sexta-feira, julho 2

O PEQUENO CAIXA DO LONDON BANK

Essa quem me mandou foi o parente Omir Faria. Caboclo de Parintins, médico dermatologista dos bons. Ele leu aquela crônica do velho Raul- que saiu numa carreira desembestada, de bordo do navio Rosa da Fonseca, quando um gringo agradeceu a gentileza do Bené, filho do seu Raul, com um sonoro “tank you very much”. E o velho traduziu o “ingrês”, pela sonoridade: tranca esse velho e mata!
Pois bem, o Omir me fez lembrar outro episódio hilário, lá da nossa Parintins, nos anos sessenta do século passado. É isso aí, minha gente. Como dizia o recém-falecido José Saramago, em sua crônica A Bagagem do Viajante, “A gente não fica velho. É o tempo que insiste em passar”
O episódio foi a troca de pavulagens entre o Caixinha e o Azacler. Caixinha, apelido ganho em razão da altura do portador. Também lhe aplicaram outros epítetos, como chiclete Adams, salário mínimo ou leão de chácara de festa infantil. Quando provocado por sua reduzida estatura, ele lembrava que “é nos pequenos frascos que se colocam os grandes perfumes”. É. Ele só não lembrava que isso também acontece, quando vamos fazer exame de fezes.
Mas o Caixinha, que estava mais prá pávulo do que prá abestalhado, depois de ser de tudo na vida, desde vendedor de secos e molhados, acabou virando jornalista pela prática, em Manaus. Percorreu a trajetória comum aos repórteres. Foi “foca”, copidesque, cobriu polícia, câmara dos vereadores, assembléia legislativa, enfim, de papel e caneta na mão, literalmente, não enjeitava serviço. Mas a convivência foi-lhe aproximando das pessoas do dito mundo social, tanto assim, que lhe foi oferecido espaço para uma coluna. Foi aí que ele deitou e rolou e tirou proveito da magnitude liliputiana, como diria o Lúcio Flávio Pinto, de sua estatura. Nos anos sessenta, muito twist e rock’n roll, os Beatles e os Rolling Stones fazendo sucesso, ele traduziu seu apelido para o inglês, com que assinava sua coluna.
Certa feita, o Caixinha estava em Parintins, para mais uma de suas promoções sociais. Depois do sucesso do evento, ele, como bom jornalista, após uma noitada boêmia, amanheceu no mercado municipal, tomando mingau de banana e café com tapioquinha. Conversa vai, conversa vem, foi quando pintou no pedaço, outro caboclo pávulo, o Azacler. Depois de muitas linhas cruzadas entres os participantes daquela conversa cordial de fim de farra, o dia já amanhecendo, eis que o Caixinha, contendo o compreensível bocejo, estende a mão pro Azacler, imposta a voz e capricha :
- Foi imenso o prazer ter confabulado com você, ilustre filho desta terra de Tupinambarana. Você está diante do Little Box.
- Satisfação, London Bank.- Responde o Azacler, cuíra com aquela pavulagem desnecessária, encarando a minúscula figura do Caixinha.

Octavio Pessoa - advogado e jornalista, auditor federal de controle externo

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Um comentário:

  1. Grande, Octávio!

    Seu espaço e suas crônicas são pães na mesa do mundo.

    Continue...

    Forte abraço,

    Benny Franklin

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