domingo, fevereiro 27

“DESCULPAS” DE AMAZONINO. A EMENDA PIOR QUE O SONETO

Li a matéria do Diário do Pará, da sexta-feira, dia 25 de fevereiro sobre o “pedido de desculpas” ao povo paraense, de Amazonino Mendes, o tiranossauro que administra a capital amazonense.

Fosse ele humilde, teria aproveitado a oportunidade oferecida pelo jornal paraense para efetivamente se desculpar. Mas não o fez. “Eu pediria desculpas ao povo do Pará se entenderam de forma errada o que eu disse. Eu não me comportei de forma preconceituosa em nenhum momento. Essa não foi minha intenção”.

Primeiro, o verbo pedir no condicional, “eu pediria”. Ele pediria apenas a quem tivesse entendido de forma errada as suas palavras. Seria necessária estupidez “amazonímica” para alguém entender de forma errada as palavras do prefeito de Manaus. As imagens percorrem o mundo, demonstrando a estupidez amazônica de Amazonino.

Quem se conscientiza efetivamente de seu erro, pede desculpas sinceras a quem ofendeu.

A incoerência quando casada com a arrogância é a origem de todo mal. Ouvi essa afirmação há tempos atrás, do padre Carmito, um homem simples porém sábio, dirigida a seus paroquianos do Curió, um bairro pobre da periferia de Belém.
Sim, a incoerência é uma característica humana. Qualquer um de nós, em algum momento da vida, foi, é ou será incoerente. É o “faça o que eu digo e não o que eu faço” e outras coisas do gênero. Agora, quando à incoerência se junta a arrogância, aí o problema fica sério. O sujeito passa a se julgar acima do bem e do mal, a achar que está sempre certo e quem dele discorda está errado, devendo o dono do erro, ser tirado de seu caminho.

Parece-me ser este o caso de Amazonino (e de tantos outros políticos que povoam a vida brasileira). Na sua sandice, ele continua a achar que está certo. Errado é quem interpretou mal suas palavras. A atitude do gestor manauara, além de criminosa é nefasta e perniciosa. Para infelicidade de todos e em particular dos manauenses, Amazonino é um homem público que dá um péssimo exemplo, ao alimentar a rixa, a animosidade de amazonenses em relação a paraenses, sentimentos que decorrem do apego a questões secundárias, em detrimento do essencial, sem atentar que os limites entre o Amazonas e o Pará são linhas imaginárias, mas os problemas desses Estados são comuns, verdadeiros e decorrentes da mesma causa- a ausência de políticas públicas macro, voltadas para a solução das desigualdades regionais e inter e intrarregionais.

Agir com preconceito é não atentar que a concentração demográfica de Manaus, a partir de 1967, decorreu de uma estratégia de ocupação da Amazônia e de industrialização de Manaus e de seu entorno, por meio da criação da Zona Franca de Manaus, pelo regime militar de 1964, o que tornou a capital amazonense um polo de atração para brasileiros de todos os Estados da federação, particularmente da Amazônia. E que, dentre esses migrantes, por motivos geográficos e culturais, preponderaram os paraenses. Ninguém abandona sua terra porque quer, mas todos buscam o lugar que lhes oferece melhores oportunidades.

O que pode e merece ser questionado é também, a inoperância, a incompetência e a conivência das elites paraenses, ao longo de décadas, o que pode render ensaios e teses de mestrado e doutoramento.

O fato é que, dos 1.802.525 habitantes de Manaus, conferidos pelo IBGE, no último censo demográfico, cerca de 450.000, ou seja, 25% são paraenses, a maioria dos municípios do Baixo Amazonas, como informa o jornalista José Maria Piteira (http://blogdopiteira.blogspot.com/)

Nesse expressivo universo, logicamente há pessoas de todos os tipos, como acontece em qualquer agrupamento humano. Há pessoas “da paz” e violentas, honestas e desonestas, esforçadas e preguiçosas, as que “dão certo” e as que “não dão certo”. Há exemplos dignificantes de filhos do Pará que ocupam posição de destaque no estado do Amazonas (e em outros Estados), na vida pública e na iniciativa privada, mas também acontecem “n” casos de fracassos retumbantes, com todas as conseqüências naturais- alcoolismo, desagregação familiar e envolvimento com a criminalidade. Fatos também humanos que acontecem em todos os lugares, com nativos das mais diversas origens.

A expressiva presença paraense em Manaus gera certo desconforto na população nativa. Mas nada justifica as generalizações do tipo “todo nativo deste ou daquele lugar é isso ou aquilo”, ou o incômodo com o sucesso de quem não é filho do lugar e que, por seus méritos, logra destacar-se. Até porque, é previsível a inversão desse processo, no curto prazo. O Pará viverá, nos próximos três anos, uma verdadeira explosão demográfica, com a implantação de projetos estruturantes, como a hidrelétrica de Belo Monte, o porto do Espadarte, a ferrovia Norte-Sul e outros projetos de porte, que deverão atrair milhares de imigrantes para o Pará. Segundo o presidente do Conselho Regional de Economia do Pará, CORECON-PA, Eduardo Costa, são esperados 500 mil imigrantes no Pará, em conseqüência do que, a população de migrantes no Pará saltará dos atuais 18% aferidos pelo IBGE, para 24,6 % do total dos habitantes. Certamente entre esses imigrantes, haverá também muitos amazonenses. Todos serão bem vindos.

A postura fratricida entre amazonenses e paraenses só interessa a quem sempre se beneficiou da situação retrógrada da Amazônia- os poderosos de todos os lugares. A atitude do Sr. Amazonino- de dizer à senhora Laudenice Paiva, moradora do bairro Santa Marta, na periferia da Zona Norte de Manaus, “então morra”, quando ela lhe explicou que, se ela abandonasse a casa dela, numa área com risco de desabamento, não teria para onde ir; e de concluir o prefeito de Manaus, “então pronto. Está explicado”, ao ouvir da pobre senhora, ser ela paraense- pôs “lenha na fogueira” da animosidade.

Os efeitos devastadores da atitude truculenta de Amazonino podem ser aferidos pelas manifestações dos leitores dos sites e blogs que inseriram matérias sobre o “então morra” do prefeito de Manaus. São manifestações raivosas, algumas até ameaçadoras ao “contrário”, como se diz lá na minha querida Parintins. Só que lá, a “briga” é entre as torcidas dos bois bumbás Garantido e Caprichoso. Nesse caso, paraenses irascíveis querem “comer o fígado” dos amazonenses.

A publicação do meu “Desagravo ao Povo Paraense”, inserida neste blog e replicada em diversos outros blogs e sites, gerou muitos elogios pela iniciativa, que agora publicamente, agradeço.

E muitos leitores, paraenses e amazonenses, me informaram “coisas do arco da velha” a respeito de Amazonino. Por apego à ética, continuarei atendo-me aos fatos, deixando as quizílias e intimidades do poluto e ímprobo governante amazonense, para outros espaços.

A folha corrida de Amazonino, com todos os crimes por ele praticados, encontra-se no site http://www.obidense.com.br. Desnecessário qualquer comentário.

Fonte fidedigna me informou que o prefeito de Manaus há muito vem dando sinais evidentes de arteriosclerose progressiva, em virtude de diabete renitente e hipertensão. A mesma fonte acrescenta também, “anacronismo político” e lamenta “infelizmente, como outros graúdos da política brasileira, ele tem dinheiro para comprar mandato político. Entretanto, desta vez, acho que ele cavou sua própria sepultura. Infelizmente, ainda falta mais de um ano para próxima eleição”.

De parabéns as lideranças estudantis de Manaus que fizeram o enterro simbólico do prefeito daquela capital, em protesto contra a imagem de Manaus, que ele expôs ao Brasil e ao mundo. Parabéns também, à Senadora Marinor Brito, do PSOL paraense, que representou perante o Ministério Público Federal, pedindo abertura de inquérito contra o político amazonense. A iniciativa de Marinor, até aqui, é a única medida concreta, com perspectiva de algum resultado. Um vereador manuara iria propor o impeachmant do Prefeito, mas não obtive confirmação da informação. Enquanto isso, as instituições, inclusive as mais barulhentas e as defensoras de direitos humanos, continuam mantendo gritante silêncio.

Como infelizmente, a justiça brasileira tarda e falha, é interessante que meus conterrâneos amazonenses e especialmente os manauaras tenham presente a fatia de responsabilidade que todos temos por continuarmos elegendo essas figuras retrógradas, truculentas e despreparadas ética e profissionalmente para cargos da mais alta relevância da República, em todos os rincões da federação. Mais do que a responsabilização criminal, figuras desse quilate merecem o repúdio da população, nas ruas e nas urnas. Essa gente sempre aposta na memória curta do povo e no poder da riqueza acumulada às custas dos cofres públicos, para se perpetuarem no poder.

É hora do basta! É hora de se mandar esse tiranossauro amazonense, para a latrina da História. Ele que, por suprema ironia, carrega um nome toponímico. Poderia ser chamado por qualquer outro nome, mas se chama Amazonino. Nome que hoje, enxovalha o Amazonas e a Amazônia e deixa os amazônidas rubros perante a cidadania mundial.

Octavio Pessoa, jornalista e advogado.
E-mai: octavio.pessoa.ferreira@gmail.com
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