sexta-feira, abril 5

SEXO, CHAMPANHE E TCHAU

Com o livro texto da peça, ao lado de Ana Cecília Mamede, Celeste e Mônica Montone, da esquerda para a direita

         

          Na minha recente estada no Rio de Janeiro, fui a algumas a peças de teatro. Uma delas, “Sexo, Champanhe e Tchau”, de Mônica Montone, despertou minha atenção, particularmente pela forma inovadora e inteligente de se tratar um assunto recorrente em peças teatrais, as crises das mulheres em busca da emancipação pessoal e profissional. 
          Sem cair no questionamento piegas dos relacionamentos afetivos, Mônica, que é psicóloga, desenvolve seu texto numa linguagem poética e bem humorada. Na singeleza do cenário, utilizando-se competentemente da comunicação verbal e gestual, são evidenciadas as obsessões causadas pelos vínculos que não se resolvem, as dificuldades subjetivas da mulher em busca da afirmação, a luta pela adaptação às responsabilidades da vida adulta, o medo do fracasso ante os desafios impostos pela sociedade.  
          É sutil o nome da personagem encarnada por Mônica na peça, Ela, que contracena com Jezebel, uma escritora emocionalmente imatura, que dá conselhos ao público no programa de que participa e nunca consegue concluir o livro que pretende escrever. A personagem Jezebel é desenvolvida com muita propriedade por Ana Cecília Mamede. A personagem Ela seria, na verdade, o inconsciente de Jezebel? O fato é que Jezebel é provocada, por Ela, a “cair na real”. E, no final da peça, uma virada interessantíssima na personagem Ela. Ela seria ela mesma?
          “Sexo, Champanhe e Tchau” é uma produção de poucos recursos cênicos. No palco, apenas bolotas de papel espalhadas pelo chão e duas cadeiras que assumem diversas funções, ao longo da peça. A trilha sonora é precisa e magistral a direção de Juliana Betti.  
          Assim, “Sexo, Champanhe e Tchau” não é uma história de amor, como enfatiza Mônica Montone, dizendo que, se fosse, “não teria virado peça e os personagens estariam juntos... ou não”.
Mônica é a autora do texto “Ser ou não ser de ninguém, eis a questão da geração tribalista”, em que criticou o hábito de sua geração de beijar qualquer pessoa, em baladas, e que circulou na Internet, como se fosse do Arnaldo Jabor.
Nascida em Campinas/SP, mas radicada no Rio de Janeiro, Mônica participou e ainda frequenta diversos recitais de poesia na capital carioca. No seu poema “Tenho Pena”, afirmou “ter pena das mulheres que não gozam” e chocou algumas pessoas ao declarar não querer ter filho, na sua crônica “Filho É Para Quem Pode”, publicada na Revista do Globo, o que a levou a falar sobre o tema, nos programas Sem Censura, Fantástico e Happy Hour.
          “Mulher de Minutos”, Ibis Libris, 2003, primeiro livro de Mônica, foi elogiado por Ivan Junqueira, então presidente da Academia Brasileira de Letras, por Affonso Romano de Sant’Anna e Marco Luchesi, dentre outros. Seus poemas fazem parte de diversas antologias poéticas e seu blog, Fina Flor, dedicado exclusivamente à literatura, é um dos mais visitados da Internet.
          Com “Sexo, Champanhe e Tchau”, Mônica estréia como dramaturga. Antes mesmo da montagem, o texto da peça já participava de ciclos de leituras dramatizadas, como os realizados nas unidades do SESC do Rio e do Festival Satyrianas de São Paulo. A obra sempre gerou entusiasmo das plateias, formada em grande parte por jovens, levando a Editora Oito e Meio a publicar livro com o texto da peça. No fim de março passado, encerrou-se a temporada vitoriosa, no SESC Casa da Gávea, do Rio. Por ora, o elenco “dá um tempo”, merecido diga-se, ante o sucesso de público e de crítica, preparando-se para percorrer outros palcos, pelo Brasil a fora.






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