dos poetas e músicos da Amazônia pela brilhante carreira internacional de Habib e especialmente pela profunda pesquisa por ele realizada, em mais de 20 anos, acerca da vida e da obra de Tó Teixeira, um homem do povo de Belém que marcou a vida cultural da Metrópole da Amazônia, no início do século passado. Naquela época, sequer o rádio existia no Brasil, as músicas eram executadas, em função das partituras, nos saraus em casas de família, que sempre tinham um piano, e nos mais de vinte teatros que havia em Belém, à época.



O trabalho de Salomão contempla a biografia e o registro completo da extensa produção de Tó Teixeira, em dois livros, um sobre a vida de Tó e outro com as partituras de suas músicas, além de 3 CDs com as músicas e um videodocumentário em DVD conduzido por  Habib com a  participação de diversos músicos e intelectuais paraenses, conversando sobre a história das músicas e da vida de Tó. No documentário são narradas também, passagens da verdadeira saga que foi a pesquisa. Tem agora o público paraense, meios para conhecer melhor a vida e a produção musical de Tó Teixeira, o Poeta do Violão.

          A semântica deste ano do  “100 Mil Poetas & Músicos Por Mudanças” será “Belém – Porto Poema da Amazônia”, mais uma inspiração do poeta e escritor paraense Daniel da Rocha Leite, sintonizado com a proposta de Belém ser reconhecida como a Capital Amazônica da Poesia. O poema de abertura do evento será de autoria do poeta, escritor e professor Alfredo Garcia Bragança,

          O coordenador técnico Rosenaldo Sanches já articulou a estrutura de palco,   uma necessária antecipação de providência, em razão da proximidade do evento e as eleições deste ano, época em que essas estruturas ficam comprometidas com as campanhas políticas, como foi percebido em 2012.  Também estão em curso medidas para a transmissão em tempo real, via Internet, do “100 Mil Poetas & Músicos Por Mudanças”, evento da Amazônia. 
  
Obras da fotoartista e poeta Ylen brito,  uma foto da Samaumeira do Hangar, ícone do evento, e outra da  orla de Belém, mixadas, ilustrarão a semântica “Belém, Porto Poema da Amazônia” no material de divulgação do evento.

O “100 Mil Poetas & Músicos Por Mudanças” foi trazido pra Belém pelo poeta Benny Franklin, amigo dos idealizadores os  poetas e ativistas americanos Michel Rothenberg e Terry Carrion. A proposta é a  reunião de poetas, músicos e criativos em geral,  em ambiente aberto ao público, nos mais diversos lugares do planeta, num mesmo dia do ano, para mostrarem sua produção, privilegiando a  glocalidade – visão global e realidade local, destacando problemas específicos da realidade do lugar, conjugados a temas como  a busca da paz mundial, a sustentabilidade do planeta, o não às guerras e à violência e temas afins.



A data escolhida para este ano foi o sábado 27 de setembro. Até o momento, mais de 300 eventos já estão inscritos em mais de 100 países.