segunda-feira, dezembro 30

AINDA SOBRE ENCONTROS, DESENCONTROS E REENCONTROS



          Essa temática e o clima de fim de ano me fazem lembrar de dois temas  que eu não quero virar o ano sem registrá-los neste blog.  A homenagem que me foi oferecida pelos colegas do TCU, em razão de minha recente aposentadoria e a poesia de Matheus Leão Pereira para o irmão Murilo Leão Pereira, por sua extrema profundidade.

          Na homenagem, os colegas do TCU ofereceram-me uma placa com um pensamento de Richard Bach, (cópia ao lado). Bach é autor do livro “Fernão Capelo Gaivota”, uma história sobre liberdade, aprendizagem e amor, que conclui que o amor e o perdão merecem respeito e parecem ser igualmente importantes para o processo de libertação da obediência às regras, apenas porque elas são comumente aceitas. Em sua fala, o atual secretário de Controle Externo do TCU no Pará, Arildo da Silva Oliveira externou sua convicção de que, mesmo afastado do TCU, eu estarei sempre junto aos colegas, até por comungar de ideais em comum. Sem dúvida.

Douglas Dinelly usa da palavra.
O jornalista e meu conterrâneo,  Douglas Dinelly, presente no evento, foi convidado a proferir uma saudação. Douglas lembrou nossas origens, das barrancas de terras caídas da ilha de Tupinambarana”, ilha que abriga a cidade de Parintins, no Estado do Amazonas. Lembrou também de minha família, atribuindo a essas raízes o sucesso em minha trajetória de vida, fundamentada nos valores  absorvidos na infância. Certamente.


Aos colegas de TCU e ao querido amigo Douglas Dinelly, externo aqui, de público, meu carinho e meu agradecimento.

A poesia de Matheus Pereira é um encontro escrito entre dois irmãos de sangue, que chama atenção pela profundidade das ideias e das palavras, o que se evidencia mais ainda, no texto complementar à poesia, onde o autor lembra ao irmão, que então completava dezoito anos, ser o aniversário apenas o início de uma nova fase em sua vida e que toda fase não existe por si só, mas resulta de um processo trilhado pacientemente. O jovem Matheus menciona Mahatma Ghandi, lembrando ao irmão que, para aquele líder pacifista, o desejo de vencer é o pressuposto da vitória diante dos grandes desafios.

Daí haver escrito o poema, não só por querer muito bem ao irmão, mas também por perceber a validade do ditado “eu quero, eu posso, eu consigo”, ressaltando que o fator essencial na condução plena da vida é a autoconfiança, que é fundamental na concretização de metas, sendo necessário que a pessoa se sinta capaz, se ela deseja alcançar sucesso numa atividade. “Assim, a diferença entre o mundo real e o sonho pode residir simplesmente na ideia. A ideia, esta sim, é fruto de amadurecimento pessoal e mental, e é a real desbravadora de fronteiras”.

Conclui Matheus, de apenas 20 anos e já estudante de engenharia química, no Instituto Militar de Engenharia/IME, no Rio de Janeiro,  “Quero dizer que você, sim, já está mais maduro não só por causa da data de hoje, mas por seu caminho e por seu anseio profissional na área da Biotecnologia e seus planos futuros. E como não poderia deixar de ser, desejo que sempre haja mais para você em corpo, mente e sonhos, pois você não merece menos que tudo!”

NÃO MENOS QUE TUDO

Matheus Leão Pereira

Ao corpo,
Não menos que
A plenitude,
A saúde
E o bem estar.

À mente,
Não menos que
A sabedoria,
A virtude,
A criatividade,
A coerência
E o amor.

Aos sonhos
Não menos que
O sol,
O luar,
A imensidão do oceano
E o azul celeste acima.

A você,
Não menos que
O horizonte infinito,
trajetos ascendentes
E visões paradisíacas.

Mereces somente isto:
Não menos que tudo.

Ofereço a poesia de Matheus Leão Pereira a meus leitores, para reflexão na virada de ano, quando identificamos nossos sonhos e anseios e projetamos o futuro. Um grande abraço e um Ano Novo de concretização de projetos.

          

sexta-feira, dezembro 20

MEU PRIMO MÁRIO E O NATAL





               O outono da vida permite mais isenção para se avaliar o que foi bom ter sido feito, se gostou de fazer e, se fosse possível, se faria novamente, talvez até melhor. E também, o que não foi legal e, com certeza, não se faria de novo. Sensação que se acentua às proximidades do Natal e da virada do ano. O que aconteceu neste ano de tão bom que adoraríamos se acontecesse de novo? O que faríamos melhor? O que não foi legal e desejamos que não ocorra  no próximo ano? Enfim, como gostaríamos que fossem os novos 365 dias que nos batem à porta? Aí vem a pergunta crucial: o que estamos fazendo ou nos comprometendo a fazer, para que os desejos se tornem realidade?

          Encontros, desencontros e reencontros são matéria muito frequente nessas reflexões, que alguns chamam de “balanços existenciais”.  

          Um reencontro foi extremamente gratificante pra mim, nos últimos meses deste ano. E o mais interessante, não foi um reencontro presencial, mas um reencontro virtual, desses proporcionados pelo avanço tecnológico dos dias em que vivemos e que nos deixam felizes quando acontecem. Felicidade maior só quando a gente se reencontra pra valer, pessoalmente, “ao vivo e a cores”.

Mário Paulain
          Assim foi meu reencontro virtual com o meu primo Mário.  Mário José das Chagas Paulain. Esse é o nome completo dele. Filho do tio Militão Paulain, irmão de minha mãe, Yolanda Paulain Ferreira. Esse sobrenome, Paulain, decorre de nossa ascendência francesa, em função de nosso bisavô materno, Milliton Paulain. Não o carrego porque meu pai, Octacílio José, achou por bem colocar nos seus filhos homens, seus  dois sobrenomes: Pessoa Ferreira. Pra complicar mais, adotei o nome político e depois, literário Octavio Pessoa.

          Mário e eu fomos colegas de Primário, no Grupo Escolar Araújo Filho e de Ginásio, no Colégio Nossa Senhora do Carmo, da então Prelazia de Parintins/AM. Brincamos juntos e juntos curtimos nossa adolescência e início da juventude, numa bucólica cidade da margem direita do rio Amazonas, conhecida  mundialmente por seu Festival Folclórico, realizado no último fim de semana de junho, quando se enfrentam os bois bumbás Caprichoso e Garantido.

Tempos felizes aqueles em que, com outros colegas como o Gláucio Vieira da Silva, o Zé Sérgio e o Neneca vivenciamos intensamente as experiências que a vida interiorana proporciona.

Uma “parada” inesquecível foi quando resolvemos apreciar do ponto mais alto da cidade, a torre da Igreja  do Sagrado Coração de Jesus, a passagem das volumosas águas do rio Amazonas. Pelo menos, esse foi o pretexto que usamos em nossa defesa. Chegamos ao coro da Igreja, escalamos a “casa dos sinos” e alcançamos a cúpula, nossa meta. Quando festejávamos a vitória, eis que surge na praça da Igreja, em sua potente moto,  o padre Sílvio Miotto. Enfurecido, retira a escada singela que dava acesso à “casa dos sinos” e nos deixa presos na torre da Igreja. Nossa descida só foi permitida, após chegarem todos os pais ou responsáveis e após aquela “mijada” do pároco, com seu sotaque calabrês. O circo já estava armado. Foi uma comoção nos arredores da Igreja, com muita gente reunida pra apreciar a curuminzada receber a punição. Soubemos depois que uma “barata de sacristia” foi responsável pela deduração.

Capela do Sagrado Coração de Jesus e Colégio do Carmo
Coisas da juventude. A necessidade de se desafiar para se afirmar. É opinião generalizada dos que passaram por aquele Colégio, que a formação que ali tivemos  foi definitiva para sermos quem hoje somos. Ali  absorvemos os valores que até hoje cultivamos, graças às orientações que recebemos numa instituição religiosa de ensino em que prevalecia o estudo de Humanidades.

          Findo o curso ginasial, Mário e eu seguimos rumos diferentes. Ele foi pra Manaus e eu vim pra Belém. Ele fez carreira na então Empresa Brasileira de Telecomunicações/Embratel. Idealista, uma característica que nos é comum, ele também  foi militante político. O Mário chegou a candidatar-se  e foi eleito prefeito do município amazonense de Nhamundá, situado à margem do rio de mesmo nome, que separa o estado do Amazonas, do estado do Pará. Região belíssima que tem do lado paraense as cidades de Faro e Terra Santa, com suas belas praias e natureza exuberante, origem dos nossos pais.

Hoje, afastado da política, Mário  também já é “dono do próprio tempo” e vive em Manaus.

Por todo o período que tocávamos cada um a sua vida, tivemos rápidos encontros. Uma vez aqui em Belém, numa vinda do Mário à capital paraense. Outra vez, em Manaus, em reunião com primos, primas e amigos, quando degustamos os mais diversos tipos de peixe, inclusive tambaqui assado na brasa, no Parintina, restaurante então explorado pela prima Eliete, irmã do Mário.

          Um dia desses, tive a grata satisfação de aceitar o pedido de amizade do Mário no Facebook e, desde então, a gente vem cultivando nossa amizade virtual. Numa das vezes, estimulei o Mário a também escrever “causos”, que ele deve ter aos montes. Compartilhei com ele um edital do Ministério da Cultura, voltado para pessoas de cidades com menos de 100 mil habitantes escreverem suas histórias e estórias. Ele está no páreo.

          Ontem, tive a grata satisfação de conhecer também o lado poético do Mário. Vejam a poesia que ele fez sobre o Natal:

Então  é  Natal!!
Mário Paulain

Que as tuas vozes nos vertam águas bentas 
Para a fecundação precoce do nosso imprescindível  amor ao próximo.
Que teus olhares  possam penetrar em todos os espíritos
E nos façam um mar de ternura, de bondade e de generosidade.
Que teus gestos semeiem em nós a fé e a esperança,
Mercê da grandeza cristã de todos que te festejam.
Que tuas luzes possam impregnar-nos de perseverança e de sabedoria
Para avançarmos firmes em nossas vicissitudes.
E que a grandiosidade da tua paz nos faça pessoas dóceis, amigas e leais, as quais desprezem veementemente o ódio, a inveja e o rancor!  
Que teu conjunto festivo de tua celebração
marque indelevelmente o amor em nosso coração e em nossa alma.
E que este dia 25, que simboliza o nascimento de Jesus Cristo,  
seja todos os dias do ano vindouro
Para cultivarmos sempre 
a fraternidade e para celebrarmos obstinadamente o amor e a paz
Para a sublime consecução de nossa vida.
Viva o amor! Viva a paz! Viva a vida! 
Feliz Natal ! 
De coração !!!!!!

        Mário, tá decidido, para o ano a gente se encontra em Manaus, Parintins e arredores, pra matarmos a saudade, curtirmos a delícias do Baixo Amazonas e assistirmos novamente ao mais lindo por do sol do mundo. 
Por do sol de Parintins-AM. 


segunda-feira, dezembro 2

SANTARÉM AGAIN

Natureza exuberante nas águas do Tapajós e do Amazonas


           Retorno amanhã à “Pérola do Tapajós”, pra participar do “Simpósio Cultura, Identidade e Memória Amazônida de Santarém”, uma realização do Programa de Extensão Cultura, Identidade e Memória na Amazônia" (PROEXT-CIMA), do Centro de Formação Interdisciplinar (CEI) da UFOPA, que tem por objetivo ampliar o debate sobre produção da cultura, identidade e memória no Baixo Amazonas, sua relação com a produção regional, nacional e internacional sobre o patrimônio material e imaterial brasileiro. 

          O Simpósio é um espaço de divulgação de atividades extensionistas, ensino e pesquisa, envolvendo a preservação da memória amazônida, da identidade e das demonstrações culturais das populações da região e a troca de experiências entre docentes, discentes, técnicos e a comunidade santarena.

 Vou ministrar, na quarta-feira, dia 4, no Auditório do Campus Tapajós da UFOPA, Universidade Federal do Oeste do Pará, a palestra “Causos Amazônicos: Uma relação Entre o Real e o Imaginário Amazônico”. 

           Considero o convite um dos frutos de minha estada naquela linda cidade, no início do mês de novembro, pra prestigiar o Salão do Livro do Baixo Amazonas, um evento da Feira Pan-Amazônica do Livro. 

quinta-feira, novembro 21

PROJETO RECICLAR PARA CONSERVAR E A ONG AMIGOS DO SAL


Na reunião de 15 de novembro nasceu a Ong Amigos do Sal

Na história de Salinópolis/PA houve diversas iniciativas do poder público e  de empresas privadas para limpar as praias.  Meritórias na intenção, revelaram-se insuficientes, ante a falta de continuidade.



Praia do Atalaia após o veraneio. Salinas que não queremos
Os resíduos sólidos são uma ameaça ao planeta, sendo sua produção   proporcional ao crescimento da população mundial que se dá em escala geométrica. Cada ser humano produz, em média, de meio a um quilo e meio de resíduos sólidos, diariamente, segundo as estatísticas. Sendo em torno de seis bilhões de pessoas a população mundial, a produção diária de resíduos é de  três a quatro bilhões e meio quilos/dia. Grande parte desses resíduos é lançada a céu aberto, com desperdício de matéria prima e de energia e degradação ambiental,  decorrente de  planejamento inadequado.

Para responder a essa realidade, foi constituída a Ong Amigos do Sal que terá como seu primeiro desafio, a limpeza das praias de Salinas, por meio do Projeto Reciclar Para Preservar, que foi exposto por Francisco Pacheco, Coordenador do PLANSANEAR (Apoio aos Municipios na Elaboração do
Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos - PMGIRS),
um dos  elaboradores do Projeto, aos presentes na reunião de 15 de novembro, em Salinas.  O Projeto é um estudo embasado na Lei 9.795, de 27 de abril de 1999,  que se propõe a preservar as praias de Salinas, pela implantação de um sistema de coleta seletiva de resíduos e materiais recicláveis e também, por meio de campanhas de  sensibilização da sociedade,  para a preservação ambiental.

Francisco Pacheco apresenta o Reciclar Para Preservar
Pelo Reciclar Para Preservar, diagnostica-se inicialmente a situação dos resíduos sólidos gerados nas praias, verificando a origem e o volume, levanta-se as opções de destino para esses resíduos e busca-se parceiros governamentais e privados para efetivar a destinação adequada. Faz-se reuniões com os envolvidos na cadeia produtiva, levantam-se informações, elaboram-se cadastros, definem-se  espaços para acondicionamento dos resíduos sólidos e inserem grupos interessados no projeto, como as cooperativas e associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. São também previstas reuniões de planejamento com as Prefeitura Municipal,  Sociedade Civil, Câmara Municipal e Ministério Público,  construção   de galpões de triagem, compra de equipamentos para cooperativas de catadores, disseminação da Educação Ambiental  por meio de  reuniões com professores e interação com igrejas e associações, implantação de Locais de Entrega Voluntária (LEV) e Postos de Entrega Voluntária (PEV) e a realização da campanha educativa “Preserve Sua Praia”, pelas redes sociais e todos os meios de comunicação.  

          Ante a a visão sistêmica do Projeto, os presentes adotaram o Reciclar Para Preservar como primeiro projeto da  Amigos do Sal, uma associação nos termos do Art. 44, item I do Código Civil, que pela sua forma de atuação se caracteriza como uma Organização Não Governamental/Ong, grupo  sem fins lucrativos  organizado para realizar ações de interesse social. Daí adotar  o nome fantasia Ong Amigos do Sal, facultado no parágrafo único do Art. 1º dos  Estatutos.

          O universo da ação são as praias do Atalaia e da Marieta e também, o lago da Coca Cola. O objeto é a limpeza desses espaços, por meio de coleta seletiva de materiais recicláveis e destinação adequada. Escolha estratégica, visualizando resultados concretos, no menor espaço de tempo possível. O que dependerá dos convênios, contratos e acordos com organismos governamentais, não governamentais, nacionais e internacionais que venham a ser celebrados, nos termos do inciso XIII do Art. 4º dos Estautos.

          Os sócios da Ong Amigos do Sal tem dimensão do desafio, mas confiam no legado para as futuras gerações. E acreditando na replicação do projeto noutros municípios, ampliaram a área de atuação da Amigos do Sal,  para os municípios do Polo Turístico Amazônia Atlântica, (http://www.setur.pa.gov.br/content/programa-2).


          Se o associado da Ong Amigos do Sal candidatar-se a mandato eletivo, assumir presidência de partido ou aceitar cargo em comissão, ele é obrigado a  fastar-se da Amigos do Sal, pelos Estatutos que também determinam à entidade o acompanhamento do desempenho orçamentário e financeiro do município, segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal e a impede de  receber doação ou subvenção que comprometa sua independência e autonomia.  

A praia do Atalaia vai voltar a ser assim.

quarta-feira, novembro 13

SANTARÉM E EU. EU E SANTARÉM

Retornando do Encontro das águas do Tapajós e Amazonas. Panorâmica de Santarém/PA


          Conheci Santarém na adolescência. Foi numa “embaixada”, como chamávamos aos passeios coletivos de estudantes, dos alunos do terceiro ano ginasial do Colégio Nossa Senhora do Carmo, de Parintins/AM, minha terra natal. Lembro-me bem. Viajamos no barco a motor “Carlos Mário”, do meu falecido tio Militão Paulain, pai do Mário José, meu colega de turma e companheiro de “traquinagens”.

          Uma viagem inesquecível. Fomos recepcionados em Santarém pelas alunas do Colégio Santa Clara, quando agradeci, em nome da turma, aquela calorosa acolhida. Tão calorosa que uma das alunas despertou meu amor juvenil. Coisas da paixão. A vida nos levou para rumos diferentes. Noutro dia, eu e os colegas participamos de uma festa no colégio estadual Álvaro Adolfo. O melhor mesmo foi o passeio à praia de Maria José, uma das mais belas que conheci. Em boa companhia, melhor ainda se tornou o passeio para todos.

Daniel Leite mediando o Papo Literário com Guilherme Fiuza
          Muitos anos depois, retornei à Santarém por duas vezes, em auditorias do Tribunal de Contas da União, na Prefeitura Municipal daquela cidade. Objetivo de trabalho, pouco tempo para o  lazer, mas lembro que, numa delas, que coincidiu com a festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, eu e o colega Israel da Silva Gomes fomos até a praia de Alter do Chão.




          Outros anos se passaram, já aposentado do TCU e dedicando-me agora, à literatura e comunicação, minhas origens, retornei à Santarém, como diz o Rubem Alves, no “outono da vida”. Acompanhado de minha esposa Ana Celeste, fomos participar do VI Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas, uma atividade da Feira Pan-Amazônica do Livro, promovida pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará/Secult. E também, para desfrutarmos as maravilhas da Pérola do Tapajós.

 
Voltando da Ilha dos Amores, em Alter do Chão
         
        Fiquei encantado com tudo o que vi. Uma cidade limpa, bem cuidada e estruturada, ainda sem os graves problemas de trânsito que afligem as cidades de grande porte. Um povo educado e hospitaleiro e o melhor de tudo, uma efervescência cultural impressionante. As lindas praias, inclusive Alter do Chão, o Caribe Amazônico e a gastronomia em que prevalecem os peixes próprios da região, são um caso à parte. Conhecemos grande parte dos excelentes restaurantes santarenos.

         
               Visitamos o Museu de Arte Sacra, anexo à Catedral de Nossa Senhora da Conceição, onde colhi  elementos cruciais para a pesquisa que estou realizando acerca de um tema da maior importância para a Amazônia, que redundará num documentário escrito ou um romance histórico, minha próxima obra.

Aos 93 anos, D. Dica continua produzindo

Conhecemos pessoas singulares, como Dona Dica Frazão, em seu Museu/Ateliê/Residência. Uma verdadeira artista que confecciona as mais lindas peças exclusivamente com materiais regionais. Desde singelos pequenos brindes até vestidos de noiva, indumentárias para personagens do Boi Garantido, de Parintins, sendo ela a criadora da personagem Sinhazinha da Fazenda e também, já confeccionou roupas para personalidades como a Rainha Sophia, da Suécia. De cada peça importante produzida ela faz uma réplica, para expor em seu Museu.         



Dona Dica já ganhou placas e diplomas como reconhecimento pela sua  produção, mas apoio financeiro governamental, não teve nenhum. Hoje, diversas caixas contendo peças feitas por ela, empoeiram sobre um armário, mesmo tendo espaço reservado para a exposição, pois falta-lhe condições financeiras para os equipamentos necessários. Isso tudo, mesmo sendo ela conhecida e visitada por governantes dos mais diversos naipes, do passado e do presente. Dona Dica, aos 93 anos e com as limitações decorrentes de uma queda, mantém lucidez invejável e, além de tudo, é poeta.  





Com  o Mestre Édson Berbary
Minha participação no VI Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas foi altamente proveitosa. Pessoas das mais variadas faixas etárias compraram exemplares do meu livro de crônicas “Causos Amazônicos”, cuja primeira edição de mil exemplares está chegando ao fim. Convivi com escritores e artistas paraenses, inclusive de municípios do Baixo Amazonas e também, com intelectuais vindos do sul/sudeste, como Inácio de Loyola Brandão e Guilherme Fiuza. Foi emocionante o encerramento da programação cultural do Salão, com o grupo Cia do Tijolo, de São Paulo, com o espetáculo “Cante lá que eu canto cá", um sarau literário e musical inspirado nas obras do poeta cearense Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré. 

          Outra vivência da maior importância, na minha estada santarena, foi o contato com professores e servidores da Universidade Federal do Oeste do Pará/UFOPA, que se encontra em fase final de implantação e realizará, nos próximos dias, a primeira eleição para seu corpo dirigente.

          É digno de louvor o trabalho dos implantadores da UFOPA, que criaram e desenvolvem uma Universidade na acepção mais precisa que o tempo comporta. Uma instituição que interage com os diversos segmentos da sociedade e  procura responder às demandas da realidade onde ela está implantada, preparando inclusive, mestres e doutores para atender as necessidades do Oeste do Pará. Um trabalho que merece ter continuidade.

Na segunda-feira passada, a UFOPA outorgou título de Doutor Honoris Causa ao violonista e compositor Sebastião Tapajós, músico santareno reconhecido internacionalmente. Formado pelo Conservatório Nacional de Música de Lisboa, em Portugal, Sebastião foi professor de violão clássico do Conservatório Carlos Gomes. Ao executar a obra-prima de Villa-Lobos, Concerto para Violão e Pequena Orquestra, com a Orquestra Sinfônica Nacional no Teatro Municipal do Rio teve sua carreira projetada no exterior. Detentor de sólida carreira internacional, hoje tem 50 discos lançados.









sexta-feira, novembro 1

E POR FALAR EM POESIA… (o retorno)



       Recebi do imortal da Academia Paraense de Letras, Roberto Carvalho de Faro, e-mail em que o “Lobo Magro” como é carinhosamente chamado pelo poetamigo Daniel da Rocha Leite, tece poeticamente considerações sobre a última postagem deste blog.

A última edição
Do blog do Octavio
Merece uma correção.
Deve chamar-se
Bloguetícias
Ou bloguesias
Ou bloguemações.
Está repleto de notícias,
De poesias,
De informações.
Isso sim,
É um bloguesão!

          Na foto abaixo, o “Lobo Magro”, entre Benny Franklin, Walcyr Monteiro e eu, após prestigiarmos o evento A NOITE É UMA PALAVRA,  do dia 29 de outubro passado.


          A NOITE É UMA PALAVRA é uma realização da Fundação Cultural Tancredo Neves dirigido pela professora Bella Pinto, que acontece na última quinta-feira de cada mês, no hall Ismael Nery, do CENTUR.       
          
Poetas com a Professora Bella Pinto, à direita 


          Obrigado pelo incentivo, meu mestre Lobo Magro. Quero tornar este blog cada vez mais um veículo da poesia, da música, das artes em geral, colocando-me ao lado dos que entendem serem necessárias iniciativas culturais espontâneas, preenchendo um espaço hoje incentivado, preponderantemente, por recursos públicos. 

sábado, outubro 26

E POR FALAR EM POESIA…


        ... retorno, após prolongada ausência deste espaço pra falar de Poetas e Músicos, de Círio de Nazaré, de casamento no Centenário de Vinícius de Moraes e de uma Volta Literária, com muita, muita Poesia.

100 MIL POETAS & MÚSICOS POR MUDANÇAS/2013


          Primeiro, o 100 MIL POETAS & MÚSICOS POR MUDANÇAS, Evento da Amazônia/2013. Com produção mais caprichada, este ano a equipe organizadora- Benny Franklin, Hudson Andrade, Rosenaldo Sanches, Alfredo Garcia e Octavio Pessoa, prevendo a chuva que no ano passado prejudicou  o espetáculo, providenciou um toldo para o palco. Para nossa felicidade, este ano a chuva caiu antes de começar o evento conduzido pelo Hudson Andrade e por mim,  numa noite estrelada e de muita poesia. Tivemos também na produção, como diz o cantor e compositor Luiz Melodia “o auxílio luxuoso” de Paulinho Assunção, Álvaro Drago e Mauro Lima Pontes. E mais uma vez contamos com a produção gráfica de Rui Bastos. Nossa intenção para o próximo ano, é cobrir toda a área do Anfiteatro São Pedro Nolasco, da Estação das Docas, protegendo inclusive o público, ante a possibilidade de chuva no nosso inverno amazônico, na data de realização do evento em todo o mundo, o último sábado do mês de setembro.

          A semântica POR UM RIO DE PAZ NA CIDADE DAS ÁGUAS, idealizada pelo poeta e escritor  Daniel da Rocha Leite, foi explicada neste poema  do próprio Daniel, que foi por mim interpretado:  

                                                         Desarmar o olho
                                                       desarmar a palavra
                                                      e o silêncio que fere.

Amar o outro, uma pessoa,
        outra pessoa
       simples pessoa,
um mundo todo feito de gente.

       Desarmar o olhar
                                                  desarmar a alma
        amar o estranho
                                                  todavia estranho
      toda(vida) uma vida
      outra vida,
                                       não mais uma multidão sozinha.

    Desarmar a palavra
     e o silêncio que fere.
     Semear novos mundos
    Semear outras novas vidas.
   
     Poeta um só, cem mil,
           pelo poema
        dentro do poema
        uma paz possível.
       Música, verso e vida
              pra gente
                                                     para o agora
                                                para os nossos filhos.

                                            Uma cidade que queremos
     uma terra de poesia
     um outro nosso chão.
                                        Uma outra memória do futuro.
                                          Uma cidade, um mundo.
                                     Um rio que anda dentro de um mar.



          Na sequência, o filósofo, poeta e escritor Antonio Juraci Siqueira declamou o poema de sua autoria que abriu o evento.

                                     POR UM RIO DE PAZ NA CIDADE DAS ÁGUAS
1
Belém, “Cidade das Águas”,
palco de amor e de fé,
berço de um povo guerreiro
que por nada arreda o pé
e em cujo peito cabano
desabrocha todo ano
o Lírio de Nazaré!

2
“Cem Mil Poetas & Músicos
Por Mudanças” mundiais
semeiam grãos de esperança
nos corações dos mortais.
Nós, poetas destas ribeiras,
içamos nossas bandeiras
é  “Por Um Rio de Paz”!

3
Unidos pela poesia,
em prol da vida cantamos
e neste palco de sonhos
justa homenagem prestamos
a Carlos Corrêa Santos
em cujo nome outros tantos
artistas também saudamos!

4
Nesta edição dedicada
ao mestre Walcyr Monteiro,
saudamos todos os mestres
do Brasil e do  estrangeiro
para que, lutando unidos,
seus brados sejam ouvidos
nas terras do mundo inteiro!

5
Cá estamos! Sonhadores
sem olhar credo nem cor.
Almas prenhes de ternura
e alheios à própria dor,
do coração da Amazônia
cantando, sem parcimônia,
por justiça, paz e amor!
6
Tudo o que juntos sonhamos
se transforma em grão fecundo.
Portanto, armados de afetos,
vestidos de amor profundo,
lancemos grãos de esperança,
de concórdia e de bonança
pelos canteiros do mundo!

7
Que não exista entre nós,
disputas, desunião,
pois a paz brota e viceja
onde há partilha de pão.
Teatrólogos, contistas,
poetas e romancistas
são dedos da mesma mão.

8
Cá da Cidade das Águas,
desta Amazônia louçã,
irmanados pelo sonho
seguimos em nosso afã
e por um rio de paz
nesta jornada tenaz
buscamos novo amanhã.

9
Prometeus de um tempo novo,
nós trazemos a alegria
na pira ardente do verbo
convertida em poesia:
fogo maior que unifica,
que transforma, purifica
e a dor do mundo alivia.

10
Mas se a fogueira do sonho
morrer ao nosso redor,
tornemos cinza em semente,
plantemos sonho maior!
Que a chama rubra da ação
brote em cada coração
em prol de um mundo melhor!

          Trinta poetas, homens e mulheres, intercalados por números musicais se sucederam no palco e brindaram o público que lotou o Anfiteatro São Pedro Nolasco, da Estação das Docas, com muita poesia. 

No centro, Carlos Correia Santos

          Momento especial da programação do 100 MIL POETAS & MÚSICOS POR MUDANÇAS, EVENTO DA AMAZÔNIA/2013 foi a homenagem ao poesta, escritor, dramaturgo, músico, Carlos Correia Santos, pelo conjunto de sua obra. Texto da obra do homenageado foi lido por de Hudson Andrade. Carlos,   que aniversariava naquele 28 de setembro, foi ovacionado pelo público, após o Parabéns a Você. Na sequência da homenagem, houve apresentação do VersiVox, peça líteromusical, de autoria do dramaturgo.

          No final, o conjunto do programa foi dedicado ao poeta, escritor e pesquisador da Cultura Amazônica, Walcyr Monteiro, que recebeu uma placa em que ficou consignado o reconhecimento dos poetas, escritores e músicos da Amazônia pelo seu trabalho de pesquisador.      



       Para o público que lotou o São Pedro Nolasco, eventos dessa natureza devem ser realizados mais vezes e noutros espaços. O 100 MIL POETAS & MÚSICOS POR MUDANÇAS já está inserido na programação anual da Estação das Docas e no catálogo cultural de Belém e da Amazônia.  




         
Virado o mês de setembro, o Círio de Nazaré que mobiliza todos os paraenses nativos ou por adoção, também me mobilizou, na condição de papachibé adotado  que vive intensamente todas as emoções do Círio de Nazaré. Como em todos os anos, após a missa e a saída da Berlinda da Igreja da Sé, “voamos” pra casa, pra concluir as providências e aguardar os parentes e amigos, para o almoço do Círio. Muita alegria e congraçamento e, pra variar, poesias, como esta do mano  Juraci Siqueira:

Barqueiros de Amor e Fé
I
Senhora do Amor Eterno,
em Vossa barca de flores,
volvei-nos o olhar materno,
rogai por nós, pescadores,
nas lutas do dia a dia
pelo pão da poesia
num mar de risos e dores.
II
Nesse rio de romeiros
nossa fé em Vós revoa;
somos todos canoeiros
a remar, com Deus à proa,
nessa igarité tão linda
que o povo chama Berlinda
e vos serve de canoa.
III
Pelas marolas da vida,
envoltos em nossos ais,
em Vós buscamos guarida
aportando em Vosso cais
- porto seguro e divino -
para atar nosso destino
no esteio de Vossa Paz.
IV
Seguimos nossos caminhos,
Senhora de Nazaré,
nós, humildes ribeirinhos
remando contra a maré
rio abaixo, rio acima
na barca que nos anima
onde embarca a nossa fé.
V
Nas rabetas, nas bajaras,
nos cascos, nas montarias,
nos batelões, nas igaras,
vencendo marés bravias
descem cargas de bonança
trazendo amor e esperança
em eternas romarias.
VI
Guiai os nossos barqueiros
com suas cargas de sonhos,
nossos produtos brejeiros,
de artesãos belos, risonhos
e os livrai das emboscadas,
das abordagens tramadas
por malfeitores medonhos.
VII
Virgem Mãe dos construtores
das nossas embarcações,
aliviai suas dores
dai paz em seus corações
para que sem sacrifícios
possam passar seus ofícios
às futuras gerações.
VIII
Ó, Virgem Santa, coloque
Vosso manto sobre nós
pondo em cada roque-roque
a voz dos nossos avós
junto aos sons da Natureza
emprenhando de beleza
este mundo grave e atroz.
IX
Eliminai nossos medos
nos dando um novo sentido,
nos fazei vossos brinquedos
de miriti colorido.
Livrai o meio ambiente
desse monstro poluente
que é o Capital atrevido.
X
E ao final desta jornada,
em prol do Supremo Bem,
Santa Mãe Imaculada,
olhai por nossa Belém!
Abençoai vossos filhos
direcionando seus trilhos
para todo o sempre. Amém!


Camilo, Cassie e Alex Centeno, Luciana, Octavio e Ana Celeste

          Passado o Círio, um momento ímpar mobilizou a mim, minha esposa Ana Celeste e toda  a família. O casamento de nossa filha Luciana com o advogado Alex Centeno. Luciana é nossa única filha. Além dela, temos também um único filho, o Rodrigo Octavio. 



Luciana e Rodrigo Octavio
A experiência do casamento de uma filha é indescritível e inesquecível. A gente gera, cria, educa e quer o melhor pros nossos filhos. Ana Celeste, eu, os familiares e amigos, compartilhamos nossa felicidade com os familiares do Alex e os nossos convidados. Em minha fala, na recepção, ressaltei a feliz escolha da Luciana e do Alex, quanto à data do casamento, 19 de outubro que, como falei, pode ser considerado O DIA DO AMOR, pois nele nasceu Vinícius de Morais, o poeta que mais falou e cantou o Amor, e que este ano faria 100 anos.

                        

             Retornando ao 1OO MIL POETAS & MÚSICOS POR MUDANÇAS, na  organização de um evento dessa natureza, a gente interage com muitas pessoas, às vezes só por telefone. É o caso de uma pessoa que ainda não conheço pessoalmente, mas que teve um papel importantíssimo na divulgação do nosso evento, a jornalista Ylen Brito, que trabalha na Assessoria de  Imprensa, da Organização Social Pará 2000, entidade mantenedora da Estação das Docas. Pois bem, após a realização do evento, num telefonema, ela revelou também ser “ do ramo”. Enviou-me este poema de sua autoria, com que encerro esta matéria, convidando-a para estar no palco conosco, no próximo ano:

VOLTA LITERÁRIA

Vírgula, ponto.
Deram-se as mãos, seguiram em frente.
Depararam-se com um longo caminho de palavras de repente.
Repentinamente, correram.
Rumo ao fim, ao início do fim.
Juntaram-se.
Sim.

Ponto e vírgula ;
Em meio ao delírio de vocábulos um sobre o outro.
Almas desvairadas, surrealistas, dadaístas!
A sintaxe era a união destas loucas anarquistas!

- Enfim, ponto final. - Ou não.
Ponto em seguida para uma pobre vírgula.

Apenas o recomeço de uma nefelibata corrida.