sábado, fevereiro 12

Réquiem para o idealista morto. 27 anos depois.

Se vivo fosse, no dia 18 de fevereiro deste ano, Cléo Bernardo de Macambira Braga completaria 93 anos. Advogado, jornalista e professor, era considerado o maior orador da Amazônia e um dos maiores do Brasil.

Fundador e presidente do Partido Socialista Brasileiro- PSB, no estado do Pará, foi eleito deputado estadual por duas legislaturas 1951 à 1955 e de 1959 à 1963. Imortalizou-se por liderar no Pará, a campanha “O Petróleo é Nosso”, em defesa do petróleo de da Petrobrás, como instrumento central do desenvolvimento brasileiro. Defensor ardoroso de Santarém, sua terra natal, já naquela altura, Cléo sonhava com a a rodovia Santarém Cuiabá e a defendia com todo vigor.

Preso e cassado pelo regime militar de 64, voltou à advocacia e ao jornalismo e morreu na madrugada do dia 7 de setembro de 1984.

Naquela altura, eu era um militante do Partido Democrático Trabalhista-PDT. No ano seguinte, a pedido do então presidente nacional do PSB, Senador Jamil Haddad, recebi a incumbência de, juntamente com o companheiro Orlando Bordalo Jr, reorganizar o PSB paraense. Tornei-me então, o secretário geral no Pará, com o Bordalo na presidência. Um infarto aos 34 anos, afastou-me da militância política. E a a vitória em concurso público para Auditor Federal de Controle Externo, do Tribunal de Contas da União, acentuou meu afastamento das lides partidárias, para exercer as atribuições com a isenção que merecem os cargos típicos de Estado. No próximo ano, se encerrará este ciclo de minha vida.

Naquele distante 7 de setembro, ao saber da morte de Cléo Bernanrdo, foi impossível não me emocionar, pois ele era para mim um referencial e fonte de inspiração. Escrevi então, um artigo, que eu tive a satisfação de ver inserido na página nobre do Jornal “O Liberal”. Segundo o também socialista, Leonam Cruz, eu teria feito poesia em prosa. Não sei dizer.

Compartilho agora, com quem me lê, especialmente com os filhos da Pérola do Tapajós, este artigo publicado na página 22 do 1ª Caderno, da edição do domingo, dia 9 de setembro de 1984:


REQUIEM PARA O IDEALISTA MORTO
“Companheiro Cléo,

Uma Pátria LIVRE - Democrática e Socialista - foi a razão de ser de tua vida. Em busca desse ideal, lutaste sempre com os meios que dispuseste.
Como expedicionário de nossas Forças Arma¬das, expuseste tua própria vida na luta contra a perfídia do nazi-facismo.
Como Parlamentar, defendeste ardorosa e coerentemente as idéias do Socialismo Democrático, denunciando o estado vigente, radicalmente oposto àquele com que sonhavas.
Arrancaram-te da tribuna parlamentar, por tuas idéias e atitudes.
Não te intimidaste. Prosseguiste em tua luta, dando-nos aulas dominicais de coerência e civis¬mo, tendo a coragem de abominar os imperialismos de direita ou de esquerda, incomodando os radicais, e de defender o Socialismo com Liberdade, pois esta é pressuposto daquele e so¬mente em um regime pluralista em que sejam respeitados os direitos elementares do homem este poderá atingir o fim para o qual foi criado - o de ser LIVRE.
Partiste, companheiro. No teu leito de agonia certamente não percebeste que transitaste no amanhecer de um dia em que, se te fosse dado escolher, com certeza nele gostarias de partir - 7 de setembro, o começo da Liberdade.
Partiste sem ver a tua Pátria, a nossa Pátria, como idealizaste. Dou-te um alento: o solo em que semeaste é fértil e a semente é fecunda. Tuas palavras não foram em vão. Encontra¬ram eco. Dia virá em que as tuas idéias brotarão. E de onde estiveres te regozijarás conosco, vendo que a luta não foi em vão!”

Octavio Pessoa – jornalista e advogado.
e-mail: octavio.pesso.ferreira@gmail.com

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