quarta-feira, novembro 13

SANTARÉM E EU. EU E SANTARÉM

Retornando do Encontro das águas do Tapajós e Amazonas. Panorâmica de Santarém/PA


          Conheci Santarém na adolescência. Foi numa “embaixada”, como chamávamos aos passeios coletivos de estudantes, dos alunos do terceiro ano ginasial do Colégio Nossa Senhora do Carmo, de Parintins/AM, minha terra natal. Lembro-me bem. Viajamos no barco a motor “Carlos Mário”, do meu falecido tio Militão Paulain, pai do Mário José, meu colega de turma e companheiro de “traquinagens”.

          Uma viagem inesquecível. Fomos recepcionados em Santarém pelas alunas do Colégio Santa Clara, quando agradeci, em nome da turma, aquela calorosa acolhida. Tão calorosa que uma das alunas despertou meu amor juvenil. Coisas da paixão. A vida nos levou para rumos diferentes. Noutro dia, eu e os colegas participamos de uma festa no colégio estadual Álvaro Adolfo. O melhor mesmo foi o passeio à praia de Maria José, uma das mais belas que conheci. Em boa companhia, melhor ainda se tornou o passeio para todos.

Daniel Leite mediando o Papo Literário com Guilherme Fiuza
          Muitos anos depois, retornei à Santarém por duas vezes, em auditorias do Tribunal de Contas da União, na Prefeitura Municipal daquela cidade. Objetivo de trabalho, pouco tempo para o  lazer, mas lembro que, numa delas, que coincidiu com a festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, eu e o colega Israel da Silva Gomes fomos até a praia de Alter do Chão.




          Outros anos se passaram, já aposentado do TCU e dedicando-me agora, à literatura e comunicação, minhas origens, retornei à Santarém, como diz o Rubem Alves, no “outono da vida”. Acompanhado de minha esposa Ana Celeste, fomos participar do VI Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas, uma atividade da Feira Pan-Amazônica do Livro, promovida pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará/Secult. E também, para desfrutarmos as maravilhas da Pérola do Tapajós.

 
Voltando da Ilha dos Amores, em Alter do Chão
         
        Fiquei encantado com tudo o que vi. Uma cidade limpa, bem cuidada e estruturada, ainda sem os graves problemas de trânsito que afligem as cidades de grande porte. Um povo educado e hospitaleiro e o melhor de tudo, uma efervescência cultural impressionante. As lindas praias, inclusive Alter do Chão, o Caribe Amazônico e a gastronomia em que prevalecem os peixes próprios da região, são um caso à parte. Conhecemos grande parte dos excelentes restaurantes santarenos.

         
               Visitamos o Museu de Arte Sacra, anexo à Catedral de Nossa Senhora da Conceição, onde colhi  elementos cruciais para a pesquisa que estou realizando acerca de um tema da maior importância para a Amazônia, que redundará num documentário escrito ou um romance histórico, minha próxima obra.

Aos 93 anos, D. Dica continua produzindo

Conhecemos pessoas singulares, como Dona Dica Frazão, em seu Museu/Ateliê/Residência. Uma verdadeira artista que confecciona as mais lindas peças exclusivamente com materiais regionais. Desde singelos pequenos brindes até vestidos de noiva, indumentárias para personagens do Boi Garantido, de Parintins, sendo ela a criadora da personagem Sinhazinha da Fazenda e também, já confeccionou roupas para personalidades como a Rainha Sophia, da Suécia. De cada peça importante produzida ela faz uma réplica, para expor em seu Museu.         



Dona Dica já ganhou placas e diplomas como reconhecimento pela sua  produção, mas apoio financeiro governamental, não teve nenhum. Hoje, diversas caixas contendo peças feitas por ela, empoeiram sobre um armário, mesmo tendo espaço reservado para a exposição, pois falta-lhe condições financeiras para os equipamentos necessários. Isso tudo, mesmo sendo ela conhecida e visitada por governantes dos mais diversos naipes, do passado e do presente. Dona Dica, aos 93 anos e com as limitações decorrentes de uma queda, mantém lucidez invejável e, além de tudo, é poeta.  





Com  o Mestre Édson Berbary
Minha participação no VI Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas foi altamente proveitosa. Pessoas das mais variadas faixas etárias compraram exemplares do meu livro de crônicas “Causos Amazônicos”, cuja primeira edição de mil exemplares está chegando ao fim. Convivi com escritores e artistas paraenses, inclusive de municípios do Baixo Amazonas e também, com intelectuais vindos do sul/sudeste, como Inácio de Loyola Brandão e Guilherme Fiuza. Foi emocionante o encerramento da programação cultural do Salão, com o grupo Cia do Tijolo, de São Paulo, com o espetáculo “Cante lá que eu canto cá", um sarau literário e musical inspirado nas obras do poeta cearense Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré. 

          Outra vivência da maior importância, na minha estada santarena, foi o contato com professores e servidores da Universidade Federal do Oeste do Pará/UFOPA, que se encontra em fase final de implantação e realizará, nos próximos dias, a primeira eleição para seu corpo dirigente.

          É digno de louvor o trabalho dos implantadores da UFOPA, que criaram e desenvolvem uma Universidade na acepção mais precisa que o tempo comporta. Uma instituição que interage com os diversos segmentos da sociedade e  procura responder às demandas da realidade onde ela está implantada, preparando inclusive, mestres e doutores para atender as necessidades do Oeste do Pará. Um trabalho que merece ter continuidade.

Na segunda-feira passada, a UFOPA outorgou título de Doutor Honoris Causa ao violonista e compositor Sebastião Tapajós, músico santareno reconhecido internacionalmente. Formado pelo Conservatório Nacional de Música de Lisboa, em Portugal, Sebastião foi professor de violão clássico do Conservatório Carlos Gomes. Ao executar a obra-prima de Villa-Lobos, Concerto para Violão e Pequena Orquestra, com a Orquestra Sinfônica Nacional no Teatro Municipal do Rio teve sua carreira projetada no exterior. Detentor de sólida carreira internacional, hoje tem 50 discos lançados.









5 comentários:

  1. Octavio, irmão querido, unes a precisão de uma reportagem à poética precisa de um texto que nos emociona. Abçs. Daniel Leite

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  2. Meu irmão de alma, Daniel Leite, seus comentários sempre generosos aumentam em mim o desejo de produzir sempre melhor.
    Um abraço.

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  3. Caro Confrade Otávio Pessoa.
    Parabéns pelo merecido privilégio voltar às suas raízes, com a maturidade e experiência literária para produzir um texto envolvente como este...

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  4. Amigo Rufino, é verdade. É bom a gente retornar aos lugares da adolescência com olhos da maturidade. Um abraço, amigo.

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  5. Amigo Rufino, é verdade. É bom a gente retornar aos lugares da adolescência com olhos da maturidade. Um abraço, amigo.

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