quinta-feira, abril 26

O VALOR DO INESPERADO

         
         Uma data que seria importante para você por um determinado fato que acabou não se realizando, pode tornar-se ainda mais especial para você?  Pode sim. Tudo depende de como encaramos o inesperado e do que fazemos com as paradas “forçadas” a que somos submetidos.

         Por exemplo, o dia de hoje, 26 de abril de 2012, quinta-feira, seria especial para mim, pois nele ocorreria o lançamento do meu primeiro livro de crônicas. Desde que ele ficou pronto, de comum acordo com o meu editor, Armando Alves Filho, “batemos o martelo” quanto à oportunidade dessa data, para o “Causos Amazônicos” vir a público. Interessante. Antes, eu havia cogitado de lançá-lo no dia 12 de abril. Particularidades do processo de edição me levaram a sugerir o dia 26. 

       Haveria mais tempo para fazer o marketing e adotar os procedimentos para o lançamento. Quem já passou pela experiência de escrever e editar um livro sabe o quanto é gratificante ver-se o fruto de sua inspiração e transpiração realizar-se. Na sexta-feira, dia 13 de abril, vi pela primeira vez o meu livro pronto e acabado. A emoção só é comparável ao nascimento de um filho. Pra mim, o “Causos Amazônicos” é o meu terceiro filho. Ali mesmo na Editora Paka-Tatu, fiz um pré-lançamento, ofertando ao meu editor e à sua esposa, Sandra, o primeiro exemplar do livro que foi retirado da caixa. 

         O fim de semana que se seguiu foi de muito contentamento. Oferta de exemplares às pessoas mais próximas, a começar pela minha esposa e também para as pessoas que nos auxiliam em nossa casa. Presenteei também, com um exemplar do livro, meu revisor de textos, o caboclo que nem eu, Roberto Carvalho de Faro (de Faro é uma homenagem à sua terra natal, Faro, no Oeste do Pará) e imortal da Academia Paraense de Letras. 

         Na segunda-feira, dia 16 de abril, eu estava “elétrico”. Começaria então, o “corpo a corpo”, a ação de marketing mais incisiva, visando o lançamento do livro. Com alguns exemplares dele e com alguns brindes remanescentes do meu aniversário de 60 anos que ocorreu no dia 8 de abril, meu plano era visitar emissoras de TV, a começar pela TV Cultura, onde já estava pautada minha participação no programa “Sem Censura Pará”, para um dos dias subsequentes. Visitaria também, os jornais diários e algumas emissoras de rádio. Atividade prazerosa para mim, que já fui locutor de rádio. 

         Eu descia, com livros e brindes numa caixa, a escada de acesso ao meu escritório doméstico, que eu subo e desço não sei quantas vezes por dia. Chegando ao final, “o chão me faltou”. Tudo indica que “baipassei” o último degrau. Fui violentamente ao chão, com estrago enorme sobre meus pés: torção no tornozelo esquerdo e fratura no direito. Resultado: até hoje e, pelo menos até a próxima segunda-feira, estou com o pé direito imobilizado, deslocando-me, somente para ir ao banheiro, com o auxílio de muletas. Segundo o médico, passada essa etapa da imobilização, virá a fase da bota ortopédica e de fisioterapia por não sei quanto tempo. 

        Passada a fase de providências médicas, vem a “queda da ficha”. Inevitável certa revolta, nos primeiros momentos – por que agora? Não haveria outra hora para isso acontecer? Logo agora, quando estou diante da realização de um sonho acalentado por tanto tempo? E os outros projetos que me exigem plenas condições de saúde para realizá-los? – Tudo isso machuca. É uma dor emocional. Depois vem a reflexão. Meu Deus! Tudo poderia ser pior. E se o impacto tivesse repercutido sobre a minha coluna? E se eu tivesse batido minha cabeça no degrau da escada? Não. Eu não posso me revoltar. Eu só tenho a agradecer pelo não ocorrido. E como já risquei de meu dicionário, há algum tempo a palavra coincidência, como yunguiano assumido, creio no inconsciente coletivo e na sincronicidade universal, convenço-me de que foi melhor que as coisas acontecessem como elas aconteceram. 

      Essas paradas forçadas servem também, para valorizarmos mais ainda, o que temos à nossa volta. Feliz é quem tem pessoas ao seu lado. Especialmente quando, qual uma criança, você depende da ajuda de alguém, para as necessidades mais simples da vida. E os amigos que te visitam? Um verdadeiro presente de Deus. É tão gratificante você receber pessoas nessas horas. E aí você reflete sobre a importância da sua presença junto aos seus, não só nos momentos difíceis, mas também e principalmente nos momentos de celebração de Vida. E também, dedicar algum tempo de sua vida a quem não tem ninguém, os que mais precisam. Começarei por uma pessoa que, por motivos diversos, optou por não mais sair de casa e vive praticamente só. Antes, minha intenção era mandar-lhe um exemplar do meu livro. Agora, decidi. Assim que puder, vou visitá-lo e entregar-lhe pessoalmente. Tenho certeza. Ele se sentirá muito bem. E eu muito melhor. 

      Realmente. Hoje seria um dia muito importante para mim, em razão do lançamento de meu livro, que não vai acontecer. Mas esse dia está sendo e ficará marcado para mim, porque nele, eu tive uma vontade irrefreável de escrever, coisa que eu tanto gosto de fazer, mas que estava temporariamente adormecida. E se assim é, nada melhor do que compartilhar com todos a minha experiência nesses dias de “parada forçada” e de profunda reflexão. O lançamento do livro? Fica pra mais adiante. Tenho certeza: será muito melhor. 

                                                                                     Octavio Pessoa

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